papéis amassados recheados de sentimentos entalados

vida

Já imaginou uma vida sem cor?

Para tudo há uma mistura de cinzas. O céu, é gelo; o mar, cianeto. As aves, perderam ardor; as flores, o amor. A noite não tem estrelas e a lua se pôs a chorar. O dia não tem mais alegria e as nuvens se recusam a brincar. Tudo é sempre igual: simplório, sem cor e sem amor.

Tuas asas foram de ti arrancadas. Teus pés foram limitados; teu riso, cortado.

Tua imaginação pouco a pouco perde essência. Teus sonhos já não dizem mais nada.

Teus olhos foram cobertos, estás impossibilitado de ver a esperança, mas e tua vida?

Ah, tua vida. Sabes dizer -me o que é vida?

Quando paras para olhar ao céu, em busca de paz, é vida.
Quando ouves sua música mais amada e a sente, é vida.
Quando choras e se alivia, é vida.
Quando vês uma criança te sorrir, é vida.
Quando, em meio ao caos, um passarinho te manda um canto, é vida.
Quando lês uma poema repleto de rimas ruins e o ama, é vida.
Quando entendes que a vida é uma poesia com início, meio e fim inesperados; versos e estrofes desordenados; rimas fajutas e sentimentos distintos, percebes.

Percebes que não se pode controlá-la e está tudo bem.

Porque tu és azul de dia, verde pela tarde e violeta à noite. Es esperança. Trazes esperança. E de tu vens a vida, pois há um minúsculo espaço em teu peito com teus sentimentos, guardados e acumulados.

Chore, minha criança. Chore comigo, pois bem? O que há de errado? Teus dias perderam a cor? Teus sonhos estão ausentes? Tua mente está a te assombrar?

Veja, sim? Tudo ficará bem, meu pequeno passageiro.

Como sei? Eu sei pois sou a vida.

Vós sois a vida. Eu sei que andas desanimado. Sei que não queres mais comer. Sei que sente-se mal ao olhar-te refletido pelo espelho. Sei que choras em silêncio e sei, ainda mais, que tua garganta queima todos os dias, pois tentas esconder o pranto. Sei que não vês mais o sentindo em viver. Sei que não queres mais levantar. Infelizmente, sei que também tentaste tirar-te a vida. Uma? Duas? Três vezes?

Não, meu pequeno. Não falhaste pois é fraco. Ganhaste, sim? Pois esta é a prova que ainda há vida em ti. Ainda tens esperança. Ainsa tens salvação. Ainda clama para que a dor suma. Ainda tentas.

E obrigada, minha criança.

Obrigada por não teres desistido de mim, de nós, ainda. Obrigada por tentar.

Sinto orgulho de ti, muito orgulho. Meu peito chora e meus olhos tremem sempre que vejo como estás resistindo. Tua luta não perdeu sentindo, não, não. Estás num caminho diferente do que querias, saíste da rota e não sabes como voltar.

O que gostas de fazer? Assistir? Ler? Cantar? Escrever? Desenhar? Escrever? Dançar? Nadar? Contar estrelas? Observar nuvens? Fotografar? Andar? Correr? Conta-me. Diga-me, meu bem, o que te intriga? O que te deixa animado? Gostas de conversar? Estarei sempre a te ouvir, então fale.

Mesmo sem alguém ao teu lado neste exato momento. Fale.
Eu estou aqui.
Eu estou aqui por ti, pois sou sua. Sou sua vida.
Eu te aprecio.
Eu te preciso.
Eu te quero.
Eu te amo.

Por favor, fique. Fique mais um pouco. Não perdeste a cor; eu sou sua cor e você é a minha. Eu sou a única que pode te completar e você é o único que me transborda. Transborde-me com tua paixão. Eu sei que a tinhas.

Estou junta de ti há anos, lembras?

Sinto falta dela e de você também. Tudo bem se queres chorar agora, eu estarei aqui quando limpares teu rosto. Não sairei de junto a ti.

E, sabe? Obrigada.

Eu pude vislumbrar tudo com teus olhos por muito tempo e não podia ter sido melhor, pois amo sua companhia. Um dia, estarás mais do que feliz. Saberás o que é paz, verdadeiramente paz.

E eu? Eu estarei te sorrindo. Eu serei a brisa que te chama a dançar. Não coloque tudo a perder. Resista mais um pouco. Eu sei que podes. Pois tu ainda me colores. Coloque-me no aleatório, rime e dance junto a mim.

🌧️

esse texto foi escrito há muito tempo e eu nunca mais o li. acho que escrevi a uma pessoa especial, mas, ao mesmo tempo, para mim mesma. para que eu me lembre que onde há vida, há esperança e que onde há esperança, há vida.