Ele
Um ai! agudo e arfante preenche seus ouvidos de repente. De onde veio isso? Olha para seus dois lados e não encontra nada. Franze a testa, frustrado. Será que imaginou? Realmente precisa descansar quando chegar em casa... Tanto trabalho está sendo estressante.
Agora uma respiração descoordenada e baixa adquire sua atenção. E ele finalmente olha para baixo, se deparando de súbito com um garotinho magrelo e cabeludo, que tira as mechas claras e cacheadas dos olhos para poder enxergá-lo melhor. Não foi à toa que eles se trombaram, o menino precisa de um corte.
-- Me desculpe, senhor. -- fala rápido e com um sotaque carregado. Ainda está no chão asfaltado, tentando se levantar. -- Eu não vi você.
-- Acredito em você. Está tudo bem. -- garante, lhe estendendo a mão. O pequeno a agarra com força, erguendo-se do chão. -- Eu machuquei você?
-- Não. Eu sou duro na queda.
Isso o faz sorrir um pouco.
-- Que bom.
-- Eu sou o Ben. -- O menino se apresenta, a mão franzina está elevada para um cumprimento formal. O mais velho a aperta fracamente; tem medo de feri-lo sem querer. A criança é tão magra que um vento pode levá-la, imagine um aperto forte de mão, com certeza pode quebrar seus ossos.
-- Ben de Benjamin? -- questiona. Há um Benjamin na cidade, pelo o que se recorda, mas tem certeza de que ele é bem mais novo. Ou será que já cresceu tanto assim?
Ele nega com um aceno. O cabelo em espirais balança com o movimento.
-- Não. Ben de Ben mesmo.
Agora o mais velho da dupla meneia a cabeça.
-- Eu não conheço você... ou conheço?
Ben solta um riso. Sua risada é rápida e até engraçada, lembra a dele próprio quando criança.
-- Com certeza não. -- responde, desta vez apontando para a cachoeira. -- Dá para visitar?
-- Sim. A trilha é de fácil acesso. Tem mais duas cachoeiras por ali.
-- Uau. Nunca fui numa cachoeira antes. Só à praia.
-- E eu nunca fui à praia.
Ben abre um sorrisinho.
-- Você não está perdendo nada. É cansativo e entediante. -- O menino vira o corpo, visando a Alvorada dessa vez. -- E aquilo é uma fábrica?
-- Sim, é da minha família.
-- Maneiro! -- diz, empolgado. Os olhos escuros se esbugalham de curiosidade. -- O que vocês fabricam?
Ele não se contém e ri. O menino lhe lembra demais ele mesmo; é curioso, astuto e extrovertido. É como se estivesse conversando com seu eu criança.
Está se sentindo muito nostálgico desde manhã, quando Bruno o abraçou. Passara a tarde relembrando de coisas que vivera quando criança com o irmão. E agora que esbarrou em Ben, tudo volta num segundo para sua mente.
-- Laticínios em geral.
-- Dá para visitar a fábrica também?
-- Bom, nunca fizemos isso, mas se eu falar com meu irmão, acredito que seja possível.
-- Legal. -- O dedo minúsculo agora aponta na direção oposta. -- Aquela ponte em vigas é o único modo de entrar e sair da cidade?
-- Sim. Estamos estudando construir outra mais reforçada.
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#1 - Antes Que Você Vá - Disponível na Amazon
RomanceVivian Magalhães, uma talentosa designer gráfica, teve seu coração estraçalhado pelo ex-marido, que a deixou de repente para morar com a amante. Sem dinheiro e emprego, se virou para cuidar sozinha do filho Ben, contando com a força de sua irmã, a p...