Acordou sem vontade de despertar. Levou alguns minutos para abrir seus olhos pesados. Suspirou algumas vezes buscando a coragem pra ficar em pé. Sentou-se na cama pra decidir se levantava ou continuava deitado. Lembrou das contas, do filho da esposa e do cachorro, todos dependiam dele. Foi forçado a se levantar pela sua própria consciência.
Chegou ao trabalho se lamentando por estar ali. Perdeu o interesse, não satisfazia e muito menos motivava. Era como um castigo que sugava todo seu sangue: um vampiro, ou talvez uma sanguessuga que tirava sua vontade de viver todos os dias. Sem perspectiva de melhoras Claudio fez o seu trabalho.
Ao chegar a sua casa, passou a mão na cabeça do cachorro que o recebeu feliz abanando seu rabo. Esforçou-se pra dar um meio sorriso à esposa e um beijo no filho, que mal olhou em sua face ocupado demais com o vídeo game.
Tentou se distrair tomando uma cerveja enquanto sua esposa fazia o jantar e começou a conversar:
— Claudio, eu preciso comprar uma máquina de lavar nova, o secador de cabelo queimou e eu preciso ir ao cabeleireiro na quarta.
A cerveja desceu rasgando a garganta apertada com tantas cobranças. O filho apareceu com seu celular na mão e resmungou:
— Pai meu celular não esta funcionando, acho que queimou.
Claudio se levantou da cadeira sem dizer nada e se jogou na cama, fechou os olhos, só desejava alguns minutos de paz.
— Claudio eu já falei pra não deitar na cama sem tomar banho, — ralhou a esposa.
— Pai me leva no shopping daqui a pouco, eu vou precisar de dinheiro.
A cabeça de Claudio começou a girar, o cachorro lambeu sua face, ele foi o único que percebeu, até que: Claudio desmaiou.
Acordou no hospital com sua família preocupada, seu filho de um lado e a esposa de outro.
— Claudio nós te amamos, desculpa por tudo — sussurrou a esposa e continuou, — acho que eu tenho te cobrado demais. Existem coisas mais importantes na vida e uma delas é você.
— Papai eu não quero celular eu quero você, — confessou o filho abraçando.
Claudio se sentiu o homem mais feliz e sortudo pela família que tinha. Resolveu dar uma basta. Tomaria coragem e finalmente abriria um negócio que sonhava há anos. Contou a esposa sua decisão. Mudaria para o litoral onde abriria uma barraca de água de coco á beira mar. Usaria bermuda e chinelo e apreciaria a paisagem todos os dias.
— O que? — questionou a esposa, desmaiando ali mesmo.
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Risos e Sarcasmos
Short StoryColetânea de contos divertidos e sarcásticos na medida certa.