Vinte e Oito

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Ela

Acredito que minha aparência esta noite está de acordo com o que eu pretendia desde o início, pois Dante não esboça nenhuma reação há um bom tempo. Os olhos castanho-claros me examinam minuciosamente dos pés à cabeça por algumas vezes, incendiados de luxúria e admiração.

Acrescento que meus olhos provavelmente espelham o mesmo tanto de desejo e êxtase ao vê-lo tão belo, com um terno de corte italiano ajustado perfeitamente em seu corpo atlético e os cabelos cor de areia penteados para trás. Me mantenho firme e ereta, com os ombros para trás e a cabeça erguida, disfarçando o arrebatamento que faz meu coração dar piruetas no peito. Estou tão irrequieta por dentro que mal consigo me conter.

Ele limpa a voz e se recompõe quando Ben o empurra de leve.

–– Ela tá linda, né? –– pergunta meu filho olhando-o de baixo.

–– Nem consigo descrever o quanto. –– Ele usa um tom preciso, sem desviar o olhar abraseado do meu. –– Você está absolutamente deslumbrante, Vivian.

Quase consigo sentir faíscas saídas de seu coração vindo diretamente para mim, me envolvendo com carinho e afugentando meus receios.

–– Posso dizer o mesmo de você. –– sussurro, lutando para que minha voz soe despreocupada e equilibrada.

–– Se vocês se gostam tanto como dá claramente para qualquer um perceber, por que não casam logo? –– Ben simplesmente questiona, olhando de Dante para mim, com um sorrisinho de satisfação lhe delineando os lábios.

Meu rosto queima na mesma hora e todo controle que me esforcei para manter desaparece num passe de mágica.

Ana Júlia e Camila riem na cozinha em alto e bom som, o que só piora meu embaraço. Por que eles gostam de me torturar tanto?

–– Não é tão simples assim, Ben –– Dante lhe responde meio sem jeito, com as bochechas tão vermelhas quanto meu vestido.

–– Claro que é. –– fala meu filho, calmo, cruzando os braços. –– Vocês adultos adoram complicar tudo.

–– Um dia você vai entender que não é tão simples. –– retruco, resoluta. Cravo meus olhos nos dele. –– Chega desse assunto.

–– Trouxe algo para você. –– Dante se recupera do baque, vai até a garagem e volta em menos de cinco segundos, segurando uma cesta de vime em tamanho médio. Ele se aproxima e me entrega o presente. –– Espero que goste.

Arfo, tão comovida que quase derreto.

Ele se dera ao trabalho de me comprar um box de livros. E não é qualquer box, mas sim um que eu quero há meses, rodeado de bombons de diversos tamanhos.

–– Como você sabia? –– inquiro, pegando um dos três livros do box Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe, e vendo sua textura firme, apreciando a linda capa dura.

–– Tive uma ajuda especial. –– Ele pisca para Ben, que sentara no sofá. –– Era isso o que estávamos cochichando aquele dia.

–– Obrigada, Dante. –– digo com emoção. –– De verdade.

–– Pensei em trazer flores, mas elas duram pouco tempo. Já livros não; eles podem durar por toda uma vida.

Assim como o que sinto por você, penso rapidamente, um tanto surpresa constatando que...

–– Talvez mais. –– Trancafio o pensamento no fundo da mente sobre a palavra que começa com a letra A. Não pode ser possível. Não em tão pouco tempo. Deve ser apenas o calor do momento que me deixara mexida. Só.

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