Capítulo O1

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Eris - Reino Beta

     Há bilhões e bilhões de anos, quando o Universo tinha uma idade de aproximadamente 10 à 35 segundos, o seu tamanho aumentou exponencialmente, dobrando cerca de 90 vezes. Ao final dessa expansão acelerada, o Universo tornou-se mais frio e menos denso. Justamente nesse período surgiram as forças fundamentais da natureza, bem como o tempo, o espaço e uma minúscula quantidade de uma matéria misteriosa e mística, que mais tarde seria chamada de magia.
       Esse processo deixou um rastro de energia detectável, proveniente de todas as direções do universo: a radiação cósmica de fundo. Durante os seus primeiros 300-400 mil anos de idade, o universo era tão denso que a luz não conseguia propagar-se, tudo era como uma névoa densa, que absorvia toda a luz, mas havia uma única coisa que ela não conseguia absorver: as partículas místicas anteriormente mencionadas. Por alguma razão, elas pareciam unir -se umas às outras, criando um amontoado que crescia a cada milésimo de segundo no tempo-espaço. Uma pressão semelhante a explosão que levou á origem de tudo se enraizou naquelas minúsculas partículas de magia, agora emanando sua força através de um grande e novo ser, capaz de controlar não só a sua, mas toda a existência que provira da matéria, do tempo e do próprio espaço. A grande força foi chamada de Universo, e ela era capaz de qualquer coisa, mesmo não tendo de fato, uma forma física.
Seu trabalho começou logo após seu surgimento, a força gravitacional que era de si emanada uniu, lentamente, aglomerados de estrelas – as galáxias. Estas, em mútua atração, formaram as galáxias em atração gravitacional, que, por sua vez, formaram seus grupos locais. Não demorou muito depois disso para o Universo criar os planetas e os sistemas solares. Sua força, mesmo infinita, também tinha suas limitações, entretanto. Propositalmente, para aumentar o fluxo de expansão do espaço-tempo e da matéria, a força do Universo dividiu-se em mais três partes iguais de poder, subjugadas à fonte original. Eles foram chamados de deuses, e como um presente por sua obediência as leis universais, foras lhes dados seu próprio planeta, a Terra, que também dividiu-se em três grandes continentes, três grandes reinos, governados cada um por um deus. Khara, a Personificação do Céu, o Senhor da Luz, ficou responsável por governar Alpha, a mais promissora das terras. Gatria, a Personificação da Terra, Espírito da Coragem e Deus da Guerra, responsável por Beta, uma região próspera, mas difícil, tomada pelas ambições do deus. Por fim Nashido, a Personificação da Natureza, o Deus da Vida, responsável por Ômega, uma terra gentil e harmoniosa.

       Eris fechou o livro com força, lançando um olhar terno para os pequeninos que a rodeavam, ouvindo a história da origem dos deuses. ─── Mana, por que o Gatria é tão malvado? ─── Perguntou uma das crianças, Romeno, um menino loiro de olhos avermelhados, repleto de poeira e terra por todo seu rosto. Suas roupas estavam ainda mais imundas que o pequeno corpo, que até pareciam nadar naquelas vestes obviamente maiores do que ele. Eris suspirou. Sua situação não era muito diferente daquelas crianças sujas ali. Na verdade, a grande maioria dos habitantes de Beta viviam sob aquelas circunstâncias. Os mais sortudos conseguiam água limpa para se lavarem ao menos uma vez por semana, junto com as roupas que dificilmente eram costuradas quando estragavam. Aquele reino, aquele continente inteiro estava fadado a perecer na sarjeta, na escuridão de casas semi-destruídas e becos escuros, afundados na miséria. Gatria não fora nenhum pouco piedoso com seus súditos e devotos, mas o dia da convergência se aproximava lentamente e, quem sabe, aquela situação pudesse mudar finalmente. Mesmo assim, não podiam simplesmente culpar Gatria por toda a desgraça que assolava noventa por cento da população. O próprio povo era o principal culpado, principal causador da situação em que estavam. Em uma sociedade totalmente voltada para o interesse próprio ao invés do coletivo, o Clero e a burguesia eram os únicos beneficiados com o lucro das terras prósperas e do armamaneto sofisticado, enquantos aqueles que sustentavam a base da pirâmide lutavam contra altos impostos e por um pedaço de pão para comer. Não era fácil, principalmente para aqueles que ousavam desrespeitar as normas impostas pelo clero, os chamados "Rebeldes sem Causa", que diariamente faziam uso de seus dons magicos para garantir que a comida chegasse na mesa daqueles que ja não podiam lutar. Eris já até perdera as contas de quantas vezes já fora presa, mesmo com apenas quatorze anos de idade, por roubo e agressão. Era considerada uma foragida de grande nível, tendo seus poderes e força fora do comum almejados até por aqueles que eram considerados nobreza.

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