Já aceitei que nunca serei uma pessoa popular há muito tempo, mas, mesmo assim, não posso negar que sinto um pouco de inveja de Jeongguk e dos outros que lhe cercam no momento.
Nos corredores do colégio, eles são como celebridades. Todo mundo sabe quem são, todo mundo quer ser próximo deles — ou ser como eles, talvez ser eles em si.
Temos um ranking completo de popularidade escolar colocado em uma parede num canto quase abandonado daqui; escrevem com canetinha, e apenas lavam quando as posições mudam. Estou lá pela posição seiscentos e noventa e oito, na frente de umas pessoas esquisitas, como um garoto que come insetos.
A última pessoa do ranking é Frederick Dickson. As pessoas costumam chamar o Fred de Rick Dick. A puberdade também não foi gentil com ele, e acabou com o rosto todo pipocado e está gordinho, além de ter de usar aparelho dentário.
Quem fala com o Fred cai de posição na hora, e é por isso que os amigos dele, Gina, que já não estava em uma posição muito boa por ter perdido a virgindade muito cedo, e Túlio, que até tem jeito pra ser popular, são os seguintes no fim da lista. Eles são conhecidos como a trindade da vergonha.
Estou citando isso porque, agora, quando eu acabei de me afastar de Jeongguk e estava me preparando para fazer a minha fotossíntese diária antes da aula começar, acabei presenciando, por acaso, um incidente envolvendo uns caras do time e a própria trindade da vergonha, ou melhor, um dos integrantes dela, Gina.
— Será que ela vai chorar? — um dos babacas perguntou, em tom de zombaria. Gina estava encurralada entre três marmanjos.
— Pelo bem dela, eu espero que não. — Um outro falou, rindo anasalado. — Parece uma gatinha assustada.
Acho que eles não tinham notado que eu estava observando a situação repulsiva, ou talvez tivessem visto, mas não se importavam nem um pouco, afinal, o que eu podia fazer, além de ficar olhando com cara de paisagem?
Me perguntei o que Gina teria feito para que eles agissem daquela forma. Qual pessoa faria isso com outra sem um motivo?
— Nós ficamos sabendo que meninas como você fazem qualquer coisa por dinheiro. — O terceiro babaca disse, a encurralando mais, quase a encoxando. — Que tal nos fazer um favorzinho depois da aula, uh? Nunca mais iríamos incomodar os seus amiguinhos idiotas, e você até poderia andar com a gente. Não parece uma boa troca?
Eu olhei para os lados freneticamente, fazendo orações para que alguém surgisse. A menina não merecia passar por aquilo. Mas ninguém vinha, os corredores estavam vazios, sem contar a gente.
— Ei! — chamei, me arrependendo no segundo em que os gigantes me encararam. Meu Deus, o que foi que eu fiz? — Não deviam fazer isso com ela, ela visivelmente não quer.
— Não quero m-mesmo! — Gina se pronunciou, e percebi que ela estava realmente chorando.
Engoli em seco, era aquela garota ou a minha expectativa de vida de noventa e dois anos. Eu tive que escolher, e espero, de coração, que eu tenha tomado a decisão certa quando optei por permanecer ali.
— E o que você vai fazer, hein, china? — riram do apelido usado. — Será que vai chamar o papai aqui? Ou quem sabe vá chamar um advogado? Oh, você não pretende voltar pro Japão com a vadia aqui, não é?
E foi naquele momento que eu abandonei a ideia de ter uma vida saudável — ou sequer uma vida —, minha avó me mataria se soubesse que abaixei a cabeça pra uma pessoa desse tipo, e morrer nas mãos de alguém como ela era mil vezes pior do que enfrentar uns valentões.
— Primeiramente — algumas pessoa entraram no corredor naquele exato momento, mas não era agora que eu ia me calar —, meu pai é sul-coreano! Não é japonês, não é chinês, é sul-coreano! Vocês são burros pra caralho, mas com certeza devem ter capacidade suficiente pra saber diferenciar. — Respirei profundamente. — E não, eu não vou pro Japão com a Gina, mas vocês deviam gastar o tempo de vocês indo a pé pra lá ao invés de tentar convencer uma garota a fazer coisas que ela não quer! — eu falei tão depressa que, quando parei, estava ofegante. Em vez de sangue, tinha adrenalina correndo pelas minhas veias, quem sabe eu saísse vivo dessa. — Inferno!
