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alissa.

ela olhou para nós com a expressão confusa, depois falou alguma coisa para o garoto ao seu lado. ele assentiu como se concordasse. com isso, os dois partiram em nossa direção.

— lá vem — sussurrei.

o dublê de bradley seguiu o meu olhar e sorriu como se não visse nada importante.

— vou dar um jeito nisso. — e se levantou. eu não sabia se devia segui-lo ou se ficava ali, assistindo à cena. achei melhor continuar sentada. Quando ele se aproximou da irmã, ela começou a falar e apontar para o terno. meu acompanhante respondeu alguma coisa. depois ela olhou para mim, um olhar de raiva. pelo jeito ela não ia ficar de boa.

— o que está acontecendo? — jules cochichou. é claro que ela tinhaque ser a primeira a perceber. essa história ia explodir na minha cara. eu sabia. e provavelmente merecia. fiz uma besteira, e a mentira não tinha durado mais que uma hora.

eu devia ter sido honesta desde o começo: o bradley terminou comigo. claire e laney teriam entendido. teriam acreditado em mim. provavelmente teriam até me levado para afogar as mágoas em sorvete, como fizemos com claire quando ela foi dispensada no ano passado. mas eu fui insegura.

levantei, olhei para jules e disse:
— uma coisa que vai te deixar muito contente, tenho certeza. — não esperei pela reação dela. só me aproximei do falso bradley, que tentava se livrar da irmã.

— vamos falar sobre isso fora daqui — ele estava dizendo quando cheguei perto.

ela me olhou com as mãos na cintura. algo naquele olhar me pareceu vagamente familiar.

— não — a menina falou. — você não vai usar o meu irmão desse jeito. ele é um cara legal e já sofreu muito por causa de garotas egoístas como você.

— não vamos exagerar, ash. foi só uma.

— desculpa — respondi, falando com a irmã, mas olhando para ele. — eu não queria causar todo esse problema. — e olhei para ela. — tem razão. eu não devia ter usado o seu irmão desse jeito. ele é um cara legal.

a menina assentiu uma vez, como se estivesse surpresa por eu ter concordado tão depressa.
— sim, ele é e não precisa se meter com alguém como você.

— não generaliza, ashley. você nem conhece a alissa.
ashley riu.

— foi isso o que ela disse? que não me conhece? essa é clássica.

— eu conheço você? — perguntei, confusa, estudando o rosto dela de novo.

— não. não me conhece — ashley respondeu, mas tive a sensação de queela queria dizer exatamente o contrário. tentei lembrar de algum encontro com ela no colégio. eu tinha sido grossa? conhecia muita gente por causada liderança do conselho, mas o colégio era grande, tinha uns dois mil alunos pelo menos. eu precisava me esforçar mais para lembrar nomes e rostos.

apontei para a mesa.

— desculpa. estou criando problemas demais hoje, mas vou cuidar disso agora mesmo. vou contar a elas o que aconteceu. — era a hora da verdade. eu enfrentaria minhas amigas, que já olhavam para nós. elas me perdoariam ou não. dei um passo em direção à mesa, mas fui impedida por alguém que segurou a minha mão.

— não. não faz isso. você tinha razão. a jules é no mínimo uma doença contagiosa. ela vai te crucificar.

— tudo bem. as coisas vão se acertar. minhas outras amigas vão ficar do meu lado. muito obrigada pela ajuda. você foi incrível. — fiquei na pontados pés e beijei seu rosto, depois me virei antes que eu mudasse de ideia. pensei em tudo que ia falar enquanto me aproximava da mesa. eu sabia que jules ia questionar cada verdade que eu falasse, então me preparei para isso também. eu me esquivava dos ataques dela havia meses. podia lidar com mais esse.

olhei para claire e vi a preocupação estampada em seu rosto. foi o que me confortou quando cheguei à mesa.

— tudo bem? — claire perguntou.

— não, tenho uma coisa para contar. para vocês duas — esclareci, olhando para laney e de novo para claire.

nesse momento, o dublê de bradley apareceu ao meu lado.

— por favor, ali. ela não significa nada para mim.

meu queixo caiu com a surpresa.

— sei o que você deve estar pensando, mas só quero uma chance para me explicar.

se eu soubesse o verdadeiro nome dele, teria falado alto e em tom de censura, mas não falei. esse não era exatamente o rompimento discreto com o qual eu contava. além de transformar meu namorado em um galinha, ele estava terminando comigo na frente de metade da escola. senti o rosto quente de vergonha.

— não, não faz isso. eu vou ficar bem.

— ah, é? vai ficar bem longe de mim? é isso o que você sente? quer que eu vá embora como se você nunca tivesse existido? bom, e eu, alissa? o que eu vou fazer sem você? — a voz soava cada vez mais alta, e no fim da declaração ele estava quase gritando. muitos olhares foram atraídos pela comoção. tive que me virar de costas para minhas amigas, porque sentia a risada nervosa borbulhando na garganta e tinha certeza de que não era essa a reação mais adequada para o que estava acontecendo ali. se fosse outra pessoa, o discurso teria parecido exagerado e falso. mas, com ele, era convincente. o cara parecia desesperado. provavelmente minha reação como verdadeiro bradley havia sido bem parecida.

toquei em seu peito e falei em voz baixa:
— não faz isso.

seu olhar era tão intenso que, por um momento, esqueci que tudo aquilo era fingimento.

— dá para ver que você já tomou sua decisão. telefona, se quiser me ouvir. — ele abaixou a cabeça como se reconhecesse a derrota, depois se afastou, desolado, como se estivesse sofrendo de verdade. se ele não era ator, deveria ser.

vi a irmã sair do ginásio atrás dele depois de olhar feio para mim. provavelmente ela não tinha a intenção de confirmar a história do irmão, mas suas atitudes só davam credibilidade a tudo o que ele havia acabado de dizer. eu fiquei ali parada, respirando fundo e esperando o rosto esfriar um pouco, quando alguém me abraçou. o cheiro familiar do perfume de claire invadiu meus sentidos, me tirando do estado de choque.

— sinto muito — ela disse. — que babaca. Ele deu em cima daquela garota?

— não. ele não é um babaca. — e eu nem sabia o nome dele.

— para de defender o cara, alissa. e nem pense em aceitar o idiota de volta. você merece coisa melhor.

assenti, distraída, tomada por uma urgência muito estranha de correr atrás dele. em vez disso, olhei para minhas amigas com um sorriso apático. por que eu estava reagindo desse jeito? eu nem o conhecia. por que então eu tinha a sensação de ter levado o segundo fora na mesma noite? balancei a cabeça. eu tinha minhas amigas, e isso era tudo o que importava agora. abracei claire e olhei para jules. surpreendentemente, ela não estava olhando para mim. estava encarando a porta, por onde o dublê de bradley tinha acabado de sair. sua expressão era calculista, e tentei imaginar o que ela estava pensando. de uma coisa eu tinha certeza: não era algo bom.

fake; corbyn bessonOnde histórias criam vida. Descubra agora