19 - Retomada

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Depois que guardei o celular da minha mãe tento dormir, a viagem foi muito longa e cansativa, estou olhando para o teto enquanto milhares de pensamentos começam a povoar minha mente, ainda bem que consegui dormir apesar de ter levantado quatro vezes, por causa de alguns sonhos nada a ver ou pela ansiedade, o fato é que estou em casa e estou muito contente por isso.

É inevitável não pensar em qual pergunta farei quando ver o meu pai e todas se tornaram clichês depois de ter pensado tanto, uma coisa que sei é que não posso gritar, fazer um escândalo, estou tão chateada que se ele não fosse meu pai juro que faria esse tipo de coisa.

Ainda está muito cedo quando passo pelo quarto da minha mãe, abro a porta tentando não fazer barulho e vejo que ela ainda está dormindo. Vou para a cozinha e procuro comer alguma coisa, olho no relógio e os minutos não querem passar.

Volto para o meu quarto e já decidi que até amanhã darei um jeito de ver Nataly, pego meu notebook, fico escutando minhas músicas prediletas e vendo algumas fotos antigas, tudo está como deixei.

                                                                                         ***

– Lua? – Escuto alguém me chamando, quando abro meus olhos tomo um pequeno sobressalto ao ver meu pai, logo atrás vem minha mãe sorrindo enquanto ele aparece contente.
– Oi. – Digo desajeitada levantando, ele vem ao meu encontro e me abraça, penso em recusar ou não corresponder, minha mãe está nos encarando o que me faz ter que abraçá-lo, porém não na mesma intensidade. Ele olha nos meus olhos e me encara como se estivesse me revistando talvez porque ainda não caiu a fixa de que consegui voltar. – É eu voltei. – Digo friamente e com um pequeno sorriso de triunfo no rosto.
– Acho que temos muito que conversar. – Ele diz passando as mãos pelo meu cabelo.
– Mãe, a senhora pode nos deixar a sós? – Digo sendo carinhosa.
– Claro. – Ela diz um pouco relutante, pois queria ficar.
– Estava sentindo tanto a sua falta filha. – Meu pai diz assim que minha mãe bate a porta do quarto.
– Sabe o que é Mitridias? – Digo sendo meio severa e ele muda de expressão totalmente. – Você sabia que fui para lá!
– Sei o que é Mitridias e eu não tinha certeza. – Ele diz como se estivesse confuso o que me irrita.
– Deixou que eu ficasse em Mitridias. – Argumento, acusando-o.
– Não, não é isso! – Ele diz se afastando de mim e ao mesmo tempo procurando palavras para justificar o porquê demorou para não me encontrar.
– O que é então? Tem alguma desculpa para essas coincidências? – Digo com a voz mais alterada.
– Não sabia que tinha ido para Mitridias. – Ele reafirma.
– Como não? Você é um dos organizadores de lá. – Dou de ombros ficando nervosa.
– Eu era. – Ele diz tentando explicar que não faz parte daquilo. – Agora tenho certeza que te levaram para lá porque está me falando tudo o que aconteceu.
– Não faz sentido. – Protesto ainda não entendendo.
– Eu pensei em várias coisas sobre o seu sumiço, pensei que tivesse ido por conta própria, pensei que fosse algum suposto inimigo político, pensei que fosse ladrões que um dia iria ligar pedindo regaste, fiquei desesperado, chorei e é claro que pensei em Mitridias, até porque Bianca a outra menina desapareceu como você, meu irmão pensa que eu e Clara a mãe de Bianca iríamos denunciá-lo, fazer algo desse tipo para tirar ele do poder. Então ele tirou você de mim como uma garantia de que eu não fosse acabar com o negócio dele.
– Se suspeitou, por que não me tirou de lá? – Digo ainda frustrada, no entanto fico controlada, pois não quero briga.
– Eu não tinha recursos para fazer isso, Lua.
– Não podia perguntar a Oliver? – Pergunto com desdém.
– Não! Eu saí de lá, meu irmão não quer mais nem ouvir meu nome, ele é louco Luara! E olha o que ele fez!
– Não sei em o que acreditar. – Digo sentando na cama tentando organizar meus pensamentos tentando ver uma saída, algo plausível.
– Eu posso te provar se quiser. – Ele diz e olho nos olhos dele para tentar achar algum vestígio de mentira.
– Como?
– Indo contra Mitridias, sei que já existem investigações sobre todo aquele sistema, procurando provas de que foram corruptos. – Vejo que se ele não fizer isso nunca irei ficar em paz com todas essas dúvidas e sou mais uma a querer aquele lugar destruído.
– Ótimo. – Digo admitindo para mim mesma que é a única saída. – Kenzo estava investigando você e a Mitridias, tudo que envolve aquele lugar.
– Já desconfiava que isso fosse acontecer, admito que nunca pensei que fosse Kenzo. – Ele parece um pouco pasmo. – Assim que eu conseguir conversar com Clara, entregarei todas as provas, todo os documentos que provam os dinheiros desviados e outras coisas.
– Minha mãe sabe sobre Mitridias? – Indago, levantando da cama.
– Não. – Ele diz e também nega com a cabeça.
– Prepare-se para contar a ela. – Afirmo, como se fosse uma ordem e lembro que nunca falei nesse tom com meu próprio pai.
– Tudo bem, depois do que aconteceu não tem como esconder mais nada.
– Sabe o que aconteceu com o filho de Depp? – Pergunto, agora menos defensiva.
– Infelizmente não, porém há chances dela está viva.
– Dela? – Indago ao assimilar o que ele acabara de falar.
– Sei que era uma menina, não tive mais notícias sobre a criança na época. – Ele fala e por uns segundos ficamos em silêncio.
_ Recebeu o meu e-mail? Contando que estava bem?
_ Sim, até te respondi, aquilo foi o que nos acalmou um pouco mais, saber que você estava bem.
– Por favor, me deixe sozinha por enquanto?
– Tudo bem, irei contar a sua mãe hoje mesmo.

A Outra Face da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora