Capítulo 9

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BRUNNA

Hoje faz exatamente três semanas do pior dia da minha vida. O dia o qual eu pensei que seria violentada por três homens, e que me fez sentir tanto medo, que muito do que eu tinha por objetivo se esvaiu. Não consigo mais me concentrar nas aulas como antes, é claro que consigo entender as matérias, mas toda a vez que aquelas cenas vêem a minha cabeça eu não consigo mais focar em nada.

Nem mesmo consegui contar aos meus pais, ou denunciar os infratores a universidade, eu não quero ter que repetir essa história pra mais ninguém, ter que reviver tudo que passei, e que ainda dói muito. Nunca pensei que alguém cuidaria de mim como ela tem feito, achei que somente meus pais me olhariam com tanto sentimento, embora eu não consiga ainda compreender qual sentimentos ela nutre por mim, mas eu os sinto.

Algumas das muitas certezas que tinha, estão se mostrando inconsistentes. Semanas atrás seria improvável alguém ficar a menos de um metro de mim, espaços pessoais deveriam ser respeitados, embora eu ainda pense dessa forma em relação a muitas pessoas, mas não ela. A hora do dia a qual eu mais me sinto bem é quando ela se deita comigo, eu sinto toda a proteção necessária para esquecer o medo que me assombra, seus braços ao redor de mim e seus carinhos, são tudo que eu tenho de mais valioso no momento.

Não saberia dizer ao certo o que estou sentindo em relação a ela, nunca tive acesso a esse tipo de sentimento, me é confuso. Não conversamos muito, ela tem sido exatamente o que preciso, espero não está atrapalhando em nada, pois nao quero que ela me deixe, sinto necessidade da sua presença em minha vida e isso não parece que mudará.

- Bom dia.

- Bom dia, princesa. Dormiu bem?

- Sim e você tem dormido bem?

- Tenho sim. Vamos levantar, vai tomar seu banho pra tomar seu café da manhã sem se atrasar.

- Tá muito frio, acho que prefiro ficar um pouco mais na cama.

- Não tá com fome? Tem certeza?

- Não estou, ontem você me fez comer mais do que estou acostumada.

- Porque você não almoçou, lembra?

- Estava sem fome.

- Mas não pode ficar sem comer.

- Tá

Ela me abraçou apertado, como tem feito todos os dias quando acordamos pela manhã. E quando ela não faz isso, sinto como se faltasse algo de necessário no meu dia, mas compreendo, as vezes ela acorda com uma ereção e sai o mais rápido possível rumo ao banheiro. Embora, na semana passada, acordei antes dela e percebi sua ereção contra mim, ela parecia está sonhando, só não deu pra entender com o que, ela estava gemendo e pressionando seu quadril contra o meu até que senti uma umidade diferente em minhas nádegas.

Em outro dia, acordei durante a madrugada e senti suas mãos ao redor dos meus seios, ela deu um aperto com delicadeza e senti os pelos do meu corpo se arrepiarem. Contando esses dois momentos que não compreendi muito bem, as noites eram iguais, com seus braços me protegendo das más lembranças. Resolvi não indaga-la acerca de ambos os momentos, acredito ser algum tipo de demonstração de afeto.

Aconteceu uma fatalidade com um dos professores da universidade e por conta disso as aulas estarão suspensas por hoje. A Ludmilla não veio me buscar, acredito que ela não esteja presente no campus, vou tentar chegar ao quarto, ela falou que não haveria perigo a esse horário.

Consegui chegar em segurança ao corredor que dá acesso ao meu quarto, acho que estou superando o medo de andar sozinha, só espero que ela não demore de voltar. Ao abrir a porta não consegui me mover, era a Ludmilla com uma garota que eu não conheço, ambas estão nuas, praticando atos sexuais no chão do quarto. Demorou alguns minutos para perceberem a minha presença e se cobrirem as pressas em uma cena bem embaraçosa.

- Princesa, você não pode entrar assim. Por que não está na aula?

- Não haverá aula hoje, houve uma fatalidade com um dos professores.

- Aaa!

- Quem é ela? E por que está aqui em NOSSO QUARTO?

- Essa é a Verônica, uma amiga. Verônica essa é a Brunna, minha colega de quarto.

- Aa, claro! A coleguinha maluca.

- Eu não sou maluca.

- Claro que não, princesa. Verônica você pode ir embora, depois converso com você.

- Mas a gente não vai terminar a nossa brincadeirinha? Vamos pra outro lugar?

- Agora não, amanhã quem sabe.

- Affs, que ótimo. Tchau pra vocês.

Ela colocou metade das roupas, saindo do quarto com uma expressão de raiva e frustração. Não entendi seu olhar em minha direção, mas não acredito ser de boas intenções. A Ludmilla parecia está desconsertada, vestiu suas roupas o mais rápido possível, entrando no banheiro logo em seguida. E eu, não compreendo o que sinto, mas um aperto dominou meu peito, seguido de uma forte vontade de chorar, eu não quero que ela saia amanhã com a Verônica, nem ao menos gostei dela.

Sentei a beira da minha cama, sem saber
o que fazer, mas me senti sozinha, como se tivesse sido abandonada por ela. E a única coisa que consegui fazer foi chorar, mesmo não entendendo os motivos. Ela demorou bastante no banheiro e eu acabei pegando no sono, acho que essa noite irei dormir sozinha na minha cama, sinto que sou capaz disso.

Dormi por quase o dia inteiro, e ainda estou com sono. A Ludmilla parece está fazendo alguma coisa em sua cama, acho que está vendo um filme em seu notebook,  e eu estou faminta pois não comi nada o dia todo.

- Tudo bem, Brunna?

- Sim

- Tem pizza aqui, você deve está morrendo de fome.

- Não quero te incomodar, posso pedir minha própria comida.

- Não há nenhum incomodo, comprei pra a gente mesmo.

Ela levantou, trazendo consigo a caixa com alguns pedaços de pizza de calabresa. Não queria aceitar, mas estou com bastante fome, e sem nenhuma outra opção.

- Dormiu o dia todo, vai ficar sem sono por toda madrugada. Queria conversar com você.

- Sobre qual assunto?

- Sobre o que você viu.

- Não precisa falar sobre isso.

- Claro que sim, queria te pedir desculpas, não foi uma boa opção trazer a Verônica pra cá, deveríamos está em outro lugar, só que achei que você não chegaria aquele horário.

- Esse é o meu quarto, e não teve aula. Pra onde você esperava que eu fosse?

- Eu não sabia que não iria ter aula.

- Se tivesse preocupada com seus estudos, saberia.

- Enfim, me desculpa por tudo. Não vai se repetir.

- Tanto faz.

Ela pareceu se ofender com minhas respostas e preferiu ficar calada, continuando a assistir o filme no notebook. Quando acabei de comer, fui diretamente ao banheiro tomar um banho, não tenho vontade de fazer mais nada hoje, só preciso ficar deitada, ainda sinto o aperto no meu peito.

A colega de quarto.Onde histórias criam vida. Descubra agora