Uma visita inusitada e um traidor anônimo.

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Park Chanyeol observava o mar. Ele tinha feito isso tantas vezes em sua vida, que seria compreensível se caso já estivesse enjoado da mesma paisagem. Mas ele não estava, pelo contrário, desde a infância fantasiava navegar por aquelas águas com sua própria tripulação, vivenciando aventuras incríveis e conhecendo lugares extraordinários. Era como se a água salgada o chamasse pelo nome, magnetizando todo seu corpo.

Aos nove anos de idade, o pai o levou finalmente para conhecer o mar, e esta foi a primeira embarcação da vida do menino. Fora a primeira vez em que os olhos infantis tiveram a oportunidade de assistir o mar aberto, a primeira vez que os pés tocaram na madeira de um barco e a chance única de vislumbrar pessoalmente o espetáculo com luzes verdes, dançando pelo céu durante a aurora boreal que o foi dado no segundo dia de viagem.

Naquela noite, à bordo, ele conheceu a sensação de torpor enquanto o vento brincava até o amanhecer passando pelos seus cabelos crescidos até o meio da nuca. Foi a experiência mais fantástica de todas. Ele mal conseguiu dormir de tanto que seu coração estava acelerado.

O pai era um capitão respeitado e temido, e acima de tudo, uma figura paternal nada atenciosa. O homem vivia trancado em sua cabine, lotado de papéis e garrafas de Rum enquanto o filho ficava num espaço reservado, brincando com o barco de brinquedo que havia ganhado de sua mãe, quando tinha três anos de idade. Ainda que o pai fosse ausente, Chanyeol o admirava mais do que tudo e colocava a mão no fogo por ele.

Aos dezoito, ele teve o dia mais feliz de sua vida. Seu pai o chamou e o presenteou com o aviso de que o rapaz o acompanharia nas próximas navegações. A partir de então, Chanyeol percebeu que venerava navegar como nunca venerou nada tão belo no mundo. Quando ouvia o barulho do mar e dormia observando as estrelas pela janela, chegava à conclusão de que aquela era com toda certeza, a forma mais pura de degustar do amor verdadeiro.

E agora, aos seus vinte e oito anos de idade, preparava-se em seu silêncio ― observando a vista à frente de seu barco ― para ir comandar sua primeira viagem com sua própria tripulação. Para ele, seria um marco indescritível, afinal, seu sonho estava se tornando realidade, mesmo que sua mãe estivesse aos prantos e trancada no quarto, emburrada pela escolha do filho e mesmo que seu pai tivesse discutido com ele dois dias antes, alegando que não o apoiaria em tal decisão.

Chanyeol não os entendia, eles pareciam deuses que haviam preparado toda a terra fértil e agora se lamentavam por ter nascido flores nela. Pareciam condená-lo de construir seu próprio jardim. Apesar de tudo, ele não queria culpá-los pela preocupação paternal. Ele era filho de um dos capitães mais consagrados de todos os tempos.

A notícia havia corrido por todos os cantos. Careciam de homens valentes que se apresentassem ao castelo e abdicassem a vida boa para lutar ao lado das tripulações marítimas. Chanyeol viu na proposta repentina, uma oportunidade de realizar a ambição particular. A única até então.

O capitão, seu temeroso pai, havia ficado cego na última guerra. Chanyeol sabia que a súbita mudança fez com que este fosse obrigado a se afastar dos mares para sempre, o levando juntamente a se adaptar a uma rotina completamente diferente da anterior, se trancado entre as paredes do seu quarto e tendo aulas particulares. Restaram apenas milhões de histórias para contar no jantar e um orgulho cortante toda vez que o filho pedia para contar algum detalhe sobre a última navegação.

Chanyeol percebeu que o pai não o descreveria nunca o que de fato havia ocorrido, pois o buraco que haviam feito dentro de si, ainda o machucaria por longos anos. E nenhum homem é capaz de fazer com que lesões internas parem de sangrar de um dia para o outro.

Ele estava a ponto de entrar no barco quando ouviu a voz da mãe repetir seu nome em meio à multidão. Várias pessoas se despediam dos corsários selecionados para a missão, a maioria chorando tão alto que Chanyeol se questionou se de fato a voz que ouviu era conhecida.

POLARIS |  ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora