Prólogo: Aqueles que morrem de flores são tão infelizes quanto almas solitárias

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Kihyun desenhava, com as pontas dos dedos de sua mão direita, carinhosa e docemente, pela testa de Minhyuk, o qual estava deitado, de olhos fechados, entre seus braços, de forma encolhida, como se criança fosse. A cama, sutilmente bagunçada, com o lençol desdobrando-se para o lado e o travesseiro quase que escalando a cabeceira de madeira, abrigava os dois corpos esguios de Kihyun e Minhyuk; a cortina, esbranquiçada, flutuava acima de suas cabeças graças ao sopro gélido que assobiava do lado de fora, vez ou outra arrancando folhas pálidas dos galhos, acabando, dessa forma, por trazê-las para dentro do quarto de Minhyuk.

Era outono.

Kihyun amava o outono como amava Minhyuk. Amava, se não mais. Bastava Minhyuk sorrir que, como se fosse tocado pelo Lee, seu corpo se derretia. Kihyun deu um suspiro longo, queria tê-lo em seus braços para sempre. O Yoo, por outro lado, sabia que isso seria impossível. Minhyuk era como o outono; sempre trajava cores neutras e em tons pastéis, e, o fato de seus óculos de aros dourados o darem o aroma de leitor de romances e escritor nas horas vagas, deixavam Kihyun ainda mais tolo porque adorava olhar para o melhor amigo. E ele o olhava silenciosamente há quase dez anos, degustando, sozinho, do amor que ele incrementara ao longo dos meses desde que completaram treze anos.

Minhyuk deu um sorriso de canto ao que ergueu, lenta e gradualmente, seu rosto, para que pudesse pegar Kihyun de surpresa, cujo encarava a tela em branco, apoiada no tripé, cercada de pequenos potes de tinta e uma paleta no pé da cama. O Lee amava a arte, e Kihyun sabia disso. Por isso, sempre que havia uma exposição na cidade, o de fios escuros convidava Minhyuk para ir com ele. A arte de Minhyuk era bela, não tanto quanto seus orbes quando finalmente sabia quais cores pintar suas flores, porém, bela. Kihyun considerava-se um mero espectador na vida do platinado, sempre o elogiava por trás dos panos avermelhados do teatro que estava sendo fingir que não sentia seu coração bater mais rápido sempre que estavam juntos. Quando as mãos de Kihyun suavam e seus lábios se contorciam de forma inquieta, ele sabia que se Minhyuk tocasse seu ombro e indagasse qual era o problema, ele infartaria ali mesmo. O principal problema de Kihyun é que era extremamente transparente, como a água do oceano mais límpido no dia mais ensolarado. E, por não saber esconder o que sentia, o Yoo, de vez em quando, tropeçava nas próprias palavras e procurava desconversar se passava tempo demais observando Minhyuk. No entanto, uma das coisas que Kihyun não conseguia fazer, além de ser um fracasso em quase todas elas, era não olhar para Minhyuk quando ele preenchia a tela branca com suas bagunças, cujas tornavam-se claras ao que as cores pegajosas das tintas coloridas abrigavam o rascunho traçado por este. Enquanto Kihyun apenas não fracassava ao escrever suas poesias românticas, Minhyuk não falhava em ser o centro das atenções. Seus dedos, longos e finos, delicados e hábeis, inundavam as pinturas com suas cores e encantavam aqueles que apreciavam os traços do Lee.

— Já sei o que vou desenhar — disse o platinado, com um sorriso radiante ao se sentar na cama. Apoiou as mãos, uma de cada lado de seu corpo, e inclinou as costas um pouco para trás, de forma que olhasse para o teto, como se fosse sua tela e ali ele fosse deleitar todas as suas lamúrias e perdições.

— O que? — indagou Kihyun, curioso, ao escorar suas costas na cabeceira da cama, tendo, em primeira mão, a imagem de um Minhyuk pulando do colchão e saltitando até o centro do quarto, cujo, diga-se de passagem, somavam duas casas de Kihyun, onde estava a tela. A verdade é que Minhyuk cresceu em uma família extremamente rica e, com isso, vieram enormes responsabilidades. A todo momento, o Lee devia agradar e fazer como bem entendessem, ao bel-prazer dos pais. Pela manhã, ia para a escola com Kihyun, à tarde, tinha aulas no cursinho e, pela noite, quando tinha paz, pintava. O de fios escuros tinha certa inveja do melhor amigo, tudo sabia, tudo conhecia. Era fato e Kihyun sabia que o mero esforço não podia superar aqueles que já nasciam com o dom.

SEE YOU AGAIN「 Changki 」Onde histórias criam vida. Descubra agora