O Retorno de Mitra: Entre Dois Mundos
O painel de controle da pequena aeronave pleiadiana parecia simples demais para Alícia, fácil de manusear, como se tivesse sido feito para ela. Mas a verdade era outra-Seleto havia ordenado que o acesso fosse liberado remotamente, permitindo que ela partisse. Sua fuga não era um desafio, mas uma concessão. Ele a deixara ir.
Quando a nave pleiadiana tocou o solo próximo ao esconderijo dos rebeldes, seu coração batia em uma velocidade avassaladora. Era um retorno, mas não sentia que estava voltando para casa. Algo dentro dela havia mudado. Algo havia se perdido... ou talvez encontrado um novo caminho.
Do alto de uma colina, um dos rebeldes vigiava a entrada do esconderijo. A visão da nave fez com que seus sentidos disparassem.
- Atenção! Uma nave pleiadiana pousou nos arredores! - alertou pelo rádio, sua voz carregada de tensão.
Imediatamente, um grupo se preparou para o combate, armas prontas, olhares afiados, esperando pelo inimigo. Não podiam permitir que os pleiadianos os encontrassem. A resistência era tudo que restava da humanidade livre.
A porta da nave se abriu, e das sombras emergiu Alícia-Mitra para eles.
Por um instante, ninguém se moveu.
Então, Rick foi o primeiro a largar a arma, seus olhos arregalados de pura incredulidade. Sem hesitar, correu em direção a ela.
- Mitra! - exclamou, sua voz vibrando com uma mistura de alívio e alegria.
Ele a pegou nos braços, girando-a no ar, como sempre fazia quando comemoravam uma vitória. Mas desta vez, Alícia não reagiu. Seu corpo permaneceu rígido, sua mente distante. Rick percebeu imediatamente-algo estava errado.
Atrás dele, um coro de vozes se formava.
- Mitra! Mitra! - clamavam os rebeldes, entusiasmados por seu retorno.
Jessica surgiu entre os rostos emocionados, os olhos marejados.
- Amiga, você conseguiu... - disse, a voz embargada.
Alícia olhou para ela, mas não sorriu. Algo nublava seu olhar, um véu sombrio que ninguém conseguia decifrar.
- Vamos entrar, rápido. - Sua voz soou seca, cortante.
Rick franziu a testa, mas obedeceu. Jessica hesitou, trocando olhares com os outros, antes de seguir. Alícia mantinha a atenção no céu, como se esperasse que as sombras dos pleiadianos caíssem sobre eles a qualquer momento. E, talvez, dentro dela, esperasse que Seleto viesse atrás dela.
Mas ele não viria.
No acampamento subterrâneo, os rebeldes se reuniram em torno dela, ansiosos por respostas. Todos queriam saber se ela finalmente havia derrotado o comandante Seleto, o inimigo supremo da humanidade, aquele que carregava o sangue de milhões nas mãos. Para eles, ele não passava de um monstro que precisava ser exterminado.
Uma assembleia foi convocada.
Alícia se sentou no centro da sala, cercada por olhares famintos por justiça, por vingança, por um fim.
A primeira pergunta ecoou como um tiro.
- Você conseguiu matá-lo?
O silêncio que se seguiu foi mais pesado que a própria gravidade.
O coração de Alícia disparou, uma onda brutal de adrenalina inundando seu corpo. O gosto amargo do medo tingiu sua garganta, seu estômago revirou. A morte de Seleto... A ideia era impossível de conceber. Ele não podia morrer. Ele não deveria morrer.
Mas por quê?
O raciocínio lógico dizia que ele era seu inimigo, que deveria ser eliminado. Mas seu coração... ah, seu coração pertencia a ele.
Ela sabia disso. Sabia que era irracional, que era proibido, mas a verdade era impiedosa-ela o amava. Mais do que qualquer coisa em sua vida. Mais do que a própria causa pela qual lutara. Mais do que qualquer sonho de liberdade.
Ela podia mentir para os rebeldes.
Mas não podia mentir para si mesma.
Uma vertigem brutal a atingiu, sua visão escurecendo por um instante. Ofegante, ela se ergueu com esforço.
- Não estou bem. Vou adiar essa reunião para amanhã... Acabei de voltar, não estou em condições no momento.
Sua voz soou fraca, trêmula, mas ninguém teve tempo de questioná-la. Antes que pudesse dar outro passo, suas pernas fraquejaram e seu corpo tombou.
Rick avançou, segurando-a antes que caísse. O mundo ao seu redor girava, mas havia apenas um nome que pulsava em sua mente, ecoando em seu coração como uma prece inquebrantável.
Seleto.

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Meu Mundo
Ficción GeneralNosso planeta foi invadido e tomado por seres extraterrestres. Eles dizem ter a solução perfeita para acabar com guerras, fome, doenças e tudo existente de ruim em nosso mundo, mas nem todos querem se dobrar à solução oferecida. Os humanos estão par...