ELAIN DONOVAN
Minhas mãos estão sangrando por causa da pedra lisa que tentei escalar.
Não foi minha melhor ideia, admito.
Andrew, Rodrik e James estão correndo na minha direção. Sei que a regra número três proíbe homicídios, mas não estou disposta a testar quão longe eles iriam. Então eu corro.
Memorizo minha rota. Esquerda, direita, direita, esquerda, direita, esquerda, esquerda.
Antes de virar novamente, piso em algo preto e pegajoso. É piche. Estou presa.
Escuto três risadas distintas e praguejo. Eles me emboscaram. Tento com todas as forças mover os pés, mas o piche é forte e as solas não cedem.
— Malditas botas de ótima qualidade! — Grito para as sebes, como se fosse uma piada. Não posso perder tempo e tenho que pensar rápido. Calculo a distância e me abaixo, abrindo as fivelas. Pulo.
Estou descalça, mas estou livre e longe do piche. Inverto a ordem e a direção. Corro.
Direita, direita, esquerda, direita, esquerda, esquerda, direita. Estou no mesmo lugar de antes, mas continuo sem saber onde fica a saída. Escuto latidos, rosnados e gritos humanos e decido que o melhor lado é longe dos sons.
Corro reto por um tempo, mas logo me deparo com uma encruzilhada. Esquerda. Sigo, sem desviar, até me deparar com dois homens atarracados no chão, trocando socos. Mais à frente, um beco sem saída. Corro sem descobrir quem são e volto para a encruzilhada.
Direita. Sigo até encontrar outro caminho. Sempre que acho um beco sem saída, volto e escolho a direção contrária. Fora o piche, ainda não me deparei com nenhuma armadilha. Lanço um olhar por sobre as sebes. O palanque é tão alto que é possível ver de dentro do labirinto. Os nobres estão gritando, rindo, se divertindo. Nós estamos correndo, lutando, chegando ao fim.
Me concentro no labirinto mais uma vez. Estou cansada, mas não paro. É estressante imaginar quão perto os outros podem estar da chegada. Continuo seguindo e voltando, esquerda e direita. Me esforço para não esquecer onde estou.
Ando um pouco e, ao virar, me deparo com dois homens no chão, sangue saindo de seus narizes. Ao seu redor há pequenas flores roxas esmagadas. Praguejo e dou um passo para trás, tomando o cuidado para não pisar nelas. São plantas alucinógenas usadas pelas feiticeiras – de forma diluída – para dopar os pacientes. Não quero imaginar o que são capazes in natura.
Continuo caminhando, buscando a saída. Às vezes, encontro um corpo no chão. Não lembro quantos entraram no labirinto. Não penso quantos serão capazes de sair.
Acho que estou indo relativamente bem, mas não tenho certeza. Sinto que se passaram horas. Estou morrendo de sede, minhas pernas tremem, mas não me permito vacilar.
— Você treinou tanto para esse dia. — Digo em voz alta. — Você precisa chegar ao final.
As sebes parecem infinitas. Todas iguais, todas me cercando. São a única coisa no caminho da minha vitória. Estou atravessando e voltando, atravessando e voltando.
Olho para a esquerda.
A saída.
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Acima da Fraqueza
Pertualangan[História em andamento] [Sem revisão] [Postagem diária] #CRV-Concurso Dundeya sempre foi um reino próspero. A morte do Rei, embora uma tragédia, já era esperada. O povo chora seus votos, mas aguarda a coroação do próximo monarca. Thalia passou os...