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Christopher

Dois meses de afastamento do trabalho.
Eu nem acreditei quando recebi a notificação. Eu estava proibido de entrar em alto mar por qualquer motivo que fosse.

— Eles não podem fazer isso comigo! — berrei, batendo minhas mãos com força sobre a mesa.

— Você está tomando seus medicamentos? — Maitê me olhou com preocupação.

— Eu não sou louco!

— Christopher, já faz três dias, você tem que se concentrar e entender que nada do que você diz faz sentido. Eu estou te pedindo de coração pra que tome os seus remédios. Peço porque te amo e quero que esteja bem.

— Você disse que ia me ouvir, prometeu que iria me escutar e mesmo eu explicando tudo com detalhes, você continua achando que eu sou louco!

— Eu não acho que você seja louco. Só acho que passou por muita coisa e tudo te abalou, é normal que esteja traumatizado.

— Para de falar isso!!! — gritei, fazendo com que ela se assustasse.

— Opa, o que é isso? — a porta da frente foi aberta e Alfonso entrou. Ele cheirava a sal e tinha areia da praia por toda a roupa. — Tudo bem por aqui?

— Com o Christopher nada nunca está bem! — Maitê ficou de pé. — Eu fico tentando te ajudar como eu posso e como você me agradece? Insistindo numa coisa que só existe na sua cabeça! Tudo o que eu peço é pra que tome os seus remédios, mas nem isso você faz! Quando o papai estiver aqui... — a interrompi.

— O papai morreu! Você diz que eu insisto numa história que não existe, mas e você?? Acha que o papai ainda está vivo quando todo mundo já aceitou que ele morreu! Quem aqui é o psicótico? — gritei no mesmo tom que ela.

A sala ficou silenciosa, Alfonso colocou as mãos na cintura e mirou o chão. Maitê continuou me encarando, seus olhos marejaram e para não chorar na nossa frente, ela saiu correndo dali.

— Precisava? — Alfonso me olhou com repreensão.

— Ela diz que eu fico insistindo em algo que não existe, que eu estou enlouquecendo, mas daqui a pouco ela vai estar vendo o papai nos espelhos da casa. E quando as buscas pararem? E se acharem o corpo dele? Como ela vai reagir?

— É a forma que ela tem pra lidar com isso e eu entendo que você tenha a sua, criando toda essa fantasia na sua cabeça. Mas quem está pior? Alguém que ainda tem esperança de ver o pai, ou alguém que coloca a culpa em uma sereia?

— O que quer dizer?

— Quero dizer que você está doente, ela não.

— Alfonso...

— Olha, desde que eu pisei aqui, eu escuto a May chorar todo dia de madrugada por sua causa. Ela já perdeu o papai, não faça ela perder você também. Então, pela milésima vez, toma a droga do seu remédio! — colocou o dedo no meu rosto.

— Pra você eu não faria falta, não é?

— Christopher, eu não vou discutir com você. — ele tirou as botas e o casaco e deixou na entrada.

— Vocês não acharam nada?

— Não. Parece que os corpos foram completamente sugados pra dentro da cratera, como se houvesse algum tipo de gravidade que não deixasse nada boiar. A gente não quer mandar mergulhadores justamente por esse motivo.

— Não é bom que mandem mesmo, se aquela coisa ainda estiver lá... — parei de falar quando ele respirou fundo.

— O que aconteceu de verdade? Fala a verdade. — foi firme.

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