De mudança

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Ainda com lágrimas nos olhos, pisei em seu rosto.

-Pedro, como Anne está? - Perguntei.

-O tiro foi de raspão, podemos salvá-la se levarmos ela no hospital agora!

-Duas peças, um Cavalo e uma Dama, eu não deveria te perdoar por ferir essas minhas duas peças, mas se prepare Júlio, eu irei atrás de você - Eu disse ao homem caído ao chão.

O fiz desmaiar com uma coronhada e por sorte o hospital era bem próximo de onde estávamos, eu poderia ter chamado a polícia, mas "que graça tem se não for com minhas próprias mãos?", infelizmente, isso era o que passava na minha cabeça naquele momento, com o tempo Anne se recuperou, mas perdemos Bruno, era um ótimo amigo, e uma boa peça.

Um mês se passou e as coisas estavam bem diferentes, mas, era de se esperar, Anne estava mais cuidadosa comigo e eu não parava de pensar "e se ela tivesse morrido?". Talvez por intuição feminina ou seja lá o que for, ela percebeu que eu estava pensando algo do tipo.

-Não se culpe, eu quem fui atrás de vocês! - ela disse.

-Você poderia ter morrido. - Disse eu.

-Contanto que você não morra, então estará tudo bem.

-Um dia eu ouvi falar de uma história, quando o xadrez foi criado, em uma espécie de torneio, um homem levou peças esculpidas em forma de pessoas e disse que aquelas eram as pessoas do xadrez dele, ele estava ganhando todas as partidas, perdendo apenas os 7 Peões, 1 Torre, 1 Cavalo e 1 Bispo, era um gênio! Ele disse que enquanto houvesse uma peça de cada "tipo" naquele Tabuleiro, ou seja, um Peão, uma Torre, um Bispo, um Cavalo e uma Dama, a peça estaria bem, ele nunca trocava os dois Bispos nem por uma dama, mas um dia ele estava perdendo, era um Xeque que a única solução era cobrir de Dama, mas a Dama para ele era uma peça imortal, perdê-la ou trocá-la significava perder o jogo, ele estava jogando para se salvar da morte, já que todos ali estavam condenados a morte, mas o que ganhasse o torneio, se salvaria, ele tinha chance de ganhar, mas naquele dia ele abandonou a partida apenas para não perder a Dama, o homem que decapitava as pessoas se comoveu com aquilo, ele entendia que no Tabuleiro não eram somente peças, eram pessoas que ele amava, então em uma noite, o deixou fugir para não ser decapitado. Essa é a história do Rei que se sacrificou pela Dama.

Olhei para Anne, lágrimas escorriam de seus olhos.

-Essa história realmente aconteceu? - ela perguntou.

-Creio que sim, mas na história real ele foi decapitado.

-Então tá... - Anne me olhou com uma cara de espanto.

Após isso, Anne foi para um curso que ela fazia e Pedro veio me visitar momentos depois de ela ter saído. Após alguns minutos de conversa, ele pergunta.

-Rafael, quem era aquele homem que tentou te matar? - Pedro perguntou.

-Ninguém importante, quer dizer... Ninguém que irei sentir falta. - Respondi.

-Não irei insistir para dizer, mas enfim, vim te fazer uma proposta.

-Não, eu não quero me casar com você - falei em um tom de brincadeira.

-Droga, um dia você será meu! - Pedro brinca também. - Mas falando sério, quer ir morar lá em casa? O quarto no andar de cima está desocupado já que minha mãe voltou para a casa dela e tá difícil morar sozinho.

-Ainda não sabe cozinhar né?

-Não - Pedro fala com uma lágrima nos olhos.

-Eu realmente estava pensando em sair daqui, e como a maioria das reuniões são lá então tá tudo bem, quando será a mudança?

História de um Imortal - Rafael, o imortalOnde histórias criam vida. Descubra agora