1685- 1668 - Soneto 101

69 6 0
                                    

Ah! minha Dinamene! Assi deixaste
quem não deixara nunca de querer-te?
Ah! Ninfa! Já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!

Como já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te,
que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!

Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
que inda tenho por pouco o viver triste?

ANÁLISE

Uma revolta inicia o texto: o eu-lírico não concebe a ideia da morte de sua amada. Entende, porém, o fim da vida como algo que não impossibilita o diálogo com Dinamene e, então, promove uma conversa diretamente com ela, não em sonho, mas por conexão afetiva, desesperadora...

O segundo quarteto se vale outra vez do verbo “perder” como sinônimo de amar – o poeta se perderia se ela ficasse/estivesse viva. Ele então revela a causa mortis: as ondas do mar.

O primeiro terceto parece um espasmo de dor no “EU”: chora o fato de a ingrata lhe deixar por companhia a morte, como se isso fosse uma escolha de Dinamene.

Subitamente a ironia se forma na última estrofe: o poeta arruma força nietzschiana (mesmo sem ele existir!) para sobreviver, ainda que na tristeza...

SONETOSOnde histórias criam vida. Descubra agora