- O quê?
O questionamento saiu como um chiado da minha garganta seca, meus olhos se tornaram afiados diante da visão da pequena garota, nós tínhamos praticamente a mesma altura, seus olhos se arregalaram por um instante antes de ela assumir uma expressão neutra novamente.
- Como no conto de fadas, pele branca e cabelos pretos...?
- Não!
Lábios cor de sangue, pele branca como o mármore...sua maldição é ser única
A escuridão, quatro paredes frias de pedra num buraco sem fim, apenas a dor, a dor queimando eterna... o sangue como fogo...a dor queimando...
Não para, não para...não para
Dor e fogo...
O ambiente estranho me engoliu, minha reação é puro instinto e defesa, desencadeando uma série de acontecimentos simultâneos, eu me agacho em posição de ataque, um chiado crescendo no meu peito. A casa explode em viva, movimento vibrando por todos os lados, rápido e alerta, e então não estamos mais as sós no cômodo. Dois deles entram no quarto como cães farejando perigo, me encolho no instante que sinto seus cheiros, tão semelhantes aos dos meus captores, aquele almíscar que diferenciava eles de todo o mundo, uma fragrância criada para seduzir e para morrer.
- Está tudo bem?
Meu olhar agudo deixa o rosto surpreso da garota para encontrar o olhar preocupado do garoto com voz urgente, seu cabelo cor de cobre reflete luzes castanhas e ruivas numa dança contra a luz invasora do dia, sua juventude mais aguda do que a da garota, os dois trocam um olhar que transmite mais do que palavras ditas podem demonstrar, é quase como se eles possuíssem uma conexão profunda. Seus olhos podiam estar presos aos dela, mas isso não impedia que seus outros sentidos prestassem atenção em mim.
A sensação aguda de ser vigiada queima em minha pele como a sensação de um tapa recente. Ele me vigia como se eu fosse um tipo de monstro violento prestes a atacar, meu coração se encolhe com a realização.
E não é sempre assim?! Um monstro sempre reconhece o outro.
- Sim, está tudo bem, ela só está assustada- ela me olha novamente - Não vamos machucar você, fique calma, nós a encontramos ferida perto da nossa casa...
- Não estaria ferida se o vampiro não tivesse me atacado.
Minha voz soa rouca e granulada, a petulância vem de forma desnecessária diante da minha posição vulnerável, já podia sentir a sede espreitando, mas ignoro, o cheiro atrai minha atenção de volta para os três vampiros no cômodo. O vampiro que me atacou antes está a minha esquerda, ele parece uma montanha escura e selvagem, encaro ele com desconfiança ameaçadora e recebo um olhar afiado de volta.
- Não teria atacado se não estivesse espreitando ao nosso redor.
- Não sou uma ameaça.
Ser julgada era a ultima coisa que eu esperava, a indignação amarga em minha boca, mas já é tarde demais para começar uma apresentação sutil e tranquilizadora, eu só precisava acabar com isso e fugir.
- Emmett pare!
A garota parecia impaciente, seu olhar reprovador em direção à montanha negra, ele revira os olhos e para de me encarar para prestar atenção no outro garoto.
- O que nós devemos fazer então, sentarmo-nos para tomar chá com o inimigo?
Ele é arrogante, fico surpresa com a forma com que ele brinca sobre a situação, agora eu não era mais apenas mais uma criança assustada, mas também uma inimiga ameaçadora.
- Ele é só uma menina!
A garota protesta em indignação, seu olhar se dirigindo para os seus semelhantes numa confusão de sentimentos.
- Não, ela não é uma menina, ela é um maldito lobo bagunçado Bella!
Eu ignoro a voz irritada da montanha negra chamada Emmett e sinto algo flutuar sobre minha mente.
Bella... Bella... Isabella... Bella...
Meu mundo congela, quando fixo meus olhos na garota, finalmente a enxergo de verdade, e poso ver quem ela é.
Meu medo constante me cegou, me impedindo de ver realmente quem ela é... quem ela me lembra, a semelhança obvia desde a forma pura e boa de olhar, aos traços suaves e quase infantis, como seu longo cabelo castanho ondulado, os seus olhos cor de chocolate.
A filha uma copia exótica da mãe.
Eu não poderia estar mais surpresa com os sinais, ao que tudo indicava eu poderia acreditar no que estava a minha frente, eu tinha a achado.
Eu estava finalmente em segurança.
- Bella...
Meu corpo treme de emoção, a mais pura e desestabilizadora onda de esperança, minhas pernas cedem sobre meu peso, meus olhos ardem, quando a primeira lágrima finalmente escapa, um soluço quebrado interrompe o suspiro de alivio que rasga do fundo do meu peito.
Salva... segura...
Bella olha para mim.
Para a criança quebrada que eu sou, ignorando qualquer tipo de cautela, ela vem em minha direção e se ajoelha ao meu lado, seus braços amparando o abandono do meu corpo com carinho.
- Sim, este é meu nome, o que posso fazer por você?
Sua expressão está tão aflita, quase como se ela estivesse desesperada para me ajudar... é tão bom, o fluxo de lágrimas se derrama, me encolho e abraço os joelhos com força para conter os soluços intermináveis.
Eu estive correndo por tanto tempo, fugindo dos meus monstros, morrendo cada vez mais diante do meu desespero e da falta de esperança constante que revelava o quão amaldiçoada minha vida tem sido até este momento, nunca antes algo assim pode ser desejado por minha alma torturada... encontrar a salvação. Talvez afinal existisse um futuro bom, um futuro onde eu encontrasse um lar feliz, onde eu pudesse curar todas as minhas feridas internas. Seria como nos contos de fadas, eu era a princesa arrancada de sua felicidade, que depois de tanto tormenta finalmente luta pela sua felicidade e encontra a paz em um lugar ao qual pertence.
Essas pessoas poderiam me ajudar, assim como as pessoas boas prometeram, assim como meus pais desejavam.
- Me diga o seu nome...
Olho para seus olhos e só encontro paciência e bondade, meu olhar desliza para a montanha negra, aquele que chamam Emmett, que agora parece mais humano do que monstro, uma batalha acontecendo em sua expressão, sobrancelhas franzidas quase com pena enquanto assiste minha libertação, a boca uma linha fina de frieza, sobrando apenas o outro garoto, que ainda parece apenas cauteloso, uma expressão de confiança e atenção profunda.
Eu sinto os tentáculos cintilantes rastejarem na minha mente, eu não olho novamente para Bella, mantenho meu olhar borrado sobre o garoto, com determinação de aço.
- Meu nome é Ayira, eu fui mandada até aqui por Renesmee.

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Luar Puro
Fiksi Penggemar"A escuridão tem sido minha carcereira por quase toda a minha vida, a dor é a única coisa que me lembra o que é estar viva" Ayira foi roubada de sua família quando ainda era apenas um bebê, os Volturi a tem feito seu animal de estimação desde a desc...