Kronos I

Capítulo III - Robert Kairós

Eu nasci em Oran. Vivi como um cidadão livre até meus 17 , até que fui preso por cometer um crime cujo qual não mencionarei ao leitor. Hoje vivo no complexo penitenciário Mottzer, bloco Blackstone quarto 653. temos direito ao uso de crédito porém apenas para necessidades básicas. quem não se comporta, por assim dizer, recebe menos créditos como castigo. Tenho me comportado como um verdadeiro profissional, mas isso não anula a minha sentença. Eu já sei que estou predestinado a ser jogado num buraco negro. Aprendi a aceitar isso. E convivo em paz com essa ideia.

Desde pequeno meu sonho é viajar pelo espaço, e agora, está acontecendo. talvez não do jeito que eu imaginava, mas tentarei ser otimista. Ainda há uma chance de sobrevivência. O Dr. Moore pode tornar o meu sonho realidade. Quando as experiências dão certo, o prisioneiro conquista a sua liberdade. Liberdade. Há tempos que não tenho isso. A liberdade já me fez fazer de tudo, tanto fazer chorar quanto fazer sorrir. Fez eu me arrepender, ou então, ser grato. Agora não tenho mais isso. Cada passo dado por mim tem que ser cauteloso, cada palavra que profiro, cada olhada que eu dou, tudo, com o extremo cuidado.

Muitos dentro dessas paredes já se deram muito mal por acreditarem numa falsa liberdade. Aliás, se você está dentro dessas paredes, você já se deu muito mal.

Eu tinha um colega de quarto. Seu nome era Jhonattan, um rapaz muito sem noção. Era mais um daqueles que mesmo estando preso agia como se estivesse livre.

Essas pessoas funcionam como um pássaro na gaiola. mesmo presos ainda batem asas com esperança. Eu estou exatamente onde deveria estar, aprendi a me conformar com o meu destino, seja ele bom ou mau.

Jhonattan era cabeça dura. vivia bolando planos pra fugir da cadeia, pra pegar comida cara da cozinha da base, pra ter os melhores lençóis. Funcionava, às vezes.

Mas quando éramos pegos (afinal, eu também levava a culpa por ser cúmplice dele), perdíamos mais do que ele tinha ganhado. uma semana sem lençóis, uma semana lavando os banheiros, uma semana sem comer... Enfim, diversos castigos severos e desagradáveis, e tudo pela cabeça dura do Jhonattan. Aquele imprestável! Só nos metia em roubadas, só me trazia problemas, dificuldades! Esse lugar horrível está povoado de pessoas que não compreendem que para conseguir a liberdade, não se consegue sozinho. O poder da união é real. A resistência só é resistência de verdade se há união e determinação em chegar ao objetivo. Não é que a liberdade venha pela força, nem a paz pela guerra. É que a liberdade só se consegue resistindo, e a paz só se consegue com o amor.

Jhonattan estava sozinho, era um "baderneiro. Fazia protestos sozinho, gritava por melhores condições e menos violência, e aos poucos pessoas que pensavam o mesmo mas tinham medo de se expor começaram a se juntar a ele.Ele esperava conseguir liberdade com isso, mas só conseguiu ser morto numa experiência de nível arriscadíssimo.

Mas foi só depois da morte dele que eu entendi, ele nunca esteve sozinho. A revolta dele acendeu uma chama em outros, que começaram protestos em prol de menos rigidez e violência dentro da prisão.

Não demorou muito para a notícia se espalhar por Oran. Como de costume, houveram múltiplas opiniões sobre o assunto. Haviam aqueles que diziam: " Como assim diminuição de violência e melhores condições na prisão para pessoas que mataram sem dó, tiraram renda dos outros, prejudicaram o desenvolvimento da cidade? Isso é injustiça!" Assim como haviam aqueles que diziam: "Os militares responsáveis pelo complexo presidiário estão abusando do poder deles. Matar pessoas por desobediência é falta de humanidade, além de que os militares estão se rebaixando ao mesmo nível dos criminosos."

No fim, foi aprovada uma lei para melhores condições e menor violência nas prisões, porque todas as prisões de Oran protestaram. E é por isso que nós agora recebemos créditos, inválidos fora da prisão, e dependendo do nosso comportamento recebemos mais deles, ou menos.