Entregues ao desejo mútuo.

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O desespero fazia-se tão presente quanto o barulho da tempestade na noite tão obscura, impedindo que os gritos chamando pelo nome do capitão pudessem ser ouvidos com clareza. Chanyeol estava desacordado, com o corpo depositado entre as primeiras ondas da praia e o princípio da ilha. Havia sido deixado naquela situação por Polaris, assim que este pousou em uma superfície segura.

Baekhyun se encontrava jogado ao lado do corpo maior que o dele, tentando recuperar a respiração. Ignorando as dores pelo corpo que o percorreram instantaneamente, ele buscou força de onde não tinha, se inclinou para o lado e ainda recebendo as gotas pesadas de chuva, pôs-se a cutucar o corsário, em busca de confirmação.

― Chanyeol, acorde! Precisamos sair daqui.

Não houve resposta e o medo nunca foi tão vívido. Baekhyun já não sabia mais o que eram lágrimas ou pingos de chuva, mas tinha certeza de que seu rosto estava sendo lavado com a mistura de ambos.

Concentrou-se em recuperar a própria estabilidade física, ficou de joelhos e fez a massagem sobre o peito do capitão. Tentou com a palma da mão sobre a outra, pressionar o ponto de massagem cardíaca sobre a área pulmonar do homem desacordado abaixo de si.

De canto, notou que os irmãos estavam ao longe, o assistindo.

― FAÇAM ALGUMA COISA! ― Os lançou, distante.

Polaris buscou ajuda, olhando para Thuban de escanteio e viu uma pilha de piedade desgastando os olhos do irmão, o que o deixou ainda mais desanimado. Vega por sua vez, tentou dizer algo, mas em meio ao surto do irmão nenhuma frase seria suficientemente afetuosa para aquele momento.

Sem outra opção, massageou o mesmo local e fez respiração boca a boca, sussurrando uma súplica arrastada entre uma tentativa e outra. Era injusto que o ósculo sucedesse pela necessidade de animação, que o último contato com o capitão fosse daquela forma, regado por desistência, receio e aflição, numa busca ousada de recusar um possível fim.

Baekhyun deitou a testa sobre o peito de Chanyeol e apertou os olhos, chorando. Não sabia para quem suplicar, mas chorou como se algo ou alguém fosse ouvi-lo. Seu interior só implorava para qualquer coisa divina que existisse além dele, pudesse resgatar a vida naquele corpo frio e ensopado pela água. Queria de volta os cabelos longos se mexendo, a expressão de bravura e o orgulho persistente do outro, tendo como remetente, ele, que o assistiu crescer. Só o queria de volta de qualquer forma, mesmo que soubesse que de longe ou de perto, ele nunca deveria esperar eternidade de algo que nunca estaria completamente ao seu alcance.

Com os dedos fincados no pano fino, Baekhyun apertou o tecido das roupas de corsário enquanto sentia que dessa vez, as lágrimas haviam superado o limite da água em sua feição. E estava tudo bem em chorar por enquanto, porque desconhecia outra forma de conseguir liberar a tristeza que o entupia por dentro.

Os dedos que possuíam as pontas marcadas pelo toque de luz, acariciaram as madeixas molhadas de Baekhyun, este que levantou a cabeça assim que recebeu o carinho inesperado do corsário e quando encontrou com o olhar brando de Chanyeol, nunca se sentiu tão leve em toda sua vida.

Chanyeol abriu e fechou os olhos, totalmente confuso sobre o que estava acontecendo. Notou que chovia sobre seu corpo, assistindo durante aqueles breves instantes, o espetáculo assustador dos pingos caindo enquanto os trovões e raios roubavam a cena entre as nuvens.

As dores nas pernas o passavam a sensação de que havia um saco de batatas em cima de cada uma delas, imóveis pelo cansaço. Mas o que acalmou seu coração foi notar que seu herói estava vivo, chorando em cima de si por alguma razão que desconhecia. E quando tocou os cabelos dele e acariciou-o por um momento, tentando acalmá-lo, sentiu o súbito tremor abaixo de sua palma da mão, diminuir.

POLARIS |  ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora