08 - Miras

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Meus olhos estão pesados como se houvesse dormido por anos, tudo é claro ao meu redor menos minha mente, é como se estivesse voltada apenas para a escuridão, estou deitada e ao longe escuto vozes, elas não estão distantes quanto imagino e até minha imaginação falha neste momento.

– Ela tem uma saúde excelente, podemos usá-la para vários departamentos. – Uma voz feminina diz.
– Acho que ela tem uma boa resistência. – Soa uma voz conhecida.
– Então já podemos começar as atividades normais. – Ela conclui.
– Mas já? Há processos de adaptações. – Alguém fala reconheço que é a voz de Joe queria muito não acreditar e no fim realmente é ele.
– Não estamos com muito tempo para adaptações e explicações e conclusões, temos que integrá-la, essas foram ordens passadas para mim.
– Por quê? – Ele indaga.
– Porque quem tem poder manda, quem tem juízo obedece. – Ela responde rispidamente.
– Desculpa. – Ele fala como um garoto abandonado.
– Tudo bem, só não ande por aí querendo saber das mil coisas que acontecem no mundo até porque não vai conseguir.

Provavelmente a garota que será adaptada sou eu, queria muito saber como isso acontece e o melhor de tudo como vou conseguir fugir antes disso acontecer. Joe ressurgiu na minha direção e mexe em alguns equipamentos de médico, o observo porque não tem nada para fazer além de ficar parada, poderia fechar os olhos e fingir qualquer coisa melhor que isso, talvez um show de rock ou um pôr do sol. Estou no mesmo consultório de antes, luzes grandes e brancas no teto, macas, algumas prateleiras em uma parte do consultório com alguns remédios como fica nas farmácias, porém ao redor tem um vidro e é fechado com um cadeado.

– Vamos? _ Joe interrompe os meus pensamentos.

Ele me chama agindo como se o ocorrido de ontem não existisse, sinto um pouco de vergonha por ter feito aquilo, o sigo sem pronunciar nenhuma palavra e tento destruir meu orgulho a cada passo que dou, quero perguntar sobre a conversa com a doutora Íris. Quando passamos por algum corredor percebo que há câmeras, presto atenção em Joe, respiro fundo para não chorar e para não ter que repetir o episódio anterior.

– Quais são as adaptações? – Pergunto sem olhar para ele.
– São atividades que você vai aprender quando chegar o momento, cada instrutor vai te auxiliar.
– Só isso? Por que não me avisa antes e fica com essa palhaçada?
– Não é você quem manda aqui, nem eu, então quando for o momento certo saberá o que fazer, eles sempre ditam o que deve ser feito.
– Eles quem? – Joe abre uma porta para mim.
– Os donos desse lugar.

Ele vai embora me deixando plantada na porta de um quarto qualquer, poderia correr atrás dele, mas meu orgulho não deixa e sei que agora não é o momento para fugir. Quando olho para o quarto tem uma cama diferente do tipo uma em cima da outra e uma garota deitada, quase dou um enfarte e novamente tento me controlar.

Ela senta e depois pula da cama sutilmente o impacto mal faz barulho no chão, seus olhos ficam cravados nos meus, a garota ruiva que vi antes está diante de mim, tento não me intimidar e não sei se isso está funcionando começo analisar e ela faz o mesmo, somos como duas onças preste a se atacar e tudo que resta é um silêncio inquietante entre nós.

– Oi. – Digo timidamente e com a voz falhada, me odeio por isso.
– Oi, eu sou Rose. – Ela diz cruzando os braços e percebo que sua voz é muito linda do tipo rouca.
– Meu nome é Luara. Mas se quiser pode me chamar de Lua.
– Prefiro Luara, não sou de ficar com intimidade com todo mundo.
– Entendo perfeitamente. – Ela sobe novamente para a cama e fico a observado quando seu olhar se volta para mim, tento disfarçar indo deitar também.

Quando deito na cama de baixo a porta se abre e uma guarda a chama, Rose lança um olhar de soslaio ignoro fingindo roer minhas unhas. Essa garota é toda desconfiada e eu também, imagino que podemos estar na mesma situação ou o objetivo dela é me espionar e já não sei o que pensar. Não sei se a aproximação é a melhor opção, resolvo deixar meus instintos falarem por mim, o problema é que toda vez que os sigo acontece algo muito errado na minha vida.

A Outra Face da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora