[Viewpoint Matthew Morgan 12/09/2019 Nova Iorque]
Passei a noite em claro, cada minuto parecia uma eternidade para mim. A todo momento mandava mensagens para Jonas perguntando como Alice estava, se era mesmo ela e se sabia alguma coisa sobre o porquê de ela não ter dado nenhum sinal de vida. Me contorcia no sofá procurando uma posição confortável, mas nada satisfazia meu coração inquieto, minha vida virou uma montanha russa onde uma hora estava planejando meu casamento e o recomeço de minha vida, e na outra minha falecida esposa aparece e junto dela todos os sentimentos que um dia tentei enterrar.
As onze e meia minha vida saiu do primeiro loop, em uma mensagem vinda do número da JowJow estava dizendo que iríamos nos encontrar as uma da tarde na casa deles, os dois levariam a Charlie ao parque para nos deixar sozinhos por um tempo. Pela primeira vez meu coração pareceu bater menos acelerado naquela manhã. Como na montanha russa a calmaria não durou muito tempo e depois de uma pequena tranquilidade veio a queda, Wendy acordou e assim como a noite não se preocupou em sequer olhar pra mim, foi direto para cozinha e por lá ficou, preferindo comer sozinha do que ficar perto de mim.
Saímos juntos de casa, mas ainda em silêncio, ela me deu as costas assim que pode entrando em seu carro prata enquanto eu fui caminhando para a casa de meu amigo, precisava desanuviar um pouco antes de encarar Alice. Estava nervoso e isso era nítido, depois de todo esse tempo desaparecida precisava de uma explicação, porém o medo de ouvir algo que fosse apenas para tapar buracos era eminente. Por fim, decidi afastar esse pensamento de minha cabeça e continuar caminhando o mais rápido possível.
Ao entrar na casa meus olhos a procuram instantaneamente, ainda era estranho para mim ver seu rosto sem ser em fotografias, ela estava sentada na mesa de jantar lendo um livro, era engraçado como mesmo depois de tanto tempo suas manias não mudaram, como sempre ela estava concentrada demais para ouvir o barulho da porta, seu cabelo estava preso em um coque bem feito e vestia uma blusa de alça azul e um short Beach emprestado a ela por nossa amiga Joana.
Assim que me viu ela sorriu e andou em minha direção me dando um abraço forte, retribui e no mesmo momento foi tomado por um misto de emoções, pela primeira vez a ficha caiu, ela estava realmente viva e em meus braços me permitindo sentir seu perfume natural outra vez.
O rosto da morena estava encostado em meu peito, ela tentava esconder de mim seu choro porém minha camiseta molhada e o fungar de seu nariz não deixavam. Alice levantou a cabeça e pude admirar seus lindos olhos verdes e seu nariz vermelho que acentuava sua beleza, diferente do normal ela estava um pouco mais bronzeada e seu cabelo bem mais longo. inclinei-me encostando nossos narizes, seu olhar ainda estava sobre mim e sua boca abriu alguns centímetros, com a mão em sua cintura a puxei para mais perto ouvindo um pequeno suspiro sair de sua boca, sentir sua respiração sobre mim aliviava meu espírito, decidi selar nossos lábios e ela virou o rosto limpando as lágrimas em seguida.
— Nós... não podemos... — com ar de desapontamento Alice se afastou de mim e fez menção para que eu sentasse — pelo menos até você fazer sua escolha.
— Alice, eu só quero saber o que aconteceu, onde você estava esse tempo todo e por que nunca entrou em contato conosco? Era uma ligação e eu te esperaria para sempre. — ela se sentou na mesa e fiz o mesmo ficando frente a frente, a morena umideceu os lábios e respirou fundo pronta para falar.
— Bom, até hoje eu não sei muito bem como tudo aconteceu, me lembro de estar dormindo quando ouve o incidente com o veículo. Por onde andava tinha muito fogo e a água já estava começando a infiltrar no navio. Eu estava desesperada, corri durante uns vinte minutos até achar todas as pessoas, elas estavam aglomeradas tentando conseguir uma vaga nos botes salva-vidas, fui tentando me locomover nessa multidão quando de repente me empurraram para fora da embarcação, a única coisa que me lembro desse momento foi bater a cabeça na casca do navio e depois a escuridão total.
— Ta, e como isso fez você sumir por cinco anos? — a interrompi, sendo repreendido apenas com um olhar.
— depois disso acordei com algumas pessoas ao meu entorno, mais tarde descobri que eram pescadores da região que me resgataram mar a dentro. Fui parar em um pequeno país no sul da África e viver la foi um pesadelo porque ninguém ali falava nossa língua e bom, nem sabiam o que era telefone. Demorou um ano até encontrar alguém que me compreendesse, graças a ele consegui arrumar um emprego como faxineira em um restaurante na cidade vizinha, o que era ótimo já que não precisava me comunicar com ninguém. — a morena parou de contar, talvez tentando decifrar meu olhar, mas estava tão concentrado que ela acabou desistindo. — nas primeiras semanas tentei comer o mínimo possível, a moeda de lá era muito barata e cada centavo contava para voltar e ver vocês, na segunda semana uma cozinheira do restaurante percebendo que estava me privando de alimentação começou a separar a refeição do restaurante em um prato para mim e mais para frente me ofereceu moradia sem mesmo entender o que eu dizia. Somente com quatro anos lá juntei o dinheiro suficiente para voltar, comprei minha passagem e fui para embaixada americana onde fizeram testes de Dna e outras coisas, depois entraram com a ação para revogar meu atestado de óbito que só deve sair no mês que vem e depois me deram um novo passaporte para vir.
—Porque não pediu o telefone de alguém na cidade que você foi? — permaneci sem expressão assimilando tudo o que me foi dito.
— Eles não tinham dinheiro para pagar a conta de uma ligação internacional, e também não possuíam internet. Acredite, o que eu mais queria era falar com vocês, sentir seu cheiro, abraçar a nossa filha... — Alice começou a ficar vermelha e seus olhos se encheram de água.
— Está tudo bem, já passou, nós estamos aqui agora. — peguei em sua mão e ela sorriu como se me agradece-se.
— Desculpa, mas não estão. Você tem outra vida agora, quer dizer, nossa filha também. Fiquei muitos anos fora e você seguiu a vida me deixando no passado assim como o tempo.
— Não fala isso! Eu pensei que não estava mais viva, foi difícil, eu nem sei o que pensar agora, mas eu nunca deixei de te amar.
— mas ama outra pessoa e tudo bem eu entendo, só não quero fazer parte — desvencilha sua mão da minha a levando ao rosto para secar novas lágrimas que caiam de maneira exacerbada.
— E se eu escolher você agora? Não me faz viver sem você novamente. — meu coração estava em pedaços só de pensar que eu a magoei seguindo minha vida.
— Não é certo, você está noivo, o que vai dizer para ela? Eu posso pedir o divórcio no mês que vem, se quiser pensar em alguma coisa você tem esse tempo.
— Me de um último beijo por favor. — fechei os olhos sentindo a lágrima escorrer de meus olhos.
— Chegamos! — Jonas abriu a porta com eufória seguido por Joana e Charlie que tomavam sorvete.
—Oiie meu amor! Papai veio te buscar! —a menininha correu até a mãe pulando em seus braços e me ignorando completamente.
— Mamãe, por quê está chorando? — Charlotte seca o rosto de sua mãe delicadamente esperando sua resposta.
— mamãe só está muito feliz em ver vocês de novo — a mulher menti com um sorriso falso estampado no rosto. — vai lá escovar o dente para voltar pra casa do papai.
— você não vai voltar com a gente mamãe? — a menina fez cara triste.
— Não filha, tenho que fazer coisas de adulto e não posso mais morar com o papai, mas amanhã vou te visitar sem falta tabom — minha filha acentiu com a cabeça e correu para o banheiro.
No fim dessa montanha-russa sai como alguém que tem medo de altura, desolado, confuso, enjoado, com um misto de emoções que nem ele próprio entende, a coragem que tive para ir até lá foi a mesma que ficou quando fui embora, junto de mim só ficou a saudade e o medo de tomar qualquer decisão.
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Choices (Em Revisão)
Romance1 dia, 1 volta em torno do sol, 365 dias, 8760 horas, 525.600 minutos,31.536.000 segundos,52.560.000 batimentos cardíacos. Todos estes números são formas de demostrar um ano, mas você deve estar pensando, o que isso pode ter a ver com este livro? E...