CAPÍTULO SEIS

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HADDON WARM

Desde o incidente na arena, Elain e eu temos mantido uma relação amigável, embora houvesse um certo atrito desde a nossa "discussão". Estávamos treinando juntos – e separados – para o dia da escolha de Chefe da Guarda. Os meses passaram muito rápido desde então. O grande dia chegou.

Todos acordaram um pouco mais cedo hoje. Na verdade, eu ficaria surpreso se alguém sequer tivesse conseguido pregar os olhos na noite passada.

A agitação nos corredores é audível. Esfrego os olhos e chuto a cama do meu colega de alojamento. Alguém conseguiu pregar os olhos.

— Acorda, imbecil. — Digo enquanto vou até a tina.

— Bom dia pra você também, princesa. — Jeb responde, jogando a coberta de lado.

— Espero que não tenha esquecido que dia é hoje. — Comento depois de jogar água no rosto.

— Não esqueci, mas também não estou preocupado como esses bastardos. Só se fala nisso nos últimos dias!

— Não está preocupado? — Minha risada sai baixa. — É uma baita promoção.

— Cara, sejamos realistas. Sabemos quem vai assumir o cargo de Chefe da Guarda. — Jeb comenta enquanto coloca as roupas de treinamento. Faço o mesmo.

— Quem? — Indago, uma sobrancelha erguida.

— James, cara. — Diz e tento evitar ficar tenso. — Você viu o tamanho daquele bastardo? Meio difícil alguém conseguir passar por ele.

— Não se ganha apenas com músculos. É preciso inteligência também. Acho que outras pessoas têm tanto potencial quanto ele. — Comento, embora até eu sinta a mentira na minha voz. Odeio isso.

— Quem? A Elain? RÁ! — Ele ri secamente. Está amarrando as botas agora. — Ela é uma gostosa, isso é certo, mas duvido que passe da metade do circuito. E você sabe disso também, mas está sendo piedoso porque ela é sua amiguinha.

Trinco o maxilar. Não deveria ficar tão tenso, mas não posso evitar. Quatro anos escutando aquele tipo de comentário e ainda sim me afeta. Ninguém consegue notar a capacidade dela ou a sua força.

Fico em silêncio. Jeb não merece uma resposta, embora pareça esperar uma. Saio do alojamento sem dizer muito. Ele não estranha. Esse já é o meu comportamento há muito tempo.

O silêncio, penso, é muito mais poderoso que o discurso.

O corredor está cheio. Homens gritam e gargalham e o som torna o ambiente sufocante. Embora uma competição muito importante esteja prestes a acontecer, ainda há o clima de camaradagem. Não vejo Elain em lugar nenhum. Não sei se isso me traz alívio ou não.

Atravesso o mar de homens, saindo do quartel. Muitos já estão se preparando para os desafios que vão preencher o dia. Alongo os músculos e me preparo para a corrida. Recebo alguns cumprimentos dos colegas que também se dirigem à pista.

Procuro – bem consciente – uma massa de cabelos loiros. Começo a correr assim que localizo.

— Bom dia. — Digo, alcançando seus passos. Tento conter a surpresa por vê-la nesse horário. Há quatro anos aprendi que Elain sai antes dos homens chegarem, acorda mais cedo apenas para treinar sozinha. Não quero pensar muito sobre o que ocasionou seu auto isolamento.

— Bom dia. — Ela responde num suspiro. Está ofegando e me pergunto há quanto tempo está correndo. Desvio o meu olhar, tentando não me concentrar no seu corpo. Não quero ser como os babacas que ela tanto odeia – os mesmos babacas com quem divido a mesa.

Corremos por um tempo, completamente em silêncio. Alguns rapazes nos passam e outros ficam para trás, cada um lançando um olhar mais nojento que o outro. Não sei como Elain aguentou cinco anos e nem pergunto. Não somos próximos o suficiente para isso.

Quatro anos não significam nada quando nenhum dos dois se esforça. Quatro anos não muda o fato de que Elain talvez nunca mais confie em nenhum outro homem.

Paramos na borda da pista. Estou levemente cansado, mas Elain parece ter dificuldades para respirar. Me envergonho do que sinto à visão de uma mulher sem ar. Olho para o céu enquanto ela se recompõe.

— Eu não posso fracassar hoje, Haddon. Não posso. — Ela diz depois de um tempo. Fico surpreso com a sua confissão.

— É só um cargo, não precisa se pressionar tanto. — Digo e me arrependo imediatamente. Não é só um cargo.

Não pra Elain.

— Eu não tenho outra chance. — Diz. Fico em silêncio, pois sei que está certa. Um momento depois, ela está correndo. Não olha pra trás, não se preocupa se vou alcança-la.

Observo enquanto ela vacila um pouco, mas mantém o passo.

Observo enquanto meus colegas seguem seu corpo, parecendo homens sedentos.

Observo o céu e faço uma reza.

Espero que ela não se desaponte.

Acima da FraquezaOnde histórias criam vida. Descubra agora