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— ashley? — perguntei. ela sorriu com frieza, se virou para a frente e pegou um lápis na mochila

— não é justo — eu disse. — você estava muito diferente no baile. — apontei para sua roupa, que era preta em camadas de preto, e para o rosto, tão maquiado quanto o da vovó em noite de bingo.

— era um experimento social. você falhou. — ashley fez uma pausa. — ou não, porque provou que tínhamos razão. tanto faz.

— e você ficou furiosa comigo por eu não ter te reconhecido, sendo que fez tudo para não ser reconhecida.

— se essa fosse sua pior mancada, eu teria sorte.

eu tinha feito alguma coisa para ela? alguma coisa pior? a sra. rios pigarreou.

— meninas, silêncio. estamos em prova.

a manhã tinha começado mal. o dublê de bradley podia ter me dito que a irmã costumava se vestir de roqueira. eu teria me lembrado dela. ela era nova no colégio, tinha chegado poucos meses atrás, no meio do ano. até onde eu lembrava, não havíamos trocado mais que duas palavras, por isso eu não conseguia imaginar como podia tê-la ofendido.

fiz a prova inteira distraída, quase sem pensar nas perguntas, muito menos respondendo de maneira inteligente. fiz o melhor que pude, depois fiquei olhando para ashley até o fim da aula, esperando a oportunidade para falar com ela. quando o sinal tocou, peguei minha mochila tão depressa quanto ela pegou a dela e a segui para fora da sala.

— o que é?— ashley rosnou quando chegamos ao corredor. eu queria perguntar o nome do irmão dela, mas não podia admitir que ele não tinha me contado.

— preciso do telefone do seu irmão.

— por quê?

— quero mandar uma mensagem agradecendo. — claro. uma mensagem agradecendo. alguma coisa como: "querido bradley postiço, obrigada por mentir por mim e enganar minhas amigas fingindo ser meu namorado. agora você pode me contar por que decidiu ir ao baile comigo? por que quis me ajudar? por que me olhou daquele jeito super-intenso enquanto dançava comigo, como se visse em mim alguma coisa que eu nem sabia que existia? assim eu posso tirar você da cabeça. obrigada".

— se ele quisesse que você soubesse o número, ele mesmo teria dado.— ashley pareceu sentir prazer com a declaração.

— teria, mas ele foi embora de repente depois daquela coisa da briga de mentira. — ela gemeu como se lembrasse novamente como eu o havia usado. — se eu te der o meu número, você passa para ele?

— se eu me jogar da escada, você me deixa em paz? — estávamos do lado de fora do prédio, no alto da escada. um garoto com o mesmo estilo dela estava parado lá embaixo, olhando para nós. ela não esperou pela resposta, que, tecnicamente, poderia ser sim ou não, e desceu para encontrá-lo.

— oi, alissa — o garoto falou quando os alcancei, ao pé da escada. surpresa, percebi que era ele quem estava no baile com ashley.

— oi. desculpa, não sei o seu nome. — ele deu de ombros.

— só fizemos quatro matérias na mesma turma nos últimos três anos. por que você saberia?

fiquei vermelha. era verdade? olhei para ele de novo com mais atenção. honestamente, ele não me parecia familiar, exceto pelo encontro no baile. estudávamos em uma escola pública; as turmas eram grandes.

— cuidado, — disse ashley — suas amigas populares podem ver você com a gente. levantei a cabeça e vi claire e laney vindo na minha direção. provavelmente elas não a reconheceriam, mas ashley estava certa: se a vissem e percebessem que era a mesma menina do baile de formatura, isso estragaria tudo. mudei de direção e me afastei dos dois.— covarde — ashley falou quando eu estava a uns dez passos de distância. eu tropecei de leve, mas não parei.

— você conhece aqueles dois?— laney perguntou quando me aproximei dela e de claire.

— são da minha turma de política. tivemos prova surpresa. quem dá uma prova surpresa na segunda-feira depois do baile de formatura? nossa professora é o satanás, já decidi. — elas não pareceram notar que eu havia evitado a pergunta mudando de assunto.

— sim, eu vi a sua postagem. as pessoas estão retuitando loucamente.

— alissa! — um garoto me chamou ao passar por nós. — obrigado pelo aviso. você é minha heroína. — laney riu.

claire puxou meu braço para recuperar minha atenção.

— você e a jules brigaram de novo? — outra pergunta que eu preferia evitar.

— ela está me atormentando por causa do bradley há dois meses, e ainda não desistiu.

— mas todas nós o conhecemos. qual é o problema agora? — minha língua parecia ter o dobro do tamanho adequado para a boca. agora era a hora de contar a verdade, explicar o que jules poderia descobrir e confessar como eu me sentia idiota por ter mentido. assim ela não teria mais nada contra mim.

laney segurou minha mão.

— tenta ser legal com ela. a jules tem passado por tanta coisa...

— eu sei, é que... — então meu celular tocou, e instintivamente olhei para a tela.

claire devia estar olhando por cima do meu ombro, porque disse:

— não se atreva a ligar para ele. — meus olhos ainda estavam arregalados de espanto. era uma mensagem do bradley.



[...]



"estive pensando na noite do baile... me liga quando chegar em casa."

eu estava em casa, olhando para o celular sem ligar para o bradley. o que eu disse ao bryan era verdade: não gosto de repetições. mas a claire também estava certa: era sempre eu quem terminava os relacionamentos. o rompimento com bradley foi repentino, e eu não estava preparada. talvez tenha sido prematuro.

minha mente tentava me lembrar de que ele havia me deixado no meio do estacionamento do baile de formatura. eu não queria voltar. mas não faria mal nenhum telefonar para ele, encerrar melhor o assunto. se eu contasse o que senti quando fui deixada por ele, talvez me sentisse melhor. talvez me ajudasse a superar mais depressa, porque eu ainda sentia uma porcaria de nó na garganta cada vez que pensava nele. eu precisava ligar. já havia digitado todos os números, só faltava apertara tecla para iniciar a ligação. o que me impedia? nada. apertei a tecla. meu coração disparou quando ouvi chamar do outro lado. eu ia fazer o que planejava. ia terminar tudo de vez. então por que fiquei aliviada quando ouvi a mensagem da caixa postal?

— oi — ele dizia na gravação. — não posso atender. mas tenho seu nome e o número no identificador de chamadas, então, a menos que eu não queira falar com você, ligo de volta.

eu ri. o bradley era engraçado.

tive a sensação de que não ouvia a voz dele havia uma eternidade, embora tivéssemos conversado apenas dois dias atrás. desliguei sem deixar recado, depois joguei o celular na cama e o deixei lá enquanto dedicava as horas seguintes à lição de casa.

quando voltei para o quarto, meu telefone tinha várias notificações, mensagens da claire e uma chamada perdida do bradley. respondi às mensagens, mas eu tinha tomado uma decisão importante com relação ao bradley. era melhor esperar para falar com ele. eu precisava de tempo para me acalmar. não queria que minhas emoções contassem uma história diferente da que eu tinha na cabeça. enquanto isso, eu precisava ver o dublê de Bradley mais uma vez. ele precisava me dar uma simples resposta: por que havia topado? e queria que ele respondesse longe da noite do baile, em circunstâncias normais.

usando a camiseta de nerd e com o cabelo despenteado. depois disso, eu encerraria a história com os dois bradley's e poderia seguir com a minha vida. esse era o plano, e eu estava disposta a segui-lo. comecei abrindo o armário e pegando os anuários do colégio na última prateleira.

fake; corbyn bessonOnde histórias criam vida. Descubra agora