38

1.1K 120 28
                                    

Christopher

A primeira noite foi até bem tranquila. Enquanto eu assistia televisão na sala, ouvia o arrastar de correntes vindo de dentro do quarto. Parecia que ela não parava de andar de um lado para o outro. E em um instante, comecei a ouvir ela correr e se jogar no chão.

— Você não vai conseguir quebrar as correntes!! — gritei. Ela parou de correr, voltando a caminhar devagar.

Ouvi a campainha da porta tocar, provavelmente era a pizza que eu havia pedido. Abri a porta e pedi que a entregadora aguardasse para eu pegar o dinheiro na cozinha.

Por sorte, depois de ouvir a campainha, Dulce parou de fazer barulho com as correntes. Não queria que a entregadora achasse que eu estava mantendo alguém em cárcere privado. Tecnicamente, eu estava, mas era por uma boa causa.

— Aqui está. — eu entreguei o dinheiro e peguei a caixa de pizza. — Boa noite e obrigado. — eu ia fechar a porta, mas ela me impediu colocando a mão.

— Não se lembra de mim? — perguntou.

— Hum... — eu franzi a testa. Não, eu não me lembrava, mas não queria parecer mal educado. — Pode refrescar a minha memória?

— Carol. Nós saímos a alguns meses, antes de você se casar.

— Ah, Carol! — eu fingi me lembrar, mas na verdade, não fazia ideia de quem ela era.

— Eu sinto muito pela perda da sua esposa, deve estar sendo doloroso. — colocou a mão sobre o peito e me olhou com compaixão.

— Sim, está sendo bem complicado.

— Eu imagino que deve ser horrível perder alguém tão precocemente. Alguém com quem você achou que viveria pelo resto da vida.

— Sim... — Deus, eu só queria que ela parasse de falar e fosse embora.

— Eu sei que eu passei pela sua vida muito rápido e que talvez não tenha significado nada pra nenhum de nós dois, mas eu realmente te achei um cara legal e se você precisar de um ombro amigo, a gente pode marcar de sair algum dia. — eu não podia acreditar que ela usou a morte da minha esposa para flertar comigo.

— Ah, bem...

— Christopher, amor, a pizza já chegou? Eu estou morrendo de fome! — Dulce, que até então estava em silêncio, proferiu aquelas palavras com o intuito de que a Carol escutasse.

— Uau... — Carol me olhou incrédula. — O funeral da Becky foi ontem! Não tem vergonha?

— Do que está falando? Você acabou de dar em cima de mim!

— Eu pensei em conversar e quem sabe evoluir pra alguma coisa, mas essa daí já veio direto pra sua casa e te chama de amor! Meu Deus... — balançou a cabeça negativamente.

— Você já pode ir embora. — eu disse apenas.

— Claro! — revirou os olhos.

— Até mais, querida! Obrigada pela entrega! — Dulce gritou novamente.

— Debochada, não é? — Carol disse, com asco.

— Quer que eu vá aí te mostrar a debochada? — quando ela caminhou, ouviu-se o barulho de correntes e Carol manteve uma expressão confusa. — Ah, esqueci que ele me acorrentou pra que a gente realizasse alguns joguinhos! — deu risada.

— Que nojo! — Carol exclamou.

— Boa noite, Carol. Obrigada pela pizza. — fui fechando a porta me sentindo totalmente envergonhado pela situação.

Alto Mar Onde histórias criam vida. Descubra agora