ELAIN DONOVAN
Três dias se passaram desde o fim da competição. Três dias com a minha companhia silenciosa. Seu nome era Lucinda, descobri conforme ela o escreveu no papel.
Haddon veio me visitar apenas uma vez. As coisas não saíram bem e ele não apareceu mais. Melhor assim.
Estou explicando para Lucinda que eu estou melhor e ela está fazendo vários sinais. "Cuidado", "remédios" e o que eu considerei "esperar" estavam entre eles. Aprendi muito sinais com ela, mas a comunicação ainda era difícil. Não percebi que sentia falta de companhia feminina até estar com ela.
Não digo que meu coração vai se partir quando ela se for.
— Hoje é a nomeação. Eu acho que estou bem o suficiente para ficar em pé por algumas horas. — Mais sinais. — Você quer ir? Não vejo porque seria um problema... Vai levar remédios? Não acho que vai ser necessário. Ok. Ok.
Dou uma risada para a efusividade com a qual ela faz os sinais. Minhas costelas doem com a ação, mas não deixo que Lucinda perceba. Ela está arrumando uma bolsa de lado com pomadas e poções. Ela deve achar que eu vou desmaiar no meio da cerimônia. Talvez eu faça isso.
Vou até a tina. Minha aparência está horrível e o cinza dos meus olhos nunca pareceu tão morto. Suspiro e lavo o meu rosto, aproveitando a sensação da água, mas detestando a dor que sinto ao movimentar os braços. Lucinda se aproxima e confere meus ferimentos.
Ela é muito talentosa, mas nenhuma magia poderia curar a cicatriz do corte profundo que se abriu na minha têmpora. É uma marca esbranquiçada, pequena, mas com tamanho suficiente para fazer com que minha companheira se sinta culpada.
— Não se preocupe. Cicatrizes são marcas de honra entre os soldados. — Rio com a expressão indignada que ela faz. — Vamos, vamos. Me deixe colocar meu uniforme.
Estou abotoando os últimos botões quando penso no meu cabelo. Com a situação do meu corpo, jamais conseguiria fazer uma trança. Deixo as madeixas soltas. Lucinda observa, mas não comenta nada.
— Já estou pronta.
Saímos do quartel.
*
A nomeação será na Sala do Trono. Todos já estão lá, reunidos, aguardando a chegada da Rainha e do Chefe da Guarda.
Me posiciono em um canto do salão, Lucinda em meu encalço.
James também já chegou. Seu rosto está cheio de hematomas e um dos braços está enfaixado. Meu coração se alegra ao perceber que alguns daqueles machucados foram feitos por mim. Ele me olha com raiva e depois lança a mesma expressão para Lucinda. Sei que está ligando minha aparência saudável à curandeira do meu lado. Faço-lhe um gesto obsceno e ele se aproxima.
— Espero que saiba que isso não vai ficar barato. – Ele fala de modo que apenas eu escute. Um calafrio sobe pela minha espinha, mas mantenho uma expressão debochada. — É sua culpa que essa não seja a minha nomeação.
— Arranjando desculpas para o fracasso, James? Sejamos melhores perdedores.
Sou poupada de uma resposta com a chegada da Rainha. Com muita dificuldade, me coloco sobre os joelhos. Ela pede que nos levantemos e tenho que controlar um pouco a respiração pelo esforço. Lucinda coloca as mãos nas minhas costas, me dando apoio. Talvez eu não estivesse tão bem assim.
Sua Majestade faz a abertura da cerimônia. Em seguida, chama Haddon e o Chefe da Guarda, que em breve vai perder seu título. Todos observamos em silêncio enquanto a Rainha tira o broche de um homem e coloca no outro. Com uma espada, ela libera um de seu dever. Com uma espada, ela prende o outro a ela e à Dundeya.
Haddon se vira para o salão depois que as benção e promessas são proclamadas. Ele não é mais Haddon Ward. Agora é Chefe da Guarda Real de Dundeya.
Como um, batemos o punho direito no peito e soltamos um brado. De respeito, de fidelidade, de temor.
O Chefe da Guarda separa os lábios para fazer seu discurso, mas um estrondo o detém.
As portas da Sala do Trono são arrombadas.
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Acima da Fraqueza
Adventure[História em andamento] [Sem revisão] [Postagem diária] #CRV-Concurso Dundeya sempre foi um reino próspero. A morte do Rei, embora uma tragédia, já era esperada. O povo chora seus votos, mas aguarda a coroação do próximo monarca. Thalia passou os...