Tudo merece explicações

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Bom dia, Dylan!! - eu e Madelanie dissemos em uníssono
- Dia! - respondeu seco
Cheguei até a carteira dele e o abracei forte
- Me solta se não eu choro - dei um olhar de canto pra Mads...
- Quer falar sobre?
Ele suspira e se cala.
- 5stars chegando pra sessão de taerapia antes da aula de física - fez biquinho e um "dois" com a mão, como sempre.
- Cadê a Cami?
- Tá com o Cole - ele automaticamente revirou os olhos
- Desembucha, geminho...
- Eu errei, e muito... Ter feito isso pelas costas da minha família foi desonesto da minha parte, eu sei... Só que... - ele suspira
- Se você quiser posso tentar falar com ele hoje. A gente vai sair - comentei meio envergonhada
Meu melhor amigo arregala os olhos e completa minha fala, quase me interrompendo, com o chocolate na boca
- NÃO, NÃO, NÃO!!! Tu nem ousas estragar seu encontro por causa do meu problema!
- Porque você não me disse antes, Lil?
- Ah, Mads é que ele me chamou ontem à noite, nem deu tempo...
- Onde vocês vão? - completou
- No cinema.
- Escolhe um filme ruim, ok?
- Nossa! Nem parece que xingou a pessoa em questão dois minutos atrás.
- Nada nunca mudará o fato de eu ser um Sprousehart Stan - fez o sinal de hashtag com as mãos - nós três rimos
- E não foi nem falta de tentar falar com ele... Eu só não quero que nossos pais descubram
- Dá o tempo dele... Tipo, a Cami desceu lá na quadra pra falar com ele...
- Pro Cole sempre foi pior, sempre. Ele assumia o controle de toda a nossa situação quando íamos pra casa dela e e a gente era meio obrigado a entregar as drogas dela e depois passar fome, ele corria mais rápido, falava mais baixo e levava a porrada por mim, escondia salgadinho na mochila pra ter o que comer, (mesmo sem ter muita coisa na casa de verdade) já que ela nunca se preoucupava. E a minha parte era só: inventar uma linda e bela história para o meu pai e pra minha vó de como tudo na casa da mamãe tinha sido perfeito.
- Acho que cai no "Incrível mundo de Gumball" e esqueci que aquela coisa não vale nem o cabelo que tem na cabeça. - termina com lágrimas nos olhos.
Nós saímos pra abraça-lo mas ele nos para com a mão - Não! Se não eu choro!
- Só... dá o tempo dele e se acalma... - concordou com a cabeça e o sinal tocou
Cole, sentou perto de Kj, e não do irmão, como já era de se esperar
Recebo um papelzinho que vem do lado da minha carteira
"O cinema ainda tá de pé?"
"Sim ♡" :)
- Cami, passa pro Cole, por favor
"Escolham um filme ruim"
- Kj, passa pro Cole
"HMMMMMM A PUTARIA VAI ROLAR SOLTA HOJEEEE!!!" (:
-Toma, Cole
Ele olha, e revira os olhos pro comentário dos nossos amigos
"Agora pronto, Lili! Nosso caso secreto foi explanado kkkk sos"
" KKKKKKKKKKK SOS" " Que horas nós vamos?" - dessa vez fiz questão de dar na mão do próprio Cole
"Passo na sua casa às 3, ok?" - pisquei pra ele e guardei o bilhete no estojo
- EITA QUE A PUTARIA HOJE VAI ROLAR SOLTA - gritou pra sala a mesma frase que tinha escrito no bilhete
- Quieto, Keneti! - o professor adverte
A sala toda segura a risada e a minha cara deve estar mais vermelha que tomate

Pov's Cole:

Eu estou voltando pra casa ao lado do meu querido irmão, nem dá pra acreditar...
- A gente vai pegar ônibus hoje? - ele tá meio desconcertado pra falar comigo, como se eu fosse morder
- Pode ser. - seco que nem o deserto, porque sim
Andamos até o ponto de ônibus e eu comecei a lembrar da conversa que tive com a Camila mais cedo:
- Cole, nós somos vizinhos: eu, vocês e a Lili. A gente brincava de bola, pipa, boneca, carrinho, de concurso de modelo, e vocês eram obrigados a serem os apresentadores da nossa Incrível Beleza... Depois a Lili mudou de colégio e acabou se distanciando... Lembra?
- Talvez sim, onde você quer chegar com isso?
- Que você e o Dylan sempre ficavam grudados, sempre se protegendo...
- E ele fez questão de quebrar a minha confiança fazendo aquela bosta
- Porque você não lida com isso feito gente? Senta e conversa, porra
- Camila, eu sinto nojo dessa... - não consegui completar a frase
- Não tô contando vantagem, até porque isso nem é uma, só que eu sempre cuidei daquele menino quando dava merda dentro da casa daquela mulher, sempre eu correndo, sempre eu apanhando mais que ele, quando ela descobria que a gente mentia. Sempre eu que estocava comida numa mochila pra ter o que comer naquele inferno, porque NEM ISSO - alterei a voz, que nesse momento já estava chorosa - Ela era capaz de dar!
- Eu vivi todo esse inferno, meu pai foi em milhares de audiências, minha vó deu teto pra gente, pra essa porra desse Dylan fazer uma porcaria dessa? Fingindo que não foi com ele? COM A FAMÍLIA DELE? - enxuguei uma lágrima de forma brusca
Camila me abraçou de lado e continuou o seu sermão de boa moça
- Eu entendo seu lado agora, Colezinho... Não sei porque ele procurou por isso, mas acho que você deveria falar com ele, de qualquer forma... - olhei pra ela com uma cara inconformada
- Ah, e se precisar... A titia Mila tá sempre aqui! - bateu em seu próprio ombro e eu deitei ali de novo
[...]
O ônibus chega e assim que a porta se abre, o meu irmão solta uma pérola:
- Moço, me espera? Vou ali e já volto
O que ele vai fazer?
O motorista me olha como quem diz: ele é louco? Mas continua esperando
- Moleque, - me chama, porque ele é igual você?
- Longa história, moço... - ele continua me encarando
- Mentira, irmão gêmeo - pisquei
Dylan volta com uma porção daqueles guarda- chuvinhas e bolinhas de futebol, que dizem que são feitos de chocolate; mas pra mim tem gosto de sabão. E entramos no ônibus
- Ei, eu lembro disso... - respondo sorrindo
- Gosto de infância
- Pra mim, tá mais pra gosto de óleo - rimos
O silêncio desconfortável pairou, e eu tive que tomar coragem
- Você lembra? - joguei
- É claro que eu lembro...
- Porque diabos fez isso?
- Eu só queria saber onde ele foi parar, pra deixar minha cabeça em paz... E ao mesmo tempo eu não quis dizer pro papai e nem pra você, pra que não ficassem chateados...
- Eu nunca esqueceria o dia em que a mamãe chegou... - continuou Nunca! Pode ter certeza.... Era só uma questão de individualidade minha. Tipo, paz de espírito, entende?
- Não.
- Ela me assombrava todos os dias naquela merda daquele curso, caralho! Eu me senti sem munição, longe de vocês. Voltei... Mas ao mesmo tempo eu não queria me sentir e nem ser dependente de ninguém. Quero matar o meu monstro do meu jeito - Uma lágrima escorre, e ele enxuga quase ao mesmo tempo
- Sobre o papai, vamos ser francos... É assunto de mãe e filho - existia serto sarcasmo nas palavaras mãe e filho, não estou mexendo com o relacionamento dele
- Não se trata do relacionamento dele! E sim, sobre tudo que ele fez por nós... Já pensou também, no ódio que a Vó sente por ela?
- Faz o seguinte, eu conto tudo pra eles, e assim a gente vê o que acontece...
- Meu Deus, Você é impossível!
- Cole, eu entendo seu desprezo pela minha decisão, mas não e como se eu fosse endeusar ela pra todo o resto da minha vida. Eu só quero saber se ela já morreu pra me deixar em paz, cruelmente falando é isso.
- Eu te "odamo" - fez um coração e eu ri da referência à nossa infância
- Eu também, idiota!
Ele deitou no meu colo me dando um guarda-chuvinha
- Que audácia é essa, Thomas? - me olhou debochadamente pela pronúncia do nome do meio
- E o encontro com a Lili?
- Quase que eu perguntei como você sabia - ele riu

𝐴𝑝𝑟𝑒𝑛𝑑𝑒𝑚𝑜𝑠 𝑎 𝐴𝑚𝑎𝑟Onde histórias criam vida. Descubra agora