CAPÍTULO QUINZE

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ELAIN DONOVAN

As ruas da capital estão em polvorosa. A notícia já se espalhou: o palácio foi invadido. Exércitos das Terras Baixas estão tomando a cidade.

Estou correndo por entre as sebes do castelo, torcendo para que o quartel não tenha sido tomado. Lucinda está ao meu passo, agarrada à bolsa com seus medicamentos. Sinto que o uniforme faz de mim um grande alvo, mas não posso tirá-lo até chegar ao meu quarto.

A carta da Rainha ainda pesa no meu bolso, me alertando sobre minha nova missão. Uma missão que só tive tempo de aceitar, não de entender.

A Rainha estava certa. Tínhamos que nos apressar antes que as muralhas fossem tomadas.

Meus pulmões estão começando a queimar e há várias pontadas de dor entre as minhas costelas.

O quartel está praticamente vazio. Todos os soldados estavam assistindo à Nomeação ou cumprindo seus turnos de vigia. Corro pelos alojamentos e tento não ficar nervosa ao ouvir meus próprios passos ecoando.

Abro minha porta e, com a respiração ofegante, reviro as roupas em um baú. Há uma bolsa lateral, muito parecida com a de Lucinda, e eu a pego. Começo a encher com tudo o que acho que vou precisar.

Há um punhal com cabo ornamentado e eu o pego, mas tenho dificuldades de colocar na bolsa. Lucinda toca as minhas mãos e recolhe os objetos que separei. Eu estou tremendo.

Culpo a corrida.

Aproveito para trocar de roupas. Não há muito no baú sem o brasão de Dundeya, então visto uma túnica sem mangas de um azul desbotado. Mantenho a calça azul, mas troco as botas, por elas facilmente me denunciariam como alguém da Guarda. Coloco a carta no bolso novamente.

Abaixo e amarro os cadarços de uma bota de cano baixo. Minhas costelas doem consideravelmente e eu solto um grunhido ao me levantar. Lucinda me olha com urgência.

— Estou bem. Vamos cuidar disso depois.

Ela se levanta e enfia mais medicamentos e faixas na bolsa.

Saímos do quarto com pressa, preocupadas em sermos pegas. Um estrondo sacode as paredes do quartel e eu desisto do plano de pegar suprimentos na cozinha.

— Precisamos passar pela muralha antes que seja tarde. – Eu digo e começamos a correr. Admiro que Lucinda consiga acompanhar meu passo por tanto tempo.

Damos a volta no quartel e passamos pela arena. Me pergunto brevemente sobre a condição de Haddon, mas afugento o pensamento.

É difícil passar pela cidade com tantos soldados esvaziando as ruas, mas conseguimos de uma forma. Estou com a mão no punho da espada, preparada para qualquer ataque, mas deixo a lâmina escondida para não chamar atenção.

Quando chegamos às muralhas há uma bagunça de corpos e sangue no chão. A entrada principal já foi tomada e as muitas torres que circundam a capital já ostentam o estandarte das Terras Baixas.

— Chegamos tarde. – Desacelero o passo e balanço a cabeça. Mesmo que tivéssemos saído antes do ataque ao castelo, não haveria chances de passar.

Lucinda se aproxima e afaga o meu ombro. Sei que ela quer me consolar, mas nada pode mudar a derrota que se abateu sobre mim. Sobre Dundeya. Ela continua o gesto insistente e eu me viro para encará-la.

— O que... – Começo a dizer, mas paro e olho para onde ela está apontando. Duzentos metros à Leste dos portões, um pequeno grupo ainda tenta impedir o avanço do inimigo. Um pouco mais distante, uma torre vazia ostenta esperançosamente o estandarte de Dundeya. — Temos que correr!

Acima da FraquezaOnde histórias criam vida. Descubra agora