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paramos em frente à casa dele. corbyn desligou o motor e saiu do carro antes que eu pudesse detê-lo.

quando parou do meu lado e abriu a porta, eu disse:
— desculpa. eu devia ter avisado que precisava de carona para casa.

— ah. — ele olhou para os dois lados da rua, como se esperasse ver um carro parado em algum lugar. — minha irmã foi te buscar?

— sim.

— ela é cheia de estratégias.

— sim, ela é. — continuei sentada no carro, esperando que ele fechasse a porta e voltasse para o banco do motorista.

mas corbyn continuou onde estava. e apontou para a casa.

— você precisa ir embora agora? a minha irmã vai querer um relatório. acho que você pode contar tudo melhor que eu.

o relógio do painel marcava dez horas. eu ainda tinha duas horas até o meu horário de voltar para casa.

— tudo bem. claro.

andamos até a porta da frente, e corbyn a abriu e entrou. sentada no sofá da sala, ash desligou a tv imediatamente e olhou para nós.

— e aí?

corbyn me abraçou.

— você vai gostar de saber que a noite foi de muitos joguinhos e muito ciúme. não sei bem quem jogou mais e quem sentiu mais ciúme, mas a alissa fez tudo o que você a fez jurar que faria.

ash olhou para mim.

— tudo bem. agora eu quero saber exatamente o que aconteceu. nada dessa bobagem vaga.

nesse momento, uma mulher entrou meio agitada na sala. o cabelo formava um coque frouxo preso por um lápis e várias mechas haviam escapado do arranjo, dando a impressão de que ela havia enfrentado uma ventania.

— corbyn, eu sabia que tinha escutado sua voz. preciso do seu rosto.

— mãe, estou com uma amiga. — ele apontou na minha direção.

a mulher sorriu para mim.

— não sei em que isso muda as coisas. pode trazê-la.

ash se levantou e foi atrás da mãe, que já saía da sala sem esperar por uma resposta.

— não adianta discutir — disse corbyn. — ela sempre vence. — e me levou pelo corredor até uma sala grande com porta dupla e assoalho de madeira.

dentro dela havia toneladas de pinturas, algumas concluídas e penduradas, outras pela metade, e também havia telas em branco. uma delas repousava sobre um cavalete, e no chão embaixo dele havia uma folha grande coberta de manchas de tinta, como se alguém tivesse abandonado a pintura no meio. todos nós entramos na sala.

— mãe, esta é a alissa.

— ai, desculpa, que falta de educação. — ela estendeu a mão para mim. — eu sou a saskia. peço desculpas por roubar este garoto, mas preciso desse rosto lindo. ah, me fala se este rosto não inspira criatividade.

corbyn e ash reviraram os olhos.

— ela diz isso sempre que traz a gente aqui, e depois cria coisas como aquela. — corbyn indicou uma pintura que era meio inseto, meio zebra, um rosto que se abria para revelar uma flor desabrochando. — eu não inspirei aquilo.

— inspirou sim — a mãe afirmou.

— ela se sente sozinha aqui — comentou ash.

— os meus filhos debocham de mim, mas são as minhas musas. — ela me estudou. — acho que você também pode ser uma musa. a sua estrutura óssea é incrível.

— não acredite nisso — ash interferiu. — o que ela está dizendo é que quer pintar ossos, ossos de dinossauro, provavelmente, ou coisa parecida, enquanto olha para você.

saskia não parecia ofendida com a provocação. só deu risada e começou a pintar, enquanto corbyn ficava sentado no banco diante dela. pelo jeito como o analisava, ela parecia usá-lo como modelo, mas eu via a tela, e aquilo não era corbyn, definitivamente.

ash olhou para mim.

— desembucha. quero saber tudo o que aconteceu hoje.

olhei para a mãe deles sem saber se queria admitir a mentira na frente dela.

— minha mãe já sabe — ash falou. — apesar de não concordar, ela entende por que o nosso cérebro imaturo pode achar que isso é necessário.

— não foi isso que eu disse, ashley. falei que a vingança é produto de emoções mal direcionadas, mas eu tenho algumas emoções com relação a christina também.

— você não disse mal direcionadas — ash argumentou, em voz alta. — lembro nitidamente de você falando "imaturas".

— talvez eu tenha dito "pouco desenvolvidas".

— é a mesma coisa — ashley e corbyn falaram ao mesmo tempo.

saskia deu uma pincelada larga de azul-marinho na tela, bem embaixo dos olhos roxos e tortos que já tinha pintado.

— o que eu quero dizer é que a vingança nunca é a resposta.

— sei, sei. — ash abanou a mão para a mãe e olhou para mim. — conta logo sobre a vingança.

olhei para saskia e tentei descobrir se estava aborrecida com a discussão. ela não parecia brava.

— bom, a christina estava lá com o daniel.

— eu sabia! — ash gritou. — eles ainda estão juntos, não estão?

eu assenti.

— mas você estava certa. ela também queria o corbyn.

— não, não queria — corbyn interferiu.

— então por que o abraço? por que sentar tão perto e tocar sua perna?

— ela tocou sua perna? — a expressão de ash endureceu.

— tocou? — corbyn perguntou.

— ah, por favor — disse ash. — você sabe que sim. não se faça de inocente, corbyn. e você deve ter gostado.

ele a encarou com uma expressão neutra, indecifrável.

— quero saber se vocês deram o troco — ash falou, olhando para mim.

— ficamos de mãos dadas, trocamos abraços, dançamos...

— e a alissa pulou em cima de mim — corbyn contou.

eu arfei, chocada, e saskia me encarou.

— eu não... bom, mais ou menos. foi um acidente. eu não queria te derrubar.

— espero que ela tenha visto — ashley falou, sorrindo.

— viu.

ela girou uma vez com os braços abertos, depois me segurou pelos ombros e me sacudiu.

— você é incrível. a vingança é incrível.

saskia pigarreou.

— porque eu tenho uma mentalidade muito, muito imatura — ash acrescentou.

— amanhã todos nós vamos ser pessoas melhores — disse saskia, e era quase a mesma coisa que corbyn dissera mais cedo. olhei para ele, e corbyn assentiu uma vez.

pessoas melhores. o jeito como eles falavam me fazia querer tentar.

🥀
sim, eu vou colocar todas as interações de contato físico espontâneos deles em itálico.

fake; corbyn bessonOnde histórias criam vida. Descubra agora