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Dulce

Não que eu quisesse alimentar as esperanças de Christopher, apenas não desejava que ele achasse que eu não gosto dele. Eu gosto da maneira como ele parece apaixonado pelos animais marinhos e o jeito que trabalha com muito amor.

Não o conhecia bem para saber se era uma boa pessoa ou não, mas a forma como ele trata os animais diz muito sobre a sua pureza. Talvez, eu conseguisse fazer ele ser meu amigo, assim como o Christian.

Preparei biscoitos usando a receita da minha mãe, que era uma das poucas coisas sobre a minha família das quais eu me lembrava com detalhe. Deixei no laboratório, na mesa dele, pouco depois de terminar todos os meus serviços. Quando ia sair, a porta foi aberta por Maitê.

— Ah, oi, Dulce! — ela sorriu.

— Olá. — sorri também.

— Precisa de alguma coisa?

— Só vim deixar uns biscoitos pro Christopher, já estou de saída.

— Hum... — me olhou de canto. — Parece que você encontrou alguém digno de você, não é?

— O que? Não, não é isso! — eu ri. — Eu só estava sem nada pra fazer, fui até a cantina e preparei os biscoitos, só isso.

— Ok... — ela continuava me olhando com insinuações.

— Até mais, Maitê.

— Até mais, cunha... Dulce. — deu risada. Eu fiquei levemente corada pela brincadeira e sorri sem jeito, saindo o mais rápido possível de lá.

Ainda era o meio da tarde e o sol ainda esquentava aquelas ruas de ladrilhos. A rua estava movimentada e eu torcia pra que ninguém estivesse na praia, mas para o meu azar, o lugar estava cheio.

Fui direto para o cais, onde poucos barcos estavam ali, completamente vazios. Sentei no chão de madeira e coloquei meus pés na água.

Olá, minha querida! — Ela disse, com carinho.

— Olá!

Você veio cedo, geralmente eu só te vejo à noite.

— Adiantei todo o meu trabalho pra vir aqui.

Já que está aqui, eu vou precisar de você.

Ok... — e a sensação de vazio me inundou. Eu tinha que fazer aquilo, mas me fazia um mal inexplicável.

Entre no mar, eu te guiarei.

Quantas pessoas?

Eu senti pelo menos trinta almas.

Tudo bem... vamos fazer isso.

Mergulhei no mar e lá dentro, eu tirei todas as minhas roupas e as coloquei numa rocha, afastada do cais. E a minha calda surgiu. Nadei para longe, bem rápida, sendo guiada por Ela.

Já estava bem longe da cidade quando avistei um barco médio. Parecia um barco de passeio, desses alugados por várias famílias.

Cante. — Ela pediu.

— Tem crianças lá.

Toda alma é válida.

Mas... — me interrompeu.

Vai me questionar?

Forcei-me a cantar, enquanto minhas lágrimas desciam. Eram mais de setenta anos fazendo aquilo e eu jamais me acostumaria. Sentia remorço por cada vida que eu tirava, cada sonho interrompido por mim. Eu carregava o peso daquelas mortes todos os dias, sem ter nenhum minuto de paz.

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