A vida pela eternidade

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[Part. Ruby]

Paralisei ao ver toda a cena, vi Rafael se saindo, fui até Anne e a retirei da cadeira com a ajuda de Pedro que não parava de perguntar o que era tudo aquilo. Havia algo estranho, naquele momento eu não via Anne, eu só conseguia enxergar Felipe no lugar dela. Ainda ignorando Pedro e suas perguntas, eu me concentrei, fechei os olhos e respirei fundo, ao invés do aroma de algo velho como o local que estávamos, eu senti um cheiro de flores, uma brisa suave, abri os olhos e vi Belak.

-Nem pense nisso Ruby! - Belak falou já imaginando o que eu queria.

-Eu não quero ver Rafael triste, não quero ver lágrimas nos olhos dele. Ele aceitou ser meu amigo pela eternidade, eu não quero ser inútil pra ele como fui pra Felipe e para você também.

-É compreensível sua escolha de não ficar aqui. - Belak se aproximou ganhando cor novamente. - me diga quantas pessoas aceitariam ficar em um local desconhecido. Mas, sou contra sua troca, você sabe o que acontece se de fato trocar?

-Eu vou reviver aquele dia por toda a eternidade, um imortal não morre, mas pode ficar preso no tempo, eu sei exatamente o que vai acontecer, por isso, eu digo que quero trocar. - Percebi uma expressão de tristeza em Belak. - O que você viu em mim?

-Antes de você ser imortal eu te vi morrer algumas vezes. Acredita em vidas passadas? - Belak sorriu.

Eu via toda a sinceridade nos olhos de Belak, e lembrei de quando ao invés de Anne, eu vi Felipe.

-Talvez eu acredite, se Anne for Felipe dessa vida, então farei o que não fiz antes, irei salvá-lo - Abracei Belak - Você não me verá mais morrer, e nem nascer.

-Se é isso que deseja, então... Que Anne receba a vida pela eternidade de Ruby! - Belak falou com lágrimas nos olhos.

Logo após isso, eu abri os olhos e vi a neve.

-Você parece uma criança olhando a neve, Ruby! - Felipe falou rindo.

O abracei e após um pouquinho de choro, toda aquela cena se repetiu.

[Part. Belak]

Depois de ver Ruby desaparecendo para sempre, recebi Anne no purgatório.

-Onde eu estou? Eu morri... Lembro de ouvir o tiro. - Anne disse olhando ao redor.

-Sim, você morreu, mas passa bem. - Respondi com o tom irônico de sempre.

-Quem é você? Onde eu estou? - Anne perguntou com espanto ao me ver.

-Aqui é o purgatório, permita-me explicar algo para você... - Eu disse até ser interrompido por ela.

-Você é D-De... De...

-Todos tentam, mas ninguém consegue. - Comecei a rir.

-Você é Deus? - Ela falou com dificuldade.

-Não brinca! - Falei espantado e comecei a bater palmas. - Tô impressionado. Mas não, eu não sou Deus. Eu não vou explicar tudo, tem coisas que mesmo que eu explique, você não vai entender. Existem imortais no mundo, Rafael é um deles, se tornou imortal quando levou aquele tiro no dia do aniversário dele. Tadinho. Ele conheceu uma garota, chamada Ruby, lembra dela, pois ela é importante nessa história! Depois que Júlio te matou, ela trocou a eternidade, para você voltar a viver, então aproveite bem a sua vida e beba bastante água, pedra nos rins não é brinquedo!

-Como assim? É muita informação para um único dia.

-Sinto muito, depois explico com calma. - Senti um tremor no purgatório. - Boa sorte explicando tudo para o seu amigo Pedro!

Anne desapareceu do purgatório e pude sentir outro tremor. A cor estava sumindo de tudo, o purgatório estava sendo destruído. Esse era o destino dele caso o imortal guardião, no caso, eu sentisse o ódio mais uma vez. Usei meus últimos momentos no purgatório para falar com Rafael. Eu estava sendo consumido pelo ódio, por causa de Júlio, Anne morreu e Ruby fez a troca, era tudo culpa de Júlio.

[Part. Rafael]

Sorri ao ver Anne viva, mas, como? Tenho certeza de que o tiro tinha acertado em cheio a cabeça dela.

-Anne agora é uma imortal? - Perguntei entusiasmado.

Entusiasmo esse que durou pouco, até eu perceber que Ruby estava caída ao lado de Anne e Pedro.

-Não, ela não é imortal - Disse Belak - Em troca da vida de Anne, Ruby voltou no tempo, para o dia que ela ganhou a imortalidade, e aquele dia vai se repetir pra ela por toda a eternidade. Ela fez isso pois não queria te ver chorar, ela queria ser útil para você.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

-Idiota... Ela era muito idiota... Belak, eu vou trazer Ruby de volta, custe o que custar.

-Obrigado. - Belak disse antes de cair no chão com dor.

-O que houve? - Perguntei o ajudando a levantar.

-O purgatório está sendo destruído, temos poucos dias até que seja destruído por completo e Júlio saia de lá.

-Então ele vai mesmo ser imortal... - Falei até perceber Anne se aproximando.

Virei e lentamente fui abraçá-la.

-Me perdoe por não ter cotado. Me perdoe por não ter chegado a tempo. Eu não consegui te proteger. - Eu disse com voz de choro.

-Está me protegendo agora, não está? - Anne sorriu.

-Eu te amo demais Anne.

-Também te amo Fael.

-Como o amor é lindo! Mas então, a gente tem que pensar em como mandar alguém ao inferno. - Belak disse estragando completamente o clima.

-Eu vou mandar você ao inferno! - Eu disse.

-Onde que fica a porta de entrada? - Ele perguntou zoando.

-Nossa! Boa Belak! Já sei o que fazer. Anne, Pedro e Belak, vamos para a casa de Júlio.

Eu tinha um plano que poderia dar certo, como o do meu aniversário. Poderia causar mais problemas do que soluções, mas era a solução do problema principal. O resto eu resolveria depois. Fomos até a casa de Júlio, peguei uma lanterna e caminhei até o final do túnel, todos haviam ficado na entrada, eu estava sozinho, ou quase sozinho, aquela mesma presença da minha mãe ainda estava lá.

Cheguei próximo a parede e me transformei em um sombrio, ao olhar para frente vi o espelho, no meu campo periférico vi minha mãe, mas olhei fixamente no fundo dos meus olhos, completamente brancos pela transformação.

-Mãe, explique-me sobre este portão, por favor.

-Claro meu filho, este era o meu portão, eu era a guardiã deste, mas depois que seu pai me matou, obviamente não funcionou, mas depois disso eu fui para o purgatório, eu não poderia mais ficar aqui, eu ainda estou no purgatório, quando ele for destruído eu sairei junto com seu pai.

-Me recuso a aceitá-lo como pai.

-Sairei junto com Júlio então. O que mais gostaria de saber?

-Se existe Deus, também existe um demônio maior?

-O rei deles, está depois do portão guardado pelo primeiro guardião, Transformation.

-Como faço para chegar lá?

-Não! Você não vai! Sua existência pode ser perdida no caminho. Por isso escondi esse portão nesse túnel.

-É possível conectar o interior desse portão com o mundo aqui fora?

-Sim, pode ser conectado através de objetos, mas para isso é necessário invocar o rei.

-Uma última pergunta então. Como eu invoco o rei?

História de um Imortal - Rafael, o imortalOnde histórias criam vida. Descubra agora