— E é por isso que eu gosto do Jimin, Taehyung. — Essa voz… não era possível, não podia ser! Por que ele estava lá? Ele não devia estar com o grêmio estudantil, ou com a diretora, ou com qualquer pessoa que não fosse do time? — O que lhe falta em altura, ele compensa com outras coisas.
— Então ele compensa bastante. — Uma garota disse, fazendo os outros rirem.
— É sério isso? — cuspi as palavras com ódio, ainda sob efeito da adrenalina, e depois me voltei para os desgraçados e Gina, que ainda estava rodeada por eles. — Vem Gi, vamos embora. Você não é a mais popular, mas sem dúvida é a com mais cérebro, e, cá entre nós — olhei para a garota que tinha feito a piada, rindo anasalado —, pra me criticar, você tem que ser melhor que eu, viu?
Andei tranquilamente, já com a certeza de que ia sobreviver, abrindo uma passagem para Gina. Começamos a andar lado a lado, sem dizer nada, mas olhei por cima do ombro uma última vez para dizer algo importante.
— Bom primeiro dia, hyung.
— Obrigado. — Yoongi sorriu de lado, e eu sorri de volta, passando os olhos pelos demais e vendo o quanto estavam surpresos.
Assim que saímos do alcance do ponto de vista deles, a minha ficha começou a cair, e percebi o quanto isso ter acontecido era terrível para mim.
Aqueles caras poderiam querer vingança mais tarde, e Jeongguk nem sempre está por perto para me dar uma ajuda nesse sentido.
Mas havia algo me incomodando um pouco mais no momento… O fato de Yoongi estar junto de Taehyung Kim.
Não sei explicar, mas vê-lo lado a lado com alguém como Taehyung me deixou um tanto estressado. E acredite, eles estavam bem próximos, até pareciam íntimos.
O que mais me preocupa é que eu sei que Jeongguk jamais teria apresentado eles, então um dos dois puxou assunto com o outro porque simplesmente quis.
Não posso conter um suspiro ao pensar nisso.
Espere. Eu disse preocupa?
— Jimin, você está bem? — Gina me perguntou, me tirando do vendaval de pensamentos. Esse é um bom sinal, eu continuo pensando.
— Sim, estou, e você? — o sinal para as aulas tocou, me despertando completamente.
— Aham, graças a você! — ela sorriu. Gina tinha um sorriso perfeito, de dentes branquinhos que contrastavam com o vermelho de seus lábios carnudos.
Eu me lembro bem de quando a notícia de que ela tinha perdido a virgindade correu por aí. O namorado a deixou depois de uma semana, porque, vejam essa, não aguentou mais ser aquele que anda de mãos dadas com a garota que todos chamavam de vadia — e, inclusive, a chamavam assim porque ele tinha sido um boca grande e espalhado pra todo mundo que eles tinham transado. Um pouco desse ocorrido, o Frederick fez amizade com ela.
— Eu só fiz o certo, madame. — Brinquei, fazendo uma reverência de cavalheiro. A garota tinha acabado de passar por uma situação horrível, eu me sentia na obrigação de fazê-la rir, e consegui isso.
— E eu agradeço. — Ela disse, ficando um pouco tímida. — Você estava em desvantagem e mesmo assim me defendeu, eu sou profundamente grata, Jimin Park, de verdade. Estou te devendo um favor!
— Quê? — ri. — Não precisa, Gi. Como eu disse, aquilo foi um ato de humanidade e companheirismo. — Sorri. — Pode seguir tranquila, sem se preocupar com isso.
— Você é um amor, Park. — Me deu um beijo na bochecha, rindo em seguida, e começando a andar rumo à sala onde teria aula agora. — Obrigada, de novo!
Sabe, talvez isso baixe a minha já baixa posição no ranking de popularidade, mas talvez eu devesse dar menos importância para essas coisas...
VOCÊ ESTÁ LENDO
yellow list | yoonmin
Fiksi Penggemar[CONCLUÍDA] No outono de 1999, durante um breve recesso escolar, Park Jimin conheceu Min Yoongi, o filho mais velho de uma família bastante problemática ㅡ e seu mais novo vizinho. Sendo a própria definição daquilo que chamavam de descolado, Yoongi p...