Natal inesquecível

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[Part. Ruby]

Sei que muitos amariam nascer em "berço de ouro", confesso que em partes isso é bom, pois, facilita muito na hora dos estudos e de conseguir um emprego, mas vendo por outro lado, somos humanos, e a nossa maior ambição é o dinheiro. Pois este compra quase tudo, menos a vida! E ironicamente, por causa dele eu perdi tudo, menos a vida.

Eu nasci no Japão. Antes ou depois das bombas? Prefiro nem comentar! Minha família era estadunidense, já começa errado aí, vivíamos em Kantō, mais precisamente na famosa cidade de Tóquio, sempre gostei de estudar línguas estrangeiras, afinal, eu não pretendia viver lá para sempre, e por me dá muito bem com outros idiomas, consegui emprego em uma das empresas da minha mãe, eu me comunicava com pessoas de outros países para ela. Por conta dos negócios fomos morar nos Estados Unidos. Eu tinha somente 17 anos, mas já trabalhava e conseguia me virar sozinha em tudo, lá nos EUA conheci Felipe, apesar de todo mundo jurar que iríamos nos casar um dia, eu tinha a pura certeza de que havíamos sido separados na maternidade.

Certo dia nossas famílias decidiram passar o natal juntas. E foi nesse dia que eu passei a odiar o dinheiro.

Estava realmente frio, apesar estar no período da tarde, comecei a imaginar como seria a noite naquele local, olhei para o lado e vi Felipe rindo de como eu estava parecendo uma criança olhando a neve e pensando.

-Desculpa Ruby, mas sua cara está muito engraçada - Felipe falou com dificuldade por estar rindo.

-É a neve cara, isso é lindo, ou melhor, o natal aqui é lindo! - Eu disse.

-Mas isso não ocorre todos os anos? não é de tempos em tempos, logo você deveria estar acostumada a isso. - Ele disse pensativo.

Ao fim da tarde nos reunimos na sala e começamos a jogar papo fora, não eram as melhores famílias, nem a minha e nem a de Felipe, mas tínhamos um ao outro. Em meio a conversa vai e conversa vem, escutamos uma pancada na porta.

Por dinheiro, dois ladrões invadiram a casa em que estávamos todos reunidos, não podíamos fazer nada, apenas entregar o dinheiro e esperar a morte, que não demoraria para chegar. Eles nos mandaram sentar no sofá e enquanto um deles nos amarrava o outro ficava com a arma apontada para nós, eles pareciam estar bem preparados, 4 pistolas e 1 AK-47, além de facas e alicates, eu não gostava nem de imaginar que estava prestes acontecer, com todo esse arsenal, eles não haviam ido apenas para roubar.

Nós cooperamos com eles, passamos a localização e senha de todos os cofres, eles pegaram todo o dinheiro e levaram para um de nossos carros, e então começaram a fazer o inevitável. Haviam 14 pessoas na casa, fora os 2 ladrões, a princípio não quiseram chamar atenção com o barulho das armas, então começaram com as facas, restaram 8 pessoas vivas. Depois disso usaram as pistolas, em momento algum eu permiti que vissem minhas lágrimas, eu estava tomada pelo ódio, o dinheiro que outrora era o motivo do meu bem estar, agora seria o motivo de minha morte e a de Felipe.

Só havia restado eu e Felipe, quando resolveram usar a AK-47, foram 20 tiros em Felipe, e por fim, eu, que não estava demonstrando um pingo de tristeza, mesmo estando emocionalmente destruída, eu não demonstrava desespero, mesmo estando consumida por medo, por causa disso decidiram me torturar, me desamarraram e disseram "piece by piece", "vamos ver em quantos ela se divide antes de morrer!". Não precisa ser um gênio para concluir que eu morri, mas, após isso, eu acordei em um local estranho, com algumas partes brancas e outras com cores normais, ao andar por lá as coisas iam ganhando cores, até que vi alguém, parecia um ser humano mas era completamente branco. Ele estava sentando em um banco quando notou minha presença e se aproximou, a princípio me espantei, mas não havia o que temer, eu já estava morta mesmo.

-Olá, seja bem vinda! - disse o moço.

-Oi, onde eu estou? Quem é você?- Perguntei.

-Aqui é onde eu vivo - ele se aproximou de mim e começou a ganhar cor e detalhes, como os cabelos e olhos. - Você é Ruby, certo? - Ele perguntou, e começou a olhar para o próprio corpo.

-Sou sim, e você é?

-Enquanto eu tiver cor, me chamo Belak!

Por algum motivo essa pessoa me abraçou. Não impedi, talvez ele estivesse precisando, mas, acho que eu precisava mais que ele, logo quando ele me abraçou, me permiti chorar.

-A quanto tempo eu não via minhas reais cores. - Ele pegou na minha mão após falar isso. - Venha, vamos andar por aí.

Ele parecia animado com minha presença, mas quem era ele? Conforme íamos andando ele e o local onde estávamos deixava cada vez mais de lado a cor branca, eu não estava entendendo, mas depois de uma boa caminhada ele me explicou tudo.

-Ruby, você quer ficar aqui comigo? Por favor, aceite. - Ele pediu com um pouco de vergonha.

-Eu tenho escolha? - perguntei.

-Sim, você pode ficar aqui comigo, ou voltar para a terra e ser imortal.

-Imortal? Está falando sério?

-Sim.

Naquele momento, a palavra que mais passava na minha cabeça era "Vingança", eu inconscientemente ignorei completamente o pedido dele para que eu ficasse, pedi para ir imediatamente para a terra. O rosto dele demonstrou um pouco de tristeza e medo, só então notei que o abraço que ele havia me dado era aconchegante, eu não estava entendendo muita coisa, então ele me permitiu voltar para a terra, mas antes ele disse algo, porém, não entendi bem o que foi.

Ao voltar a terra eu estava jogada no sofá, eu conseguia sentir meus pés e meus braços novamente, me levantei, peguei uma faca, e fui até a cozinha, onde estavam os dois assassinos espalhando gasolina pelo local. Cravei a faca na cabeça de um e corri até a sala. O outro veio e atirou em mim, dois tiros no peito, que rapidamente regenerou. Apertei seu pescoço até ele desmaiar, o amarrei em uma cadeira e esperei ele acordar.

-Como pode estar viva? O que é você? Ainda não me matou? - Ele perguntou.

-Não, na verdade estava esperando você acordar, "piece by piece", não é mesmo? quero ver em quantos você se divide antes de morrer! - Disse eu com a faca na mão.

Eu vi medo nos olhos dele, mas não conseguia ver piedade em meu coração. Graças a minha ansiedade, cortei a cabeça dele no terceiro pedaço, terminei o serviço deles de tacar fogo na casa, mas antes, tirei todo o dinheiro do carro e joguei por cima dos corpos, para que ambos queimassem juntos, coloquei o corpo de Felipe no carro, ateei fogo na casa, em um local não muito distante enterrei Felipe, como a casa era 1,5Km de distância de qualquer outra, quando chegaram para conter o incêndio já era tarde, somente cinzas, nada mais ali era distinguível de simples e pura cinzas. Eu fui embora daquela cidade, hoje em dia vago o mundo matando todos os criminosos, sem dó, nem piedade. Ainda penso muito em Belak, o que me fez ser imortal? Quais os motivos dele querer que eu ficasse naquele local? São perguntas que talvez eu nunca saberei responder. E esse foi o meu natal inesquecível.

[Part. Light]

Sentei em um banco e parei para pensar um pouco.

-Ruby... Eu finalmente te encontrei.

História de um Imortal - Rafael, o imortalOnde histórias criam vida. Descubra agora