Tudo aquilo que move um capitão.

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Talvez não houvesse escapatória. Chanyeol só tinha rancor borbulhando em seu interior enquanto seus dentes puxavam brutalmente os pedaços de pão que haviam restado para alimentar sua barriga faminta.

Ódio seria um plantio vagaroso e torturante demais para se cultivar. Mas surpreendentemente, não era esse o sentimento por aquele que havia cegado seu pai, na verdade, o capitão se lamentava pelo abismo em que ele e Baekhyun haviam caído. Não havia escapatória, só profundidade. O destino havia os jogado de um pico extremamente alto para encontrar uma superfície segura. E para piorar, Chanyeol acreditava, pela primeira vez em sua vida, ele acreditava verdadeiramente em algo e ao mesmo tempo, grande parte de si não se importava mais com o orgulho manchado. Era nítido que a insistência no ceticismo não o salvaria daquela tempestade.

Ele caminhava pelas calçadas com os pensamentos bagunçados, entre as sombras de casas extensas, numa rua pouco movimentada. Havia apenas um único conhecido naquele país que poderia dá-lo auxílio, mas, num todo, Chanyeol não tinha certeza se não seria traído novamente, afinal, o martírio da deslealdade que havia caído em suas costas o dobrava doloridamente para frente.

Chegou até uma moradia específica e torceu para que o sujeito ainda vivesse lá. Bateu na madeira e deu passos para trás, esperando ser atendido. A porta se abriu lentamente, a ponta de uma espada surgiu como boas-vindas, sem que o dono desta se mostrasse completamente.

― O que deseja? ― Uma voz feminina veio de dentro da casa. O rosto estava escondido por uma sombra.

Chanyeol franziu o cenho.

― Procuro pelo Senhor Do, sou Chanyeol. Park Chanyeol, filho do capitão que o conheceu há alguns anos. Senhor Do levava informações de um país para outro, e ajudou bastante meu pai na época da guerra.

― E o que deseja? ― Balançou a espada, ainda o apontando.

― Pelo que meu pai me contou, ele era de extrema confiança. Toda minha tripulação me abandonou e eu acabei de descobrir que quem queria me salvar, na verdade, causou a minha maior consternação. Estou aqui porque acredito que o Senhor Do mereça saber que seu amigo, o meu pai, voltou cego de sua última navegada.

A espada sumiu de sua vista e a porta foi fechada diante do capitão. Chanyeol suspirou pesadamente e se virou, pronto para ir embora e desistir. Até que ouviu o barulho de correntes antes da porta se abrir novamente.

Ao se virar de volta, Chanyeol se deparou com uma mulher elegante, dona de uma beleza estonteantemente delicada. Os cabelos negros e ondulados iam até o busto e a roupa ondulava o corpo de forma natural. O corsário conseguiu reconhecer a calça comumente masculina e a corpete de ponta em V acentuando a cintura, e se surpreendeu ao gostar da combinação. Não que ele tivesse que aprovar algo, mas não era nada comum um estilo atrevido como aquele no século em que estavam.

― Certo! ― Ela comentou enquanto o analisava dos pés a cabeça. Tinha uma das mãos descansando na lateral da porta. ― Pode entrar, mas não mexa em nada.

Chanyeol adentrou a casa com os olhos bem abertos, atento a toda decoração diferenciada que havia em cada cômodo. Inúmeras plantas e cristais enfeitavam as paredes e quadros estranhos pintados com muitas cores serviam de arranjo. Ele se sentou na única cadeira que tinha num espaço muito humilde e aconchegante.

― Park Chanyeol. ― Ela repetiu alto enquanto pegava para si folhas enroladas e acendia num tabaco.

O capitão se surpreendeu com a atitude. Julgou que o costume havia vindo do Senhor Do, este que sempre herdava tradições de inúmeros países ocasionados em viagens a trabalho. Até que notou as cicatrizes, todas espalhadas pelo corpo, cada qual idêntica as que o Senhor Do possuía e que seu pai havia contado serem comprovações de combates anteriores.

POLARIS |  ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora