Vinte e Seis

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Ela

A ponte finalmente foi reinaugurada ontem, terça-feira. Pelo que Dante me contara via mensagem, a prefeitura (junto com Bruno e mais algumas das figuras importantes da cidade) fez de tudo para que não demorasse muito a finalização do projeto, já que todos dali dependiam que ela estivesse de pé logo. A economia da cidade meio que girava em torno disso, e a população estava impaciente, reclamando dos prejuízos que estava tendo. O movimento na estrada e no centro do município aumentara significativamente nos últimos três dias pelo que eu pude perceber, e infelizmente, mal vi Dante, pois ele estivera ocupado fazendo entregas de laticínios pela região.

Cami, que desde segunda-feira passa o dia no escritório da Alvorada, descobrira através de alguém de lá que na cidade vizinha há uma loja gigante de acessórios de informática, home-office e papelaria, e me pediu para ir com ela hoje. Pretende comprar algumas coisas que nunca achou por preço bom na capital.

Enquanto minha irmã se arruma no quarto, converso com Dante por ligação. Ele me explicara minutos atrás como chegar na tal loja de ônibus e os horários que eles param no ponto perto daqui, que fica pouco depois da ponte.

–– Se precisar de carona, me liga –– fala. De fundo dá para ouvir uma canção do Bryan Adams tocando. Heaven, uma das minhas preferidas. –– Eu busco vocês.

–– Você nem devia estar falando comigo enquanto dirige, em primeiro lugar. –– digo com um sorriso, observando minhas unhas. Droga, preciso urgentemente de uma manicure. –– E você não é meu motorista particular, Dante. Você tem seus afazeres. Não gosto de te incomodar.

Ele ri alto. O som do seu riso faz meu coração dançar hula-hula instantaneamente.

–– Qualquer chance de estar com você é muito bem-vinda. O que acha de sairmos na sexta, depois de amanhã?

Mordisco o lábio inferior, tentando conter o sorriso que quer se alargar. Como é que ele consegue fazer eu me sentir assim só com algumas palavras, como se eu estivesse flutuando nas nuvens?

Dante é bom demais para ser real. Às vezes tenho a impressão de que ele é fruto da minha imaginação, que se eu levantar a mão e tocá-lo, ele vai sumir por entre meus dedos como fumaça.

–– Sexta está ótimo. –– respondo.

–– Chego aí às oito. Preciso ir agora.

–– Eu também. Até mais.

Nós finalizamos. Ergo-me do sofá e vou ver o que Ben está fazendo. Encontro-o com Ana Júlia na cozinha, ajudando-a, secando e guardando os pratos lavados por ela.

–– A gente vai dar um passeio pelo parque daqui a pouco –– conta minha amiga. –– Tô pensando em alugar uma bicicleta para carregar o Ben por aí.

–– Ainda bem que ele é leve. –– Viro para olhá-lo. –– Obedeça a tia Jú. Se comporta.

–– E quando eu não me comporto, mamãe? –– devolve, e vejo um fantasma de sorriso se materializando nos seus lábios.

Sorrio. Ele com certeza está certo. Ben, graças a Deus, quase nunca me deu trabalho em nada.

–– Vamos? –– Cami adentra o cômodo apressada, colocando uma mochila nas costas. –– Ainda preciso voltar até à fábrica mais tarde.

Dou um beijo na testa de meu filho e sigo minha irmã porta a fora, andando lado a lado com ela por entre as ruas do pequeno centro. Topamos com alguns "conhecidos" e acenamos de volta. Esse lance de viver em cidade do interior realmente é algo que curto. Tirando as fofocas, é um bom lugar para morar. Bonito. Tranquilo. Seguro. Com moradores tipo o Dante, Paulo, Rui e Bruno, que são um espetáculo...

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