Dia 389

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Dia 389 desde que a Pandemia começou.

Eu havia começado em um grupo. Todos sabiam como lidar com os "infectados". Ou pelo menos achavam.

Os Infectados.

É como os que sobraram de nós os chamamos agora. Eles não têm controle algum de sua capacidade cognitiva. Só querem comer. Só servem para comer. Para nos comer. Muitos deles são ágeis, mais difíceis de fugir, de se livrar mesmo, mas existem aqueles que de nada precisa fazer porque ou estão presos a alguma coisa e muito burros para sair ou estão desmembrados de alguma forma se tornando difícil a locomoção.

No início estava aflita, desesperada. Não a nada que façam com que eles parem. Com que eles "desliguem". Pelo menos era o que nós pensávamos no início. Eu e meu grupo. Tudo começou a dar errado quando um de nós foi mordido. Foi infectado. Não havia o que fazer. Lembro-me de cada detalhe, sensação. Dario era o líder do nosso grupo, o que mais tinha experiência em combate e com essas coisas ambulantes. Se ele foi infectado, como iríamos ficar?

Como iríamos sobreviver?

O primeiro estágio, a negação, foi triste. Pessoas que precisavam dele para se manterem vivos entraram em certo estágio mental de reza, oração para salvar a alma de Dario, o qual claramente estava passando pela transformação aos poucos. Se você está por fora, ter visto tudo isso, no mínimo, traz o sentimento de pena à tona.

Pena dos outros, não do Dario.

O segundo estágio, a raiva, não demorou muito para dar início. Pessoas irritadas. Ensandecidas umas com as outras. Se culpando, culpando o Dario. E eu só fiquei ali, parada, observando cada estágio e comentando com futuro Infectado, o qual estava preso a uma árvore por precaução. Sempre nos demos bem, eu e ele. Sua morte foi a que mais me chocou até agora e talvez tenha sido a razão de eu ter desistido de seguir em frente.

Sei que mais de um ano sobrevivendo não é sinônimo de desistência, mas chega uma hora que tudo que eu quero é paz.

Saltar a cada segundo por ouvir um barulho ínfimo, como o de uma madeira estalando é uma paranoia que eu não desejo a ninguém.

Eu imagino que você deve estar se perguntando como foram os outros estágios... Bom, digamos que não deu tempo, pois Dário já havia virado um deles e eu já estava bem longe daquele lugar.

Em um momento como esse, viver sozinha é a melhor opção. Não confiar em ninguém, como dizem. Vá para o interior, menos Infectados. Assim você conseguirá sobreviver.

Mentira.

Eles estão em todo o lugar, não importa onde ou como ou com quem você está. Eles irão te achar, assim como me acharam.

Estou em presa em uma pequena loja de roupas de uma cidadezinha perto de Cascavel. Portas de vidros sendo sufocadas por eles. Não irão aguentar muito tempo e eu estou sem munição.

Minha morte já estava prevista. Não aguento mais.

Sinto muito por isso, Dario.

O vidro aqui está rachando e logo serei uma como você.

Aos que encontrarem essa carta, eu digo que no meio desse tempo achei uma forma de desligá-los.

A cabeça.

Sempre acertem a cabeça.

Até,

Lorena.

𝕮𝖔𝖓𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖆 𝕸𝖊𝖎𝖆-𝕹𝖔𝖎𝖙𝖊Onde histórias criam vida. Descubra agora