Harry acordou sentindo seu corpo dolorido.
Se revirando pela grande cama de madeira escura, ele observou o quarto antigo de Sirius parcialmente iluminado pelos feixes de luz que adentravam pelas persianas da janela. Resmungou uma reclamação aleatória devido às dores do movimento e levantou-se descobrindo seu peito nu e sentiu um arrepio pelo ar gelado. Dormiu demais, isso explicava o desconforto, passou muito tempo deitado. Também não era para menos, depois de passar 72 horas seguidas em um caso, o mínimo que ele esperava era curtir sua merecido folga, descansando.
O som da lareira crepitava em seus últimos suspiros, já não havia fogo, apenas o estalar dos resquícios da brasa. O homem suspirou passando as mãos pelos cabelos embaraçados, estes já lhe alcançavam os ombros e riu ao se lembrar de Molly lhe dizendo que ele parecia um filho de James com Sirius, devido ao novo penteado.
Seu estômago roncou e ele gemeu preguiçoso, não queria sair da cama, mas os músculos já lhe diziam que era a hora.
O Largo Grimmald estava silencioso e frio, como sempre. Graças a Monstro o local se mantinha limpo e arejado, uma vez que Harry mal parava ali nos últimos dias, se dependesse do rapaz, a casa estaria largada às traças e à poeira. Descendo as escadas, Harry cogitou a possibilidade de se mudar para um quarto nos andares inferiores, porque era uma jornada ter que descer quatro lances de escada em pleno inverno para conseguir algo para comer.
— Uma vergonha. – ao chegar perto da cozinha ouviu o elfo mal-humorado resmungando sozinho como sempre – O sol quase se pondo e Mestre ainda dorme. – o barulho de talheres mexendo e um aroma de temperos preencheram o ambiente recém invadido por Harry, que se escorou na soleira da porta de braços cruzados olhando divertido para a criatura que cozinhava enquanto continuava seu monólogo – Em todos esses anos, Monstro nunca achou que poderia haver mestre mais preguiçoso que mestre Sirius, porém Harry Potter supera.
Sem conseguir conter uma risadinha, Harry chamou a atenção do elfo que deu um leve pulo de susto antes de voltar a resmungar coisas incoerentes enquanto colocava uma panela com ensopado de carne e uma travessa com batatas recém assadas – que fizeram o estômago do rapaz roncar – na bancada atrás de si. Sabendo da aversão de Harry em comer sozinho na longa mesa de jantar, Monstro estalou os dedos colocando prato, talheres e um copo com suco de abóbora ali mesmo
— Você tem o melhor timing, Monstro. – Harry pulou em um banco pegando com as mãos mesmo uma batata revirando os olhos com o sabor único que elas possuíam – E as melhores mãos para cozinhar.
— E você não possui modos. – Rebateu a criatura desviando o rosto para disfarçar o constrangimento com o elogio recebido.
Harry sorriu servindo-se da comida recém preparada quando ouviu a porta da frente abrindo-se.
— Mestiço! Traidores do sangue não são bem-vindos na nobre Mansão Black! – Os berros de Walburga ecoaram pelo corredor fazendo Harry revirar os olhos – Não tolerarei mais a presença... – Como se algo fosse colocado na boca da mulher do quadro, apenas sons abafados são ouvidos a seguir e uma figura sombria surgiu no arco da entrada da cozinha.
— Ainda vou descobrir como tocar fogo nesse quadro. – a voz arrastada e grossa de Snape chegou aos ouvidos do rapaz que nem se deu ao trabalho de olhar, já que somente o professor aparecia ali nas últimas semanas.
— E eu serei eternamente grato quando conseguir. – respondeu enchendo a boca com o ensopado e recebendo um olhar de nojo do outro que recebeu em mãos uma xícara de chá de Monstro.
Os dois caíram em um silêncio cômodo. Apenas interrompido pelos sons de Monstro limpando a louça ou dos sons abafados de Walburga.
Era assim desde que Harry se tornou solitário. Depois do término com Gina – que não aceitou muito bem a situação – foi inevitável o afastamento da família Weasley. Não era como se não se falassem mais, ou que eles o desprezassem agora, mas Harry se tornou a pessoa que quebrou o coração da caçula deles, então o desconforto da convivência deles foi se intensificando cada vez mais, até o moreno resolver se enfiar de cabeça no trabalho, tendo sempre essa desculpa para rejeitar convites quase forçados. Ainda convivia com Rony e Hermione, claro, trabalhava com eles no Ministério, só que ultimamente a relação deles se baseava apenas naquilo, trabalho.
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Piece by Piece
FanfictionHarry é chamado para participar de um caso como aprendiz de auror. Ao se deparar com Draco Malfoy quase morto para proteger algo que lhe é precioso, o herói do mundo bruxo jamais imaginou que iria se envolver em uma trama de mentiras, perigos e prin...