Situado nos continentes fictícios, e fantasiosos, de Alpha, Ômega e Beta, a trama centra-se nos conflitos e vivências do cotidiano de três personagens principais, distintas entre si, que estão conectadas através de seu nascimento. Divindades, criatu...
Todos gritavam, em êxtase. Homens, mulheres, crianças e idosos. Tão cobertos por peles e minérios que, além de parecerem formigas, era impressionante como se mantinham de pé. Aquele evento não era mensal ou anual, na verdade era corajoso terem lhe proposto a um fio da convergência. Para eles, presenciar plebeus se matando era motivo de ansiedade, prazer e entusiasmo, como se fosse sua primeira vez em uma arena. Se satisfazer com aquilo nunca fora-lhes vergonhoso, talvez tivessem aprendido a amar com o tempo. Talvez seu sangue fosse azul, o coração de gelo e as lágrimas de cal. Não expressavam remorso, angustia ou medo. Não importava se sangrassem vermelho, azul ou dourado. Sagravam, automaticamente eram mortais. Zahirah tiraria sua prova hoje.
A Arena de Brás era uma das maiores dos três reinos de Trayfall, a maior de KesterWells e de Ômega; a parede de mármore que precedia o início da arquibancada tinha aparentemente 5 metros de altura; os assentos eram tão estreitos que as pessoas se espremiam em euforia; pilares vermelhos circulavam todo o campo de batalha com estátuas esculpidas em ouro no topo, representando os nove animais patronos do continente: a águia, o cavalo, a serpente, o leão, a doninha, o texugo, o cervo, o corvo e a pantera; por fim, ao lado da estrutura onde residia o trono do rei, duas estátuas enormes envolviam a família real: a direita representando Nashido e a esquerda Tristan LeBrás, da extinta casa Brás.
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Wallace e Zahirah se aproximavam de mãos dadas, aliviando a tensão em apertos firmes e dolorosos. Estavam agora completamente conectados, seus corações pulsavam em sincronia e, por alguns segundos, a balbúrdia cessou na partilha de uma mansidão interna. Eles se olharam, em seguida para o rei no centro do palanque. A coroa cravejada repousava acima de seus fios azulados como o oceano, suas pálpebras lutavam para não se fechar e sua postura irregular praticamente deitava-o sobre o assento; talvez cansaço, talvez desprezo.
O grupo de adolescentes plebeus estava encostado na parede leste da arena, ao lado do vão de entrada e atrás do Capitão da Guarda Real, que certificava sua postura pacífica. Na parede oeste estavam cerca de 13 outros jovens, estes, por outro lado, vestiam malhas de coloração anil e carmim, sobrepostas por peles de urso polar e abaixo de armaduras de aço Khaliano.
Eram filhos de lordes, da família real ou mestiços burgueses; há 15 anos atrás ainda era proibido membros da família real se alistarem para a Guarda, já que por lei era negado-lhes terem esposas, terras ou herdeiros. No entanto, desde a Guerra dos Primogênitos, quando a família Littoria tomou o trono, essa lei tornou-se obsoleta.
O anunciante levantou-se da última cadeira no palanque e caminhou até a beira, deslumbrando toda a extensão da plateia. Seu manto branco de seda descia até as canelas, preso por uma corda grossa amarrada na cintura. Segurava um papel de papiro mais espesso que o tecido que lhe cobria, mas talvez não mais pesado que os anéis que circulavam seus dedos magros e calejados. Imediatamente todos se calaram.