Fui para a minha cabine me deitar. Tomei meus antidepressivos, comi a comida em pasta que era fornecida e deitei. Eu estava navegando por um mar de escuridão. Pelo menos não estava sozinho. E não era tão escuro assim. Tinha as estrelas, os planetas, as galáxias...
Mesmo assim, eu sinto medo. Marmatol me dizia que o medo é comum, afinal somos seres humanos. O que era menos comum era a coragem, só os mais fortes a possuíam. Eu queria que Marmatol estivesse vivo. Sinto tanto a falta dele... ele foi a primeira pessoa que me ajudou, a única que eu já amei de verdade. Mas eu sempre perco tudo. Sempre acabo fracassando, ou levando a culpa por alguma coisa que não fiz (nunca levo a culpa por coisas boas) é impressionante, que se a minha vida acabar hoje, eu vou morrer como o homem que teve um único amigo e matou um homem. Nessa frase a única verdade é que eu só tive um único amigo. Sinceramente leitor, nessa história eu sou um personagem sem passado. A minha vida foi sem graça. Quem sabe se eu sobreviver eu ganho alguma coisa pra contar.
Dormi profundamente e tive um sonho. No meu sonho, eu estava na neve, e duas pessoas me batiam. Eu não conseguia me mexer. De repente eu estava num chão coberto de pessoas mortas, mas uma velha senhora apareceu e começou a varrer tudo. Eu corri até ela e pedi para me salvar, até que novamente tudo mudou e estávamos em uma rampa enorme. Ela disse que meus pais estavam no fim daquela rampa. Mas eu não conseguia subir ela. Então eu chorei até escorregar para um lugar completamente escuro. Então eu acordei.
Sonhos são muito doidos.Contei para Mikhail e ele me perguntou se eu tinha dado um jeito de trazer drogas à bordo. Eu disse pra ele que sonhos são muito doidos.
- Enfim, tem uma coisa que eu queria te perguntar Kairós.
- Então diga!
- Você tem algum arrependimento profundo?
- Bom... tenho.
- E qual seria?
- Me arrependo de estar na Avenida Olorum quando assassinaram uma mulher. Todos afirmaram ter me visto dando facadas na mulher, mas eu estava apenas passando. Eu não entendo como isso pode ter acontecido. Depois que puxaram às imagens na câmera de uma loja, viram que era eu. Eu assisti à gravação e realmente, tinha um cara idêntico a mim cometendo o crime. Mas isso só podia ser armação, juro para você que eu apenas passei por aquela avenida. Analisaram e disseram que a gravação era genuína. Eu odeio isso. Se eu não tivesse passado por aquele lugar naquele dia eu teria um álibi. Mas eu estive no lugar, um minuto antes, e depois eu tecnicamente "voltei" e cometi o crime.
- Caraca, que loucura... Eu só me arrependo de não ter conseguido te convencer a largar essa ideia idiota de vir para essa viagem. Mas, fazer o que... agora já foi.
- Ah, larga de besteira, você sabe que a gente não ia conseguir.
- Mas me diga, gênio, o que raios a gente tinha a perder?? nós já íamos ser mandados pro espaço mesmo, se desse errado, não iríamos perder nada. Mas pelo menos, teríamos tentado.
- Mas a questão é que não sou um criminoso de verdade, se eu tentasse escapar estaria fazendo jus ao título de criminoso.
- Mas pelos céus! Será que você não entende que eles estão cagando pro fato de você ser ou não um criminoso de verdade. Você foi julgado como criminoso, sendo ou não, e vai se ferrar como um criminoso, sendo ou não! Não tinha como você sujar a sua imagem, ela já estava suja.
- Olha, vai se ferrar, se você quisesse fugir era só ir, não dá para entender por que você depende tanto assim de mim pra fugir.
- Ué, em duas pessoas é muito mais fácil fugir do que uma.
- Como se tivesse só eu naquela prisão. - Terminei de falar e dei as costas para aquele otário.
Quando entrei denovo na minha cabine, senti como se eu estivesse sozinho numa imensidão infinita. É uma sensação horrível, é como estar em alto mar e só ver o céu azul e a água, até o fim do horizonte, para todas as direções.
Eu estava num mar de escuridão, tinha brigado com o meu único amigo num raio de milhões de quilômetros.
Navegando por onde almas humanas não ousam navegar, eu me sentia sozinho. comecei a chorar porque na verdade eu sempre estive sozinho. O único amigo que eu fiz foi Marmatol. Um velho de nome exótico, com sonhos incompreensíveis mas grandiosos. Eu comecei a chorar. Mas não foi um choro qualquer, foi do fundo da minha alma. Eu nunca me senti tão vazio quanto eu me senti quando chorei naquele quarto. Mas quem no universo ouviria meu choro?
No fim eu sou apenas um criminoso para todo mundo. Não tenho direito à nada porque eu "cometi um crime".
Eu espero que tudo isso acabe logo. Esse pesadelo chamado vida. Eu nem sei o Porquê de eu estar chorando tão profundamente, talvez a briga com a Mikhail foi só a gota d'água para liberar toda uma carga emocional muito pesada.
Vomitei. Nunca tinha me sentido tão mal. Passou de uma simples tristeza para uma crise forte.
Mikail entrou e mesmo tendo brigado comigo, me socorreu.
Ele limpou a sujeira como deu e me deixou descansar. Demorei para pegar no sono, mas para não incomodar mais o Mikhail, eu não disse nada.
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Kronos I
Художественная прозаUm jovem condenado à morte em Marte vai ser lançado num buraco negro. Mas quem sabe o que poderá acontecer com ele enquanto estiver lá? Quem sabe o que pode acontecer 700 anos no futuro? Só a incrível história de Robert Kairós pode esclarecer tudo.