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Dulce

Eu não fazia ideia de quem ele era, foi um momento bem peculiar, eu diria. Porém, não me surpreendia tanto. O fato de eu ser uma sereia me dava um ar atrativo muito maior do que o de qualquer humana comum. Era normal eu ser elogiada ou receber flertes o tempo inteiro quando estava ao redor dos homens.

Depois que ele se afastou, continuei o meu serviço, passando o esfregão no chão daquele corredor.

— Eu vi mesmo isso? — pude ouvir Christian se aproximar. Ele era meu vizinho de quarto na pensão e também trabalhava aqui como zelador. Foi inevitável criarmos uma amizade.

— Viu o que? — comecei a rir, já sabendo do que se tratava.

— Você sabe quem era aquele cara dando em cima de você?

— Acho que ele disse que o nome dele é Christopher. — dei de ombros.

— Christopher Uckermann. O biólogo surtado que jura que seu pai foi morto por uma sereia.

— O que? — deixei o esfregão cair no chão.

— Minha nossa, o que foi? Parece até que eu disse uma coisa horrível. — me olhou com estranheza.

— Nada. — peguei o esfregão do chão. — É que eu nunca ouvi algo assim antes.

— Faz alguns meses, ele e o pai montaram uma equipe pra explorar a cratera que fica a uns cem quilômetros da praia. Alguma coisa aconteceu e toda a equipe sumiu no mar, menos o Christopher. Não aconteceu nenhum naufrágio, porque o barco estava intacto. As pessoas até tentaram perguntar ao Christopher, mas ele só diz que todos os homens se jogavam voluntariamente no mar e foram levados um por um por uma sereia. — Christian terminou a história com uma gargalhada, mas eu continuei o olhando séria. — Meu Deus, era pra ser uma história engraçada!

— Isso não é engraçado, esse homem pode ter um problema. — desviei o olhar.

— Relaxa, ele ficou internado por uns meses e já se recuperou. Vai voltar a trabalhar amanhã, eu acho.

— No laboratório junto com a Dra. Maitê?

— Ele faz mais pesquisa de campo, no mar. Mas eu acho que depois de todo esse trauma, talvez ele fique mais tempo em laboratório.

— Entendi... — será que ele me reconheceria? Bom, pelo menos ele havia conversado comigo normalmente.

— Incrível como qualquer homem que te conhece se interessa. O que você tem?

— Isso não é verdade. — sorri de canto.

— Claro que é! Eu mesmo fiquei maluquinho quando te conheci, só não estamos juntos nesse exato momento porque você é uma ótima amiga e eu não quero estragar isso. — ergueu o queixo convencido.

— E quem disse que eu iria te querer? — brinquei.

— Ei! — ele jogou o pano de seu ombro em mim. — Mas sério, até o senhor Carter vive de flerte pra cima de você.

— Não fale besteiras, ele é nosso chefe. — revirei os olhos.

— Só estou falando a verdade. Ele te olha como se estivesse olhando um quadro do Van Gogh.

— Poético. — eu ri, voltando a esfregar o chão.

— Vou ver se a Dra. Maitê precisa de mim.

— Você quis dizer que você vai dar em cima dela, não é?

— Dulce! — me olhou com repreensão.

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