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Christopher

Eu e Dulce optamos por uma cerimônia simples, feita na praia em um fim de tarde ensolarado. Dulce escolheu o casamento na praia porque queria que a Água fizesse parte daquilo de alguma forma.

Quando a vi caminhar até mim, com seus pés descalços, o vestido longo com uma cauda de renda que se arrastava na areia, uma coroa de flores em sua cabeça e um buquê de rosas vermelhas em mãos, meu coração palpitou. Diferente do meu último casamento, agora eu estava feliz de verdade. Era um sentimento genuíno.

Durante toda a cerimônia, eu não conseguia parar de olhar para ela. Dulce sorria radiante, estava mais linda do que nunca.

Logo após o término da cerimônia, antes de irmos para a nossa casa onde faríamos uma pequena recepção, eu e elas fomos até o mar. Nossos pés foram recebidos pelo toque das ondas.

— Oi, Água! — Dulce falou. — Nós estamos casados! — segurou firme em minha mão. — Queríamos que soubesse o quanto estamos felizes! Obrigada por permitir que isso pudesse acontecer. Nós queríamos que você pudesse nos abençoar, afinal, é a minha Mãe e o ser mais glorioso que eu conheço. — a água que banhava os nossos pés ficou confortavelmente morna.

— Eu acho que Ela está dizendo que nos abençoa. — eu disse. — Obrigado por me trazer a Dulce, ela é a pessoa que eu mais amo no mundo. — Dulce encostou sua cabeça em meu braço.

— Eu vou te amar pra sempre. — falou. Dei um beijo em sua testa e a abracei de lado.

Na nossa lua de mel, eu e Dulce viajamos por alguns países da Europa, países que ela já conhecia como a palma da própria mão. Foi melhor assim, eu conheci pontos turísticos e peculiaridades que não se encontravam em informações da internet. Era como estar casado com um mapa humano.

Nós velejamos em Veneza, visitamos a torre de Pisa, tiramos fotos em frente à torre Eiffel, vimos a Monalisa de perto no museu do louvre, conhecemos o Big Ben e em nossa última parada, visitamos a Alemanha, mais precisamente, os campos de concentração.

Enquanto caminhávamos por Auschwitz, acompanhando um grupo de turismo e ouvindo as explicações do guia, nos olhos de Dulce, eu podia ver uma tristeza e uma sombra bem diferente. Não era como se ela tivesse apenas empatia pela dor que foi sentida, era como se tivesse visto tudo de perto e as lembranças daquilo ainda doessem.

— Dulce? — nós paramos no meio de um corredor, em frente à um memorial com as fotos de algumas vítimas. — Você me disse que a sua família ajudou essas pessoas. Você viu muitas coisas?

— Eu era só uma criança, já fazem mais de setenta anos, mas a memória ainda está bem clara na minha mente. A gente não esquece essas coisas tão fácil. — suspirou e olhou para o memorial. — Tem noção de quantos desses rostos eu vi? Quantos judeus apavorados a minha família ajudou? Nós tínhamos que levantar a bandeira nazista em apoio ao governo todas as manhãs, enquanto no nosso porão, escondíamos judeus, negros, deficientes, homossexuais, comunistas, ciganos... É muito torturante ser uma pessoa que entende as diferenças vivendo em meio à uma sociedade intolerante. Todas as noites, nós rezávamos pra que nenhum soldado nazista derrubasse nossa porta atrás daquelas pessoas.

— Nem posso imaginar o quão horrível deve ter sido. — eu a abracei, acariciando sua cabeça. — Vocês fizeram a sua parte, tenho certeza que conseguiram salvar o máximo de pessoas que puderam.

— Muitos dos nossos parentes foram presos em campos de concentração por ajudarem vítimas, mas os meus pais, por sorte, mantiveram-se à salvo até o fim da guerra. Depois da guerra, nós usamos nossas economias pra fazer uma viagem. Foi aí que encontramos uma sereia e tudo começou...

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