Hugo não correu. Queria usar o tempo do trajeto até em casa para chorar de tamanho ódio que estava sentindo por Pedro e por Victor. Ainda sentia o olhar de Victor encarando suas costas. Não queria olhar para trás. Não queria quer Victor visse que ele estava acabado. Há tempos ele sustentava um comportamento frio para não demonstrar fraqueza e não era por aquilo que ele iria desfalcar a imagem.
— Hugo, volta! — Chamou Victor. — Eu achei que era você. Vocês tinham acabado de ser clonados, ou divididos, sei lá!
— Não tenta desfazer a merda que tu fez!
Hugo parou inconscientemente. Ele queria dar socos na própria cara por fazer aquilo.
— Isso já faz mais de quatro meses, Hugo! Naquela época nem mesmo vocês sabiam se diferenciar entre si! — Hugo escutou os passos de Victor se aproximando, mas não se virou. — Não fica assim. Era isso que ele queria. Te desestabilizar!
— Se foi sem querer por quê nenhum de vocês me contou? O clima não ia ficar tão estranho se vocês tivessem me falado! Mas claro que não! Vocês ficaram quantas vezes depois disso?
— Nenhuma! Tá maluco?! — Exclamou Victor fazendo Hugo se virar. — Isso foi no dia da invasão do IPEC! E só! Um único beijo! Quando ele foi me buscar. O clima até ficou estranho entre a gente e eu fiquei evitando ele na casa de Henrique!
— Então por que não me falou? — Berrou Hugo e fez eco na rua. — Eu não tô assim por causa de um beijo idiota! Eu tô assim porque entre os gêmeos ele era o que eu era mais próximo! O que eu esperava que me ajudasse a enterrar um corpo! Mas sabe o que aconteceu? Ele esperou que eu enterrasse um pra mostrar que ele é um desgraçado traíra!
— Então por quê tá gritando comigo?
— Porquê eu confiei em você pra tudo! Tudo! Mas eu tô vendo que você não pensa assim. Porque nem uma merda idiota que tu fez tu me contou!
— Agora você tá jogando uma carta que você também errou, porque eu só fiquei sabendo sobre Alex, sobre a invasão do IPEC e de outras coisas na última hora! — Uma lágrima surgiu no olho de Victor. — As vezes tu faz parecer que porque eu não tenho poderes significa que eu não preciso ficar por dentro do que acontece contigo!
Hugo não conseguia pensar em outra coisa. Fizera com Victor o que mais odiou que tivessem feito com ele um dia. Não confiou nele. Achou que confiava, mas não confiou. O pior é que ele sabia exatamente como Victor estava se sentindo naquele momento. Descartável. Insignificante. Inútil.
— Desculpa. Desculpa! — Limpou as lágrimas do rosto. Porra! Quantas vezes ele chorara nos últimos dias? — Eu só não queria te meter nisso. Minha mãe já tá muito envolvida. Meu maior medo era que Caio, vó e você se envolvessem também.
— Eu já tô envolvido, Hugo! Eu tô completamente envolvido nisso tudo e só você não enxerga! Clara pediu minha cabeça! Isso não é estar envolvido? E sabe porque eu vou ficar até o final? Porque você tá aqui comigo! Sabe porque eu pedi pra entrar na Liga?
Hugo estranhou a pergunta. Achou meio fora de contexto.
— Porquê?
— Porque eu te amo! — Escutar um "eu te amo" era estranho aos ouvidos de Hugo. — Porque eu morro de medo de acontecer algo de ruim contigo! Quando a equipe de Jacó quase matou Davy, Olímpio e tu, eu senti. Quando Clara te deu um tiro eu senti!
— E porque só tá me falando isso agora?
— Porquê eu não quero que Clara, nem Pedro, nem ninguém acabe com nós dois! — Victor pegou a mão de Hugo. — Vamos. A gente ainda tem até seis da manhã pra ver filmes.
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Rádio (em processo de revisão)
FantasiUm garoto de 16 anos é exposto à uma explosão, que ao invés de lhe matar, lhe dá poderes radioativos. Agora, após a cidade passar a receber ataques de mutantes constantemente, Hugo e os amigos precisam proteger as pessoas ao seu redor.