CAPÍTULO DEZESSEIS

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ALIENA LATHERLIPS

Encaro o papel de parede marfim do meu escritório pessoal. Minhas mãos estão pousadas sobre o meu colo e me esforço para manter a expressão fria enquanto aguardo, sentada.
Os clangor das espadas e os gritos dos homens cessaram há alguns minutos. O palácio está completamente tomado.

Não há consolo saber que era quase impossível evitar essa batalha.

Não há consolo saber que dundeyanos morreram orgulhosamente, cumprindo seu dever.

Nunca há consolo para a guerra.

Um tremor percorre meu corpo e eu pisco várias vezes, involuntariamente.
Tanto esforço, tanto empenho. E eu falhei, mesmo assim.
Os nós dos dedos ficam pálidos com a pressão do meu aperto.

Esse é um péssimo momento para um descontrole emocional, me repreendo.

Tomo uma respiração e volto tranquilamente para minha pose de indiferença.
Alguns minutos se passam até que as portas são abertas em um rompante. Um pequeno conjunto de guardas adentra no cômodo e, logo atrás, Lorde Rowan inspeciona a cena. Seu olhar é debochado quando se dirige à mim.

— Dundeya está sob a custódia dos Senhores das Terras Baixas. — Ele anuncia. — Seu palácio foi tomado, assim como a sua capital. Estou aqui para escoltá-la para sua cela, Vossa Majestade.

— Acredito, Lorde Rowan — Começo, usando uma voz plana. — que esses guardas não têm a minha permissão para permanecer neste escritório. Sugiro que saiam.

— E eu acredito, Vossa Majestade — Ele diz se aproximando. — que não está em condições de fazer exigências.

Eu me levanto, o queixo erguido e a postura aprumada. Minha presença se eleva, subjuga os homens presentes. É o poder passado pelos nossos ancestrais, o dom para aqueles destinados ao comando. Eu posso sentir a hesitação dos soldados, cada qual sentindo a pressão de estar diante de uma rainha. Uma verdadeira rainha.

— Eu sou Senhora deste Reino, Soberana de Dundeya e de todas as nações que fazem parte da Antiga Coalizão. Não negociei minha rendição e não pretendo fazê-lo. — Não há emoção em minha voz, apenas poder. A magia que cultivei justamente para aquele momento. Para enfrentar o inimigo e não titubeiar.

— Sua rendição não foi negociada, mas será. — Lorde Rowan parece ignorar a pressão latente da minha presença. Ele se aproxima e agarra meu braço. — Agora, você deve me acompanhar até a sua cela.

Não me movo. Olho em seus olhos e aumento a pressão do poder que possuo. Três homens caem de joelhos, subjugados. Eles arfam, fracos e sem vontade. Lorde Rowan fica tenso, mas isso é toda a reação que ele demonstra.

— Se já acabou com a exibição, Vossa Majestade, há uma graciosa parte das masmorras que carecem da sua atenção. — Ele puxa meu braço e faz com que eu o acompanhe. Não há muito que posso fazer.

Saímos do escritório e vamos para um corredor abarrotado de guardas em posição de sentindo. Guardas vestidos de cinza e marrom. Mantenho uma expressão orgulhosa, digna de uma Rainha, mesmo sendo arrastada pelo inimigo.

Caminhamos por várias alas, descendo algumas escadas, visitando lugares que não me lembro de já ter estado. Paramos diante de uma porta de madeira maciça, cheia de trancas de ferro e símbolos antigos. Um guarda leva cerca de 5 minutos para abrir todos os ferrolhos e não consigo evitar que um arrepio suba por minha espinha.

— Eu desço com ela. — Lorde Rowan informa quando os guardas começam a nos acompanhar. Um molho de chaves é entregue em suas mãos e ele me empurra, colocando-se atrás de mim.

As paisagens das masmorras são escuras, parcamente iluminadas por algumas tochas e as paredes são de pedras lisas. Estamos descendo as escadas, cada vez mais baixos. Solto o ar de forma trêmula e tento relaxar o maxilar. O ar está estagnado.

— Parece que nossa corte acabou, Lorde Rowan. — Comento de forma desinteressada. Fico aliviada ao perceber que minha voz não denunciou o estado das minhas emoções.

— Muito pelo contrário, Vossa Majestade. — Ele retruca, apoiando as mãos em minhas costas para dobrarmos em uma bifurcação. — Assim que Lorde Haytham alcançar a capital, acredito que teremos um grande evento. Uma decapitação ou um casamento, dependendo da sua disposição.

Alcançamos uma câmara cerrada por outra porta de madeira e trancas de ferro. Lorde Rowan avança e as abre diligentemente, sem olhar para trás, confiante de que não tentarei algo.

— Acredita, Lorde Rowan? — Retomo a discussão. — Não parece inteirado dos assuntos de seu pai.

Ele abre a porta e permanece em silêncio. Abro um sorriso condescendente e aguardo que diga alguma coisa. Rowan se aproxima, toma minhas mãos e deposita um beijo suave.

— Tentarei achar um espaço em minha agenda para visitá-la, Vossa Majestade. — Diz, escapando do assunto. — Deve estar informada sobre como minhas novas responsabilidades exigem dedicação em tempo integral.

— Lisonjeada pela consideração. — Escarneio e arranco minha mão de seu aperto. Ele faz um gesto galante para a cela e eu entro com passos duros.

A porta é trancada e a escuridão domina o local. Ouço Rowan passando a chave novamente. Tateio as paredes e minha cintura esbarra em uma mesinha de madeira. Há um candelabro e uma pederneira que demoro alguns minutos para fazer funcionar. Minhas mãos estão tremendo, mas consigo acender todas as velas.

Observo o local. É do tamanho de um quarto de vestir, com um banco decrépito e um catre de estado lamentável. Conto oito passos de uma parede à outra.
Enxugo o suor com a costa da mão e me apoio na parede fria.
A porta está trancada com três travas de ferro.

Ninguém pode me ver ou me escutar dentro desse buraco, então desarmo minha postura.

Oito passos. Três travas. E o ar que nunca parece ser o suficiente para respirar.

Seria um longo período.

Acima da FraquezaOnde histórias criam vida. Descubra agora