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Christopher

Era começo da manhã em Seacity. Eu, meu pai e seus marujos saímos para a nossa primeira viagem marítima pelos arredores de uma das crateras mais profundas do continente. Um lugar pouco explorado e que com toda certeza poderia guardar riquezas inestimáveis.

Meu pai, capitão da marinha, comandava toda a equipe do barco. Eu seria responsável por descobrir que espécies viviam ali e como sobreviviam em águas tão turbulentas e profundas.

— Isso pode ser perigoso, rapazes. Peço que todos mantenham seus corpos totalmente dentro do barco. — meu pai anunciava andando pelo convés. Enquanto o barco vagava pelo mar, eu ia observando e identificando os peixes que nadavam em cardumes ao lado. — Desde criança, você nunca olhou pra outra coisa que não fosse para a água. Nunca quis aprender a velejar, só queria saber de ficar olhando os peixes. — meu pai sentou ao meu lado e sorriu.

— A vida marinha me fascina. — suspirei. — E confesso que eu gosto mais de nadar com os animais do que velejar sobre eles.

— Pelo menos você e seus irmãos tomaram gosto pelo oceano, cada um do seu jeito único.

Eu me tornei biólogo, trabalhava diretamente com os seres vivos e passava a minha vida viajando só para estudá-los. Minha irmã, Maite, também era bióloga marinha, mas não realizava trabalho de campo. Seu negócio era o laboratório, atrás dos microscópios. Meu irmão, Alfonso, assim como o meu pai, entrou para a marinha e atuava em outro estado.

Todos nós crescemos perto da água e dedicar nossas vidas à ela era inevitável. Todo aquele vento com aroma salgado me dava uma paz inestimável. Não trocaria o oceano por nada.

•••

Com minha roupa de mergulho e preso a um cabo que não me deixava ir tão longe, eu usava uma câmera especial para captar toda a vida ao redor daquela cratera. Meu pai insistiu que eu não me aproximasse tanto da beira para não correr o risco da gravidade daquele buraco me puxar para dentro.

Reparei que os animais ali eram os mesmos que costumavam viver em águas mais profundas, mas o que estariam fazendo na superfície? Deduzi que viviam dentro da cratera e saíam apenas para alimentar-se.

Ainda embaixo d'água, eu comecei a ouvir um sussurro ao pé do ouvido, algo que parecia um canto. Mas estava tão perto que parecia ter alguém com a boca colada em mim.

Nadei até a superfície e vi que meu pai e os outros haviam afastado o barco e consequentemente, eu comecei a ser puxado pelo cabo que me prendia.

— PAI!! — gritei. — EU AINDA ESTOU PRESO AQUI!! — me desesperei ao ver que eles iam direto para o meio da cratera. — PAI!!! — eu tentava soltar o cabo de todas as formas possíveis.

Foi quando eu vi a coisa mais inacreditável da minha vida. Todos os homens começaram a se jogar na água, sem nenhum tipo de proteção. Franzi a minha testa observando aquela cena sem entender nada.

O canto que eu ouvia estava vindo diretamente de lá, era apenas um sussurro para mim, mas com certeza eles ouviam mais alto.

Vi meu pai também se atirando na água e comecei a nadar naquela direção. Quando parecia que todos os homens já estavam no mar, boiando de costas com um sorriso sereno no rosto, o canto parou. Eu parecia ser o único acordado em meio a todos eles.

— Ei, pai! — cheguei até meu pai e o sacudi, mas ele não respondeu e continuou sorrindo. — Pai?

Tudo estava silencioso demais e eu comecei a sentir um calafrio subir em minha espinha. De repente, senti uma leve corrente sob meus pés, como se alguma coisa tivesse nadado rapidamente próximo de mim. Pensei logo em tubarões, então nadei arrastando meu pai em direção ao barco.

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