CAPÍTULO CINCO

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ELAIN DONOVAN

O refeitório não está cheio. Sento em uma das mesas vazias e aprecio meu café da manhã. Vários homens já substituíram os vigias na muralha e os que foram liberados estão descansando. Como faço parte dos guardas do castelo, minha rotina me dá direito à um silencioso e calmo desjejum. Aprecio a torrada, mas me servir faz com que meu olhar se direcione para os nós dos meus dedos. Estão vermelhos e marcados.

Suspiro. O que Haddon estava pensando? Tentando ser o herói de alguma donzela que ele via em mim?

Não havia nenhuma donzela em mim desde que ingressei para a Guarda, tantos anos atrás. Não desde que deixei minha família e meu lar para servir ao Reino.

Estou bebendo o chá morno quando Haddon aparece. Seu rosto está uma bagunça e seu lábio parece cortado em duas partes. Abaixo os olhos, envergonhada.

Ainda estou irritada com o comportamento dele, mas me sinto mal pela violência que usei contra uma das poucas pessoas que sente algo como respeito por mim.

— Você parece péssimo. – Comento, enfim erguendo os olhos.

— Me sinto péssimo. – Ele diz simplesmente, mordendo a torrada e me encarando.

— Se é um pedido de desculpas que você está esperando...

— Não quero pedido nenhum.

— Ótimo, porque eu não pretendia oferecer. Eu não quero que você ache que eu preciso de sua proteção. Eu me dei muito bem nos anos que estive aqui. Sozinha.

— Nunca questionei isso. Eu só queria uma luta. – Dá de ombros novamente e continua comendo, como se estivéssemos falando da troca de guardas.

— Não sou frágil e nem vou quebrar se levar uns sopapos. Você não vai se meter em todas as minhas brigas. – Continuo falando porque aquele silêncio entre nós parecia diferente do usual.

— Respeito isso, Elain. – Mais silêncio. Ele continua: — Mas é tão ruim que alguém queria proteger você? Mesmo que seja de si mesma?

— Eu não preciso de proteção. Sou forte o suficiente para fazer isso sozinha. – Espalmo minhas mãos sobre a mesa e digo tudo com firmeza.

— Compreendo. – Ele diz, mas fico com o sentimento de que ele compreendeu algo bem diferente.

Como uma teoria que ele vinha criando e foi comprovada pelas minhas palavras.

— Bom. – Digo.

— Bom. – Ele ecoa e eu estreito os olhos.

Meus instintos me dizem que não nada de bomvindo.

Acima da FraquezaOnde histórias criam vida. Descubra agora