Eu estou caindo.
Estou caindo e caindo sem parar.
O vazio do ar que me abandona enegrece a paisagem cobrindo toda a minha visão periférica, deixando meus olhos perdidos na escuridão e minha boca aberta em um grito sufocado, assim tudo se vai.
Talvez por estar caindo, por estar perdida nesse vazio sem fim, que começo finalmente a me deixar escutar. Escuto cada nota da melodia tocada ao fundo, escuto o som de cada tecla tocada com delicadeza e intimidade, como se a musicista possuísse uma relação profunda com seu instrumento.
A canção é como um feitiço, uma cantiga de ninar, sim, fantasiosa, calma e familiar... a risada flutua na onda da música, uma risada confiante e zombeteira, uma risada de contentamento puro, a risada de alguém que é plena e completamente feliz, alguém que está cheio de alegria e não consegue se expressar tamanho é o seu sentimento.
quem é você... onde...
E então.... eu finalmente caio.
Estou presa no passado.
Meus olhos se abrem lentamente, a letargia deixando meu corpo numa despedida dolorida e súbita.
O ambiente é de uma claridade cegante a princípio, mas toca minhas retinas de forma passiva até tudo se assentar, o ar fresco circula ao redor com pequenas partículas de poeira que brilham como estrelas sob os raios de sol trazidos para dentro da casa.
Onde estou...
Eu estava em casa.
Sim, eu estava segura novamente, eu era mais uma vez apenas um bebê adormecendo aos poucos ao som da melodia amorosa que minha mãe tocava ao piano, sinto-me resistindo ao sono com apenas um fio de força sustentado pela risada animada de meu pai.
É tão bom e real, inocente e genuinamente feliz.
Não agora... não quero que acabe...
A risada de meu pai vacila e minha mãe se interrompe abruptamente no piano, a música morreu sem aviso e meus grandes olhos curiosos se abrem com curiosidade, vencendo a névoa do sono com força inabalável, o som de uma cadeira caindo no chão produz um som ruidoso que faz meu coração se acelerar, sussurros apressados e tensos são trocados entre meus pais e então... o caos...
- NÃO!
Me levanto rápido demais para sentir qualquer coisa de imediato, mas então meu corpo convulsiona em respirações entrecortadas e espasmos deslizam meu corpo da cama para o chão agressivamente, a gravidade me deixa e o tempo desacelera, não posso fazer nada, apenas assistir enquanto meu corpo me trai.
Quando bato no chão, uso as minhas mãos para proteger minha cabeça, e mesmo assim prendo a respiração com a vertigem poderosa que atinge meu corpo antes da dor queimar em meus membros.
Solto o ar de forma sufocada e ignoro a pontada aguda de dor, minha cabeça correndo para registrar os danos no meu corpo machucado.
Sinto minhas pernas e braços, mas está tudo desgastado, funcionando de forma mais lenta e cautelosa, roubo algumas respirações antes de tentar me colocar de pé com esforço, estou tão concentrada que só percebo o toque um segundo mais tarde. Mãos me amparam cuidadosamente, levantando meu corpo para ficar de pé, como se eu fosse uma pena, eu não penso em qualquer agradecimento, pois logo em seguida estou girando e me desvencilhando para longe com um rosnado defensivo.
O cheiro é maçante de tão familiar, todo o meu corpo entra em ação instintivamente.
Vampiro

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Luar Puro
Fanfiction"A escuridão tem sido minha carcereira por quase toda a minha vida, a dor é a única coisa que me lembra o que é estar viva" Ayira foi roubada de sua família quando ainda era apenas um bebê, os Volturi a tem feito seu animal de estimação desde a desc...