Capítulo 14

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Eris - Reino Beta

Houvera um passado distante onde Beta não era conhecida como uma região hostil, marcada por batalhas sem fundamento ou pelo sofrimento de oitenta por cento da população. Uma época onde os habitantes de Beta conviviam normalmente uns com os outros, mesmo existindo tantas diferenças e diversidades de raças e pensamentos. Criaturas élficas e até fadas se aventuravam em uma vida pacata nas regiões montanhosas e cercada pela densa vegetação. Espécies únicas viviam sem medo em uma paz tão boa que parecia um conto de fantasia. De Ômega, pessoas migravam para tentar uma vida melhor na região e de Alpha, refugiados se escondiam no único lugar que lhes oferecia abrigo decente. Todos eram iguais. No final do dia, estavam sob o mesmo céu cintilante, com as mesmas expectativas. Ainda tinham sua devoção ao Deus Gatria, ainda pediam por seus desejos e clamavam por suas vontades egoístas. Ainda, mesmo que pouco, agradeciam ao Deus por tamanha bondade. Ah... mesmo que fosse difícil de acreditar, Beta já fora uma região harmônica e bonita.

Com o tempo, novos povos surgiram no continente. Pessoas com más intenções, pessoas de caráter duvidoso. Elas eram poderosas, ambiciosas e egocêntricas. As guerras surgiram, o descaso com a população, a revolta, a fome por vingança, tudo isso acompanhou o fim trágico dos bons tempos vividos em Beta. As lembranças de um passado pacífico foram esquecidas, substituídas pelas memórias da morte, do conflito, da perda de pessoas queridas, família e amigos. Memórias do inferno sobre a terra, da luta pela sobrevivência. No fim, os mais fortes reinavam sobre os mais fracos.

Contudo, alguns se negavam a desistir de lutar. Foi assim que o grupo de rebeldes, contrários ao governo monárquico e a tirania de seu exército surgiu. Guerreiros de todas as idades, jovens, velhos e até às pobres crianças que jamais saberiam o que significava ser uma. Eris era uma dessas. Ela nunca soube o que era viver em paz. Não conheceu sua mãe ou seu pai, não sabia se tinha alguma outra família além de Archie, Renma e Zafaar - e os demais do grupo rebelde -.

Mas, assim como em toda história, essa também tem dois lados. Elliot Fretcher, vigésimo segundo general de Beta, responsável pelo exército vermelho do Rei Hedrick Farley II, um homem que sempre prezou pela justiça e segurança de seu povo. Pelo menos, era assim que ele era visto pela nobreza, burguesia e realeza. Um exemplo a se seguir, o melhor dos soldados. Participara de diversas batalhas, seus comandos salvaram Beta da perdição inúmeras vezes. Talvez, fosse o homem de mais confiança do Rei. Conhecido como o general de aço, Elliot parecia não possuir nenhum ponto fraco. Parecia não existir maneiras de fazê-lo perder qualquer luta que fosse. Estavam, entretanto, todos enganados. Havia um único ponto fraco debaixo de todo aquele aço emocional do General. A maior das fraquezas, a única coisa capaz de destruir o mundo, mas ao mesmo tempo a única maneira de salvá-lo. O amor.

Fretcher andava de um lado para o outro, trancado em seu próprio escritório, sucumbindo aos pensamentos cada vez mais ferozes. O cabelo preto mesclado nas mechas brancas reluzia á luz fraca do sol, que insistia em penetrar as janelas e refrescar o ambiente meramente abafado com a tristeza e o temor. Os fios deslizavam por suas costas, presos em uma grande trança que por poucos centímetros não alcançava o chão. A barba pouco arrumada deixava seu rosto muito mais velho do que deveria e os olhos, cintilantes olhos marrons, entregavam a preocupação com seu único filho, André.

─── Maldito Zafaar... ─── Murmurou, segurando firme o pedaço de papel - a carta que lhe fora enviada há pouco tempo, avisando sobre o sequestro de seu filho -. ─── Mas que inferno! Eu devia tê-lo matado quando tive a chance! ─── Exclamou em um tom de voz elevado, possuído pela fúria, inibido pelo terror de perder a única coisa que não poderia viver sem. Jogou no chão a tal carta, pisoteando-a compulsivamente. Ah, ele sabia muito bem do que Zafaar, o líder dos rebeldes, era capaz de fazer. Há muito tempo atrás, quando ainda era muito jovem, ele próprio fora seu aluno em tortura. Sim, Zafaar ensinara suas técnicas para o general - afinal, ele pertencia a força de inteligência do exercito, antes de se rebelar contra o rei e se juntar aos Rebeldes sem Causa -.

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