01 - Comemoração

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Hoje não é um dia tão especial quanto deveria ser.

Meu nome é Luara, mas acho que ainda existem pessoas que nem sabem disso, minha mãe é a única que me chama dessa maneira. Ela às vezes faz discursos quando faço alguma estripulia acho que aprendeu pela convivência com meu pai, afinal ele é o prefeito desta cidade. Ele é o responsável por ninguém me chamar de Luara, desde que era bebê nunca me apresentava assim, me deu apelido de Lua por toda noite ter acordado todos da casa com meu choro ensurdecedor, sem contar que acha mais fácil me chamar por esse nome e já decorei um dos melhores discursos dele:

"Eu era um homem escuro como a noite... Queria ser como o dia, mas não havia um sol que pudesse me despertar, eu era como uma noite de inverno, no meu caso era uma noite eterna. Então você chegou para me tirar do escuro e por mais que minhas noites fossem tão longas não estaria perdido, você trouxe o que faltava em mim. Todo esse tempo você estava na fase minguante, estava chegando para mim, por isso a escuridão, por isso não havia luz. Quando chegou se fez nova como uma criança começando a engatinhar com um novo brilho. Agora está crescendo do seu modo, devagar, no seu tempo, porém para mim é como um segundo. Um dia se tornara grande, cheia... Cheia de amor, de inteligência, de habilidade, de caráter... E um dia irei ver você minguando novamente para longe de mim ou estarei longe em outro mundo talvez, irei te perder para que possa seguir sua rotação."

A maioria dos discursos não suporto este é para mim e sinceramente é o único que gosto de tanto ser dito já sei cada palavra. Ele é meu pai e o amo com discursos ou sem discursos. Nossa família é unida, embora seja pequena, minha avó e meu avô morreram antes do meu nascimento, eles eram um casal apaixonado isso que as fotos antigas demonstram. A família por parte da minha mãe não é muito grande tenho duas tias que moram em outra cidade e mais um tio por parte do meu pai que também não mora perto.

Vivo em uma casa que fica no centro da cidade e por mais que meu pai seja um prefeito esta casa não é nenhum tipo de mansão, por fora é pintada com um tom de branco gelo, não gostei muito, porém a minha mãe achou clean e as grades dos portões foi pintado de preto, há três quartos e mais um em construção e o outro com coisas inúteis, um escritório, jardim enorme, uma piscina... A casa acaba se tornando grande por não ter tantos espaços preenchidos.

Nataly a minha melhor amiga sempre esteve comigo, já brigamos durante oito anos de amizade, fizemos promessas de não brigar e como duas amigas voltamos a brigar novamente. Ela é a única garota que posso chamar de irmã improvisada, embora eu conheça muitas pessoas graças à reputação do meu pai, é a única que sabe de verdade os meus defeitos, minhas qualidades, minhas manias, as outras pessoas só veem o meu ser superficial não sabem quem realmente sou.

Hoje não é um dia tão especial, é apenas o meu aniversário. Olhando meu reflexo no espelho, vejo uma menina de cabelos castanho claro ondulados que estão soltos e não são muito longos, sou branca como o meu pai e mesmo com as minhas tentativas de se bronzear só serviu apenas para me deixar toda vermelha, vejo uma garota normal como todas as outras, mas todos me tratam com diferença e este dia não iria ser à exceção.

– Luara. – O sorriso da minha mãe estava de canto a canto, seu cabelo castanho claro longo estava meio solto e meio preso a deixando um pouco diferente do normal, eu era mais parecida com ela, tenho o mesmo formato do rosto oval e de seus olhos castanhos.
– Oi mãe, pode entrar! – Digo levantando da cadeira e ela chega mais perto.
– Nossa, você está muito linda! – Ela me encara. – Parabéns querida!
– É a quinta vez que você me diz isso hoje, são apenas 18 anos. – Digo sendo chata.
– Posso entrar? – Nataly entrou antes mesmo de bater e na verdade não precisa já me acostumei.
– Claro. – Falei inutilmente. – Novidades? – Puxo assunto com ela enquanto procuro os meus brincos na penteadeira.
– Você perdeu um partidão! – Ela se refere ao carinha que não me dei bem no jantar familiar que aconteceu em minha casa, hoje é a primeira vez que a vejo e é claro que ela não iria deixar de me contar os detalhes do que estava acontecendo.
– Do jeito durão e machista que ele é... Eu nunca que iria gostar dele. – Digo e me viro para ela.
– Verdade, só conversamos um pouco e nada a mais. – Nataly falou sentando na minha cama e ela não se importava em falar essas coisas na frente da minha mãe. – Queria saber se já estava arrumada. – Nataly fala e sei que está um pouco impaciente.
– Sim, já terminei. – Ainda colocava o segundo brinco e este era o último detalhe.
– Deveria ter começado a se arrumar mais cedo. – Minha mãe diz, não como uma bronca, porém ela sempre me adverte em relação aos meus atrasos que já passam despercebidos.
– Oi. – Meu pai diz entrando no quarto.
– Vou descer. – Nataly sai provavelmente indo para a sala de jantar acabando com o assunto anterior.
– Vou com Nataly, não demorem. – Minha mãe nos avisa.
– Quem diria que iria crescer tanto, me lembro quando era pequena uma criança atrevida que mexia em tudo, quando era bebê chorona.
– Nem me lembro de todas essas coisas. – Sorriu para ele e sei que vai continuar e como não podemos demorar mais digo interrompendo-o: – Temos que ir.

A Outra Face da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora