Xeque-Mate

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O dia estava ensolarado.

Já se faziam dias com esse fenômeno e não era algo que causava desconforto. John gostava disso, de como a brisa suave massageava as folhas das árvores perto de sua mesa. O barulho de tal ato era equivalente ao caloroso abraço, pois o mesmo o trazia paz.

Para um homem que em toda a sua vida teve como companheiro o caos, a paz não parecia ser uma péssima escolha. Mas não o entendam mal, o caos e John se tornaram grandes amigos porque seus ensinamentos foram considerados divinos durante os anos.

Ah, o tempo!

Como uma criança travessa, ele deixava sua marca e, como toda família, ninguém estava imune às suas brincadeiras. Como uma criança, ele nos ensina, da forma mais pura, o que viver significa e como isso vai além da simples existência.

Isso era algo que fazia falta para o homem: o tempo. Tudo passou tão rápido assim como uma criança que virou adulta, abandonando a pureza que tanto prezava e trazendo consigo marcas incorrigíveis.

Marcas que para alguns são sinônimos de sofrimento, tristeza, amargura, para John, o ensinaram o verdadeiro valor da vida.

– Sua vez! – Riu a criança em sua frente de forma doce. Com cabelos negros e olhos castanhos, John se recordava de si mesmo.

– Acho que você tem razão! – Riu em resposta.

Ao analisar o tabuleiro em sua frente, sabia que de todas as vezes que jogaram, pela primeira vez, a criança estava ganhando. Sorriu orgulhoso do seu pequeno aprendiz.

Colocando uma mão em seu rosto, fingindo pensar no próximo passo, John suspira e empurra um dos peões para um dos quadrados em sua diagonal.

Pela primeira vez, o homem estava cansado de ganhar. Contudo, é relativo o significado da palavra em questão.

– Xeque-mate! – Gritou a criança em pura alegria. John riu de sua reação. – Como você pode entregar o jogo assim!?

– Quem disse que eu entreguei?

– Oras, você sabia o que fazer! – Gargalhou o menino.

– Sabia, e foi por isso que fiz.

John sabia que deveria perder. Estava na hora. Assim como a criança em sua frente, o tempo havia sorrido para John. E ele sabia que era pela última vez.

Sem titubear, a criança saltou da cadeira de mármore e ao encarar John, lhe estendeu a mão amigavelmente. O homem não pensou muito.

Com certa dificuldade para se levantar, John pegou a mão macia do menino e o seguiu para o fim do enorme jardim.

– Acho que assim como eu, você sabe o que fazer, não? – Perguntou John ao menino, que o devolveu com um sorriso.

Não se recorda de como foi sua passagem, mas a luz que vinha de sua frente era, exatamente como a brisa e as folhas: um caloroso abraço.

Abraço do qual ele nunca iria esquecer.

𝕮𝖔𝖓𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖆 𝕸𝖊𝖎𝖆-𝕹𝖔𝖎𝖙𝖊Onde histórias criam vida. Descubra agora