ELAIN DONOVAN
As ruas da capital estão em polvorosa. A notícia já se espalhou: o palácio foi invadido. Exércitos das Terras Baixas estão tomando a cidade.
Estou correndo por entre as sebes do castelo, torcendo para que o quartel não tenha sido tomado. Lucinda está ao meu passo, agarrada à bolsa com seus medicamentos. Sinto que o uniforme faz de mim um grande alvo, mas não posso tirá-lo até chegar ao meu quarto.
A carta da Rainha ainda pesa no meu bolso, me alertando sobre minha nova missão. Uma missão que só tive tempo de aceitar, não de entender.
A Rainha estava certa. Tínhamos que nos apressar antes que as muralhas fossem tomadas.
Meus pulmões estão começando a queimar e há várias pontadas de dor entre as minhas costelas.
O quartel está praticamente vazio. Todos os soldados estavam assistindo à Nomeação ou cumprindo seus turnos de vigia. Corro pelos alojamentos e tento não ficar nervosa ao ouvir meus próprios passos ecoando.
Abro minha porta e, com a respiração ofegante, reviro as roupas em um baú. Há uma bolsa lateral, muito parecida com a de Lucinda, e eu a pego. Começo a encher com tudo o que acho que vou precisar.
Há um punhal com cabo ornamentado e eu o pego, mas tenho dificuldades de colocar na bolsa. Lucinda toca as minhas mãos e recolhe os objetos que separei. Eu estou tremendo.
Culpo a corrida.
Aproveito para trocar de roupas. Não há muito no baú sem o brasão de Dundeya, então visto uma túnica sem mangas de um azul desbotado. Mantenho a calça azul, mas troco as botas, por elas facilmente me denunciariam como alguém da Guarda. Coloco a carta no bolso novamente.
Abaixo e amarro os cadarços de uma bota de cano baixo. Minhas costelas doem consideravelmente e eu solto um grunhido ao me levantar. Lucinda me olha com urgência.
— Estou bem. Vamos cuidar disso depois.
Ela se levanta e enfia mais medicamentos e faixas na bolsa.
Saímos do quarto com pressa, preocupadas em sermos pegas. Um estrondo sacode as paredes do quartel e eu desisto do plano de pegar suprimentos na cozinha.
— Precisamos passar pela muralha antes que seja tarde. – Eu digo e começamos a correr. Admiro que Lucinda consiga acompanhar meu passo por tanto tempo.
Damos a volta no quartel e passamos pela arena. Me pergunto brevemente sobre a condição de Haddon, mas afugento o pensamento.
É difícil passar pela cidade com tantos soldados esvaziando as ruas, mas conseguimos de uma forma. Estou com a mão no punho da espada, preparada para qualquer ataque, mas deixo a lâmina escondida para não chamar atenção.
Quando chegamos às muralhas há uma bagunça de corpos e sangue no chão. A entrada principal já foi tomada e as muitas torres que circundam a capital já ostentam o estandarte das Terras Baixas.
— Chegamos tarde. – Desacelero o passo e balanço a cabeça. Mesmo que tivéssemos saído antes do ataque ao castelo, não haveria chances de passar.
Lucinda se aproxima e afaga o meu ombro. Sei que ela quer me consolar, mas nada pode mudar a derrota que se abateu sobre mim. Sobre Dundeya. Ela continua o gesto insistente e eu me viro para encará-la.
— O que... – Começo a dizer, mas paro e olho para onde ela está apontando. Duzentos metros à Leste dos portões, um pequeno grupo ainda tenta impedir o avanço do inimigo. Um pouco mais distante, uma torre vazia ostenta esperançosamente o estandarte de Dundeya. — Temos que correr!
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Acima da Fraqueza
Aventure[História em andamento] [Sem revisão] [Postagem diária] #CRV-Concurso Dundeya sempre foi um reino próspero. A morte do Rei, embora uma tragédia, já era esperada. O povo chora seus votos, mas aguarda a coroação do próximo monarca. Thalia passou os...