Caçada

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Não posso alegar que não tenha sido feliz antes, por que eu fui, por um breve e fugaz momento eu tive ela em minhas mãos, mas então fui roubada, da minha vida, do meu verdadeiro destino, sendo jogada num vazio de incerteza e perdição.

Depois de contar minha história aos Cullen, tudo que eu podia sentir era essa enchente de se derramando sobre minha mente, me fazendo escorrer para o precipício até minha queda, o peso que me arrastava para baixo diminuiu, mas não sumiu para sempre.

Foi difícil ter que relembrar minha quase morte novamente...

Como eu tinha ficado por dias sem comer, alimentando a fome com o desespero e então provocando Jane infinitas vezes até estar tão imersa na dor que não conseguia mais saber quem eu era... ou quando me transformei, o animal emergindo em um frenesi, atacando todos que chegavam perto, até o momento em que o ataquei.

Choque, traição, dor, raiva...

Foi o que Alec sentiu, foi assim que ele perdeu seu controle.

Depois de tudo o que fiz, eu a mantive viva...

Eu não precisava viver, precisava me libertar.

Por isso eu o fiz, com sua névoa negra me cegando, o animal enlouquecido começou a se mutilar, enquanto me rasgava através da bruma escarlate, podia sentir pele e sangue em meus caninos afiados, podia sentir cada vez que a pele se rompia... mas estava cega, surda e muda.

Eu não sentia dor.

Quando a escuridão veio eu abracei, achando que finalmente tinha acabado.

Tão ingênua eu fui.

Assim que recobrei a consciência pude sentir a agitação a minha volta, mas eu não era mais a mesma, apenas uma capa de quem fora antes. Seus frios braços de pedra me seguravam, mesmo o seu cuidado era forte demais para meu corpo frágil e incurável.

Estava debilitada, tinha esgotado todas as forças, suspensa apenas por um fio, e sabia que chegar a essa condição me custaria algo, mas também sabia que se para fugir do controle dos Volturi me custasse um preço então eu o tomaria sem medir as consequências. Minhas feridas não podiam ser curadas por eles, seu conhecimento sobre a minha raça se estendiam apenas aquilo que eu mesma sabia, tão pouco, a única alternativa era me tirar dali, se expondo a humanidade, mas eles não se arriscaram.

No entanto, tinha alguém que se arriscaria, ele estava tão cego por me ter, ele sim arriscaria tudo para me salvar... e ele o fez.

Seu desespero foi tanto que o obrigou a se expor a humana residente do castelo, revelando o segredo mais bem guardado dos Volturi: eu. A preocupação de um ser humano para comigo me fez sentir algo que nunca nos meus sonhos mais febris achei que poderia experimentar.

Empatia.

Então quando Alec me depositou em uma mesa, fiquei com medo da facilidade com que tudo aconteceu.

A resposta era sempre a morte para eles, não era?

Como sempre, foi preciso apenas um movimento rápido e brusco e o pescoço frágil da humana se partiu, levando sua vida para o nada, provocando um surto terrível de dor no fundo da minha alma. A crueza da cena, fazendo meu corpo queimar em injustiça, cada pico de dor aumentando, adrenalina impulsionada pela raiva me fez levantar e correr.

Não temi que Alec fosse mais rapido que eu, ou me dei ao trabalho em pensar na sua terrível névoa negra... eu não temi a morte, só agarrei a mão estendida do destino e corri o mais rápido que podia na direção da única janela no recinto. Não senti o impacto, só o som do vidro se estilhaçando enquanto eu mergulhava num mar de luz quente e pulsante que me cegou imediatamente.

Luar PuroOnde histórias criam vida. Descubra agora