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Dulce

Aquela dor era insuportável.
Eu via o meu sangue deixar um rastro vermelho na água enquanto eu tentava nadar o mais rápido possível.
Não era a primeira vez que eu era atacada por um humano, mas era a primeira vez que um deles arrancava um pedaço de mim.

— Você precisa voltar para a terra. — a voz da Água ecoou na minha cabeça.

Me ajudando, Ela aumentou a correnteza, me empurrando para ir mais rápido até eu chegar na areia da praia.

— Minhas pernas! — gritei pela dor, me arrastando na terra. E pouco a pouco, a minha cauda foi sumindo, dando lugar às minhas pernas.

O ferimento ainda estava lá e o sangue não havia cessado. Ele havia literalmente arrancado um pedaço da minha pele.

Eu não consigo te curar rápido enquanto parte de você estiver em mãos humanas.

Então, eu preciso pegar de volta! Isso está doendo demais!

Levantei e fui até onde deixei minhas roupas. Escondidas atrás de uma pedra alta numa região pouco movimentada. Fiquei apenas de short e sutiã e usei minha blusa para estancar o sangue, a amarrando com força em volta da minha perna.

Não posso localizar a escama enquanto ela não for tocada por água salgada.

O que eu faço enquanto isso?

Descanse, minha querida. Você trabalhou bem hoje.

Mas eu deixei um deles escapar e ele ainda me feriu!

Ele estava na água quando você começou a cantar, estava longe da cratera, não podia te ouvir com clareza e não foi atraído. Está tudo bem, não é sua culpa.

Eu só não quero que ache que eu estou te desafiando. Eu prometi que nunca mais iria contra você. — sentei na areia e deixei que Ela molhasse o meu corpo, como se me abraçasse.

Você já entende que apesar de parecer crueldade, isso tudo é muito importante. Eu preciso me alimentar para poder dar vida aos seres que dependem de mim. É só uma troca.

Sim, eu compreendo e todos nós somos gratos. — falei me referindo aos animais marinhos.

Os humanos me poluem todos os dias, o mínimo que podem fazer é dar suas vidas por mim. Não há nada de errado em tentar sobreviver.

E é por causa disso que eu estou tentando não ficar com raiva do homem que me esfaqueou. — eu ri de leve.

Eu a a Água tínhamos uma relação agradável, pelo menos nas últimas décadas. No início de tudo, eu a odiava por me obrigar a tirar todas aquelas vidas, mas com o passar dos anos, aprendi a necessidade disso e claro, era a única forma para Ela me manter viva.

Eu só estava aqui agora, sentindo essa brisa enquanto enterrava meus pés na areia porque Ela permitia que eu continuasse respirando. Nós duas sustentávamos uma a outra.

•••

Dulce, acorde! — abri meus olhos e me levantei, limpado a areia do meu corpo. Já era noite, eu havia dormido o dia inteiro. — A escama tocou em água salgada. Está no oceanário da cidade, é muito perto daqui. Corra!

As ruas estavam vazias, eu corri rapidamente e em menos de cinco minutos eu já estava no oceanário. A entrada estava destrancada e eu entrei devagar.

Não me lembrava qual foi a última vez que estive em um oceanário. Eu sempre sentia dor por aqueles animais que estavam presos para servir de entretenimento para as pessoas. Eu odiaria ter que passar a minha vida presa numa caixa de vidro, sem poder viajar por países quando eu quisesse.

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