Conto 19 : Fronteira

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Dizem que o amor é impossível quando há fronteiras. Não que houvesse muros, ou distancia plausível de impedimento, e sim duas culturas bem parecidas e um casal cabeça dura, de nacionalidades distintas. Os países cresciam praticamente juntos, mas separados, como água e óleo. Assim éramos eu e Manuel.

Manuel é português e eu sou espanhola. Sempre tivemos divergências culturais, é claro. Nada que não nos rendessem boas risadas. Namoramos, noivamos e o que parecia um empecilho banal para muitos, para nós tornou-se um problema.

Com o casamento marcado escolhíamos a nossa casa. Eu gostaria de morar na Espanha, e ter filhos espanhóis, e Manuel queria morar em Portugal e ter filhos portugueses. Sem entrar num acordo terminamos o relacionamento.

Eu como a boa espanhola que sou, chorava alto e me expressava lamentando o fim do noivado. Manuel era carregado todos os dias pelos amigos, depois que afogava suas magoas num bar qualquer. Nossas famílias em polvorosa decidida a resolver a situação procuraram uma imobiliária. O corretor questionado pelos familiares, respondeu:

— Tenho o lugar perfeito para o casal: uma casa de divisa. Quando esta na cozinha esta na Espanha e quando vai pra sala esta em Portugal, o quarto fica na metade certinha da divisa territorial, — explicou sorrindo e completou — uma fronteira bem estreita para um casal apaixonado.

Ao terminar de explicar o corretor foi surpreendido por um abraço coletivo da nossa família, que poderia enfim comemorar o casamento e a paz. Bom ao menos por enquanto.

